sexta-feira, março 31
Cavaco esse grande descentralizador
Um post à maneira de Guilherme Marinho
Excertos do discurso do Sr. Presidente na tomada de posse dos Representantes da República, os destaques são meus.
...A designação dos Representantes da República pertence, nos termos da Constituição, ao Presidente da República, ouvido o Governo. Trata-se, por conseguinte, de um poder próprio e de uma escolha pessoal do Presidente da República. Por isso, terei sempre presente que a lealdade em relação aos Representantes da República é também lealdade em relação a quem os designou.
A decisão, tomada pelos constituintes de 2004, de atribuir a iniciativa da escolha dos Representantes da República ao mais alto magistrado da Nação e ao principal garante da unidade do Estado possui um sentido político e jurídico inequívoco.
Com tal opção, os autores da Lei Constitucional nº 1/2004 quiseram marcar claramente a ideia de que a representação da soberania da República nas regiões autónomas é uma das mais nobres e exigentes funções do Estado português.
Excertos do discurso do Sr. Presidente na tomada de posse dos Representantes da República, os destaques são meus.
tuguices
o país que inventou as tascas, já para não falar das roulottes, fica subitamente em pânico com o chinês lá da rua.
A importância da Literatura
Comemorou-se no passado dia 21 de Março o dia mundial da Poesia. Na maior parte das vezes estas celebrações servem apenas para marcar estes dias na monotonia do calendário, com colóquios, com conferências, com vários tipos de eventos mais ou menos mediáticos. No dia seguinte muda-se de dia. A propósito desta efeméride interessa-me falar de literatura. Recentemente o Governo Regional anunciou a recuperação de um imóvel em Ponta Delgada para aí criar a Casa Armando Cortes-Rodrigues que funcionará como memória dos escritores açorianos. É uma importante e justa iniciativa que talvez peque por ser tardia. Porém e mesmo não se sabendo ainda qual o programa, o orçamento e os objectivos concretos da actividade desta instituição importa fazer uma ressalva, a Literatura tem que ser entendida como algo vivo, excitante e actual. Não pode ser apenas memória, ou continuaremos a correr o risco de cair mais uma vez naquilo a que alguém já chamou da "Teoria do Pó". A Literatura é o registo metafórico da nossa vivência e por isso dever ser, também, contemporânea. Já mereceu amplo destaque, aqui no Artes & Noticias, a revista Magma, revista de literatura editada pela Câmara Municipal das Lajes do Pico. Em boa verdade este é um projecto que merece o nosso elogio, tanto pelas suas qualidades formais, o cuidado gráfico, como pelos seus conteúdos, a abrangência e talento dos seus colaboradores onde pontuam, entre outros, nomes como Alberto Pimenta, Fernando Pinto do Amaral, Carlos Bessa, Urbano Bettencourt ou Mário Cabral. Mas merece elogio também, por um outro aspecto, talvez não tão visível mas de igual importância. A Magma é uma revista que projecta o nome das Lajes do Pico no mundo da língua portuguesa, e por arrasto projecta o nome dos Açores. Tomemos como exemplo a cidade da Póvoa do Varzim onde se realiza um evento denominado Correntes De Escritas, um encontro de escritores de expressão ibérica, um evento que ao longo dos anos tem projectado o nome dessa cidade pelo mundo. Talvez este possa ser um bom programa para a casa dos escritores açorianos. Ou, porque não, a criação de um prémio literário anual, que tome o nome de um dos grandes vultos açorianos da língua portuguesa, Antero, Nemésio, Natália, e que projecte a literatura feita no arquipélago para lá das fronteiras do mar. A literatura mais do que uma forma de conhecimento pode e deve ser uma forma de aproximação.
crónica para o Artes & Noticias da RTP-A, para o SARL do Jornal dos Açores e, também, aqui no :ILHAS
crónica para o Artes & Noticias da RTP-A, para o SARL do Jornal dos Açores e, também, aqui no :ILHAS
quinta-feira, março 30
vida de cão
A Graciosa perfila-se na agenda mediática nacional/regional pelas piores razões. No potencial recôndito da ilha escondem-se os medos e a bestialidade dos homens - não será a pacatez e a bondade das gentes capaz de ultrapassar esta solução consensualmente hedionda!? Qual é a posição da sociedade civil da ilha? O Presidente da Câmara de Santa Cruz representa a opinião de toda a população!? A nostalgia apossa-me a alma quando sinto a Graciosa.
o jogo semana
Em Ponta Delgada estreou, finalmente, Match Point de Woody Allen. O podcast da menina Scarlett. Quem disse que o Sr. perdeu o toque!?...
+ 1 vítima
O encontro das Furnas fez mais um vítima
http://imperioencarnado.blogspot.com/
o único problema é ser vermelho!!!!
http://imperioencarnado.blogspot.com/
o único problema é ser vermelho!!!!
A euforia do nameing
Que vivemos numa sociedade de consumo já todos sabemos. Que as regras do marketing se tornaram hegemónicas forçando-nos a viver numa tirania de marcas, estratégias comerciais e de esquemas publicitários, também já todos sabemos. Mas recentemente essa ditadura passou dos produtos para as campanhas eleitorais e agora para a própria governação. Hoje as medidas governamentais têm que ter campanhas de lançamento e nomes mais ou menos sonantes. Já nem vou falar no Simplex, ou no RIAC e que me perdoe o Sr. Presidente do Governo Regional e os seus Secretários mas porque razão é que até uma coisa tão descomplicada como uma comissão para o problema dos repatriados tem que ter um nome como Comissão Permanente para a Problemática dos Regressados. Estamos com medo de quê? Das palavras? Para citar esses grandes filósofos do Portugal contemporâneo chamados Gatos Fedorentos andamos todos com um grave problema de loucuring.
quarta-feira, março 29
À propos de Michael Nyman
À propos de Nice (1929) de Jean Vigo
Já tinha dito que sou duro de ouvido.
