quinta-feira, outubro 16

Democracia de rendimento mínimo


Provavelmente a abstenção vencerá estas eleições Legislativas de 2008 nos Açores. A vitória da abstenção, em qualquer circunstância, é sempre uma derrota da Democracia. Mais ainda: é a derrota da cidadania que resulta do cepticismo individual perante o pressuposto fatalismo colectivo dos poderes instituídos. Perante esta rendição do indivíduo não podemos, com seriedade, falar de Democracia livre e esclarecida. "Claro que a influência de um indivíduo sobre as decisões da sociedade será provavelmente ínfima. Mas, potencialmente, todos temos algo a dizer, se não através do voto, então dando a conhecer as nossas opiniões através do debate e da discussão, quer na arena pública quer de forma "subterrânea". Aqueles que preferem não participar verão as decisões políticas serem tomadas por si, quer gostem delas quer não." (1) . Uma sociedade com esta apatia pelo debate, esta tendência para a irresponsabilidade da abstenção, esta anemia de participação cívica, é uma sociedade com uma Democracia de rendimento mínimo. Mas, chegamos a este triste patamar com um partido que tem governado a região infiltrando-se transversalmente na "sociedade civil" Açoriana. Com a sedução do Poder o PS tem recrutado "talentos" desde a extrema-esquerda até ao conservadorismo das "jovens promessas" da direita Açoriana. Pelo caminho ainda arrebata uns despojos do PSD e faz a corte a velhos separatistas agora rendidos aos ímpetos autonomistas do PS, - (outrora renegados quando a Autonomia se fazia sem fundos comunitários ou "discriminações positivas" de Lisboa) -, mas hoje mais ajuramentados do que nunca! Para o Povo fica a imagem impressionista de que afinal todos se congregam sob o mesmo Governo. Logo, votar nestas circunstâncias para o Parlamento é apenas o pretexto formal para justificar o plebiscito do Governo e do respectivo Presidente do Governo Regional dos Açores. Sinais desse "pró-forma" eleitoral estão aí bem estigmatizados numa campanha sem debate de ideias, sem sondagens e, aparentemente, sem diferenças. Contudo, ao contrário do que pretende o partido do Governo e da situação, não somos todos iguais. Poderemos ainda ser apenas indivíduos mas, mesmo nas democracias de rendimento mínimo, os indivíduos terão sempre potencialmente o poder de buscar a alternativa possível.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com
(1) Wolff Jonathan – Introdução à Filosofia Política – Ed. Gradiva
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Post-scriptum : Vi e ouvi o "debate" para as Eleições Regionais de 2008 e registei a absoluta omissão de uma palavra sequer sobre EDUCAÇÃO e sobre AMBIENTE. Fala-se do imediato, e do voto à boca da urna, mas do futuro sustentável ninguém quer falar. Sem os pilares da EDUCAÇÃO e do AMBIENTE, numa Região com as características dos Açores, regredimos e seguimos em contramão ao progresso que tanto gostamos que nos visite, de preferência por um dia e, já agora, em escala de cruzeiro, para que não se vislumbre o deficit ambiental e educacional dos Açores.

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