sexta-feira, outubro 24

O Nosso Homem na América - Na Bagagem


Comprei-o no Aeroporto de San Francisco, há cerca de três meses, por mero impulso, mas convencido de que estaria a embarcar em mais uma aquisição para a secção de pendentes eternos da minha modesta biblioteca.
O título, "The Political Brain", bem como o subtítulo, "The role of emotion in deciding the fate of the nation", eram sugestivos, mas o autor, Drew Westen, não me dizia absolutamente nada (ouço alguém dizer, e com razão, "se lesses o The Huffington Post com mais atenção!") e as habituais recomendações da contra-capa, embora incluissem nomes tão distintos como os de Bill Clinton e de Howard Dean, pareceram-me tratar-se de fretes editoriais de encomenda.
Enganei-me a 200%. Tive na estante um livro fundamental para quem gosta de política, de estratégia partidária e de campanhas eleitorais, e quase que o tomava por um qualquer exercício presunçoso de aridez académica. Já se revelou de grande utilidade e faz parte - juntamente com 17 maços de SG Gigante - da bagagem essencial da minha aventura eleitoral nos States.
O autor, Westen, é afinal doutorado em Psicologia e Psiquiatria, com especialização em Psicologia Política, e habitual comentador do programa de actualidade política de Dan Rather, "Dan Rather Reports", além de ser colaborador residente do fundamental blog democrata "The Huffington Post".
Drew Westen argumenta que os sucessos do Partido Republicano nos últimos 40 anos se devem sobretudo ao facto de considerar primordialmente a mensagem política como emocional, ao passo que os Democratas permanecem agarrados a um discurso demasiado racional, demasiado explicativo e argumentativo, e completamente afastado dos mecanismos de formação do sentido de voto.
Para o autor, o cérebro político não é, ao contrário do que pensavam os positivistas, desapaixonado e racional, formando a sua decisão com base na ponderação equilibrada dos dados e dos números. É antes um cérebro emocional, que decide com base em histórias, narrativas e percepções. Como tal, o sentido de voto é sobretudo resultado de um processo de identificação e de associação, e não o produto aritmético de uma determinada soma de factos, números e estatísticas.
Daí o exemplo de Bill Clinton como a excepção que confirma a regra. Os Republicanos dominaram a política americana nos últimos 40 anos porque estabeleceram laços emocionais muito fortes com o eleitorado, porque deram aos americanos uma ideia muito clara da América que queriam, do projecto de futuro que tinham para o país. Por oposição, os Democratas gastaram quatro décadas a estudar o sistema de Saúde e o Estado Social e esqueceram-se que era imprescindível dizer aos americanos, de forma clara e apaixonada, o que os diferenciava do inimigo. Quando o conseguiram fazer - com Clinton principalmente - ganharam; sempre que o evitaram, perderam
Eu diria que é também por isso que se arriscam a ganhar no próximo dia 4 de Novembro. Obama é a política-emoção por excelência. Como dotado orador que é, transforma qualquer discurso em imagens apelativas e coerentes de esperança, de mudança e de futuro, e isso, para a mente política é tudo o que há de mais poderoso na hora de decidir. Até a raça deixou de ser importante, porque as associações e a percepção colectiva sobre a figura e a mensagem de Obama se tornaram mais fortes do que os dados físicos. A duas semanas das eleições, ele deixou de ser o primeiro afro-americano a concorrer à Presidência dos Estados Unidos. Ele é o rosto da mudança, a cara da esperança (ao passo que McCain é a reencarnação de Bush). Tão só.

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