Mas hoje saí do Teatro Micaelense com eles, o direito e o esquerdo, bem mais educados. Um excelente concerto onde Nyman para além de tocar algumas das suas mais conhecidas obras para cinema (Wonderland , Gattaca, The Diary of Anne Frank, The Claim e The Piano) presenteou o público com três bandas sonoras, acompanhadas da respectiva projecção, para os filmes mudos East End (2005) de Phil Maxwell e Hazuan Hashim, a abrir o concerto, Manhatta (1921) de Paul Strand e Charles Sheeler e a encerrar, o momento alto da noite, a banda sonora para o, também excelente, documentário À propos de Nice (1929) de Jean Vigo. 85 minutos de puro prazer audio e visual.
Obrigado Michael Nyman.
.
.
ADEUS Português
...
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
...
ALEXANDRE O ' NEILL
...
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
...
ALEXANDRE O ' NEILL
...
2ª Geração
No último fim-de-semana a pacata freguesia das Furnas fervilhou de actividade com eventos para todos os gostos. Infelizmente do mais importante de todos pouco ou nada se falou, um encontro da Opus Dei, o que só demonstra a mestria da organização em manter-se de facto secreta, mesmo eu que por lá andei nos três dias só me apercebi do evento por de quando em vez ver passar pelos corredores do Hotel Terra Nostra um ou outro padre de batina e ar ligeiramente ratzingeriano. Mas adiante. Talvez seja por influência de Deus, ou da vulcanologia, não sei, mas a verdade que é que todos os acontecimentos deste fim-de-semana nas Furnas deram direito a grande rebuliço mediático. Prometo que não vou falar mais da psicanálise dos blogues, o que me interessa falar é das declarações do Presidente do Governo Regional na cerimónia de adjudicação de mais uma empreitada de não sei quantos metros de estrada. No requintado ambiente do Casino das Furnas, Carlos César, no seu habitual estilo irónico/enigmático dissertou sobre uma 2ª Geração de políticas. Essas declarações caíram nos órgãos de comunicação social como uma bomba de hidrogénio. César anuncia mudanças. Ninguém sabe que mudanças são essas, mas todos vibramos só de imaginar que mudanças serão, e anda tudo a especular sobre o assunto. A mim, há uma ou duas coisas que me apetece dizer sobre o assunto. Primeiro que tudo isto cheira a fogo-fátuo mediático, é um pouco como aquelas grandes conferências do Bill Gates a anunciar uma nova versão do Windows, muito show off, muito face lifting gráfico e depois vamos a ver e no fundo o software é tão complicado e pouco fiável do que o seu antecessor. A segunda é que espero sinceramente que Carlos César perceba que, por vezes, para mudar efectivamente de políticas é preciso mudar de políticos, é que ao fim de dez anos há, manifestamente, alguns membros deste governo, em vários níveis e em vários cargos, que já atingiram, digamos, o limite do seu período geracional. Mas se calhar o melhor é eu esperar sentado.
terça-feira, março 28
trabalhar de graça
Anda por aí uma polémica por causa dos três rapazes do Fala Quem Sabe e das suas dificuldades financeiras às mãos da RTP-A. Antes de mais deixem que vos diga que não sou particularmente admirador nem desse programa nem do da Tia Maria, aliás já comentei com gente responsável que há ali bastante potencial e talento de actor que está a ser desaproveitado e destruído por causa de maus guiões e maus textos. E é uma pena porque hoje em dia até há alguns rapazes em Lisboa, que até são açorianos, e que são guionistas profissionais do humor. Mas aqui é que a porca torce o rabo, é que eles são profissionais, vivem disso, não trabalham de graça. Esse, no meu entender, é que é o grande problema. Nos Açores ainda trabalhamos de graça ou quase de graça e há espertalhões, alguns, que se aproveitam disso, tanto de um lado como do outro. O problema está nessa exploração indevida do trabalho dos outros, nesta dependência, quase medieval, da troca de géneros, de favores ou de privilégios. Como é que se compreende e aceita sem pestanejar que quase 90% da opinião publicada nos pasquins regionais seja gratuita, a troco de exposição pública ou, mais grave, de dividendos políticos. Estamos a falar de trabalho intelectual que tem que ser pago e bem pago. O grande problema é que enquanto houver, à bicha, uma lista de pessoas dispostas a escrever de graça para jornais, revistas, rádios e televisões, a situação nunca vai mudar. O gosto pela escrita e o prazer de opinar devem ser remunerados. Se calhar os Fala Quem Sabe nunca deviam ter aceite trabalhar sem compensação financeira.
afinal havia outra
É gira e mostra ser complementar. Afinal...na net...sempre há vida para além dos Blogs!
segunda-feira, março 27
Estive três dias nas Furnas com pessoas que não conhecia e gostei.
Parece que isto do retiro de bloggers nas Furnas está dar azo a um grande sururo de conversas (já para não falar da crónica do meu amigo João Nuno que está aqui em baixo...) sobre a importância e a autenticidade e os propósitos escondidos e o tanas, daquilo tudo. Eu sei que se calhar há coisas que mais vale ficarem a apodrecer na despensa exígua do neurónio esquerdo e que é estúpido eu estar agora aqui a falar nisso, mas como um dos problemas (e um dos temas que nós discutimos) foi o blogoarquipélago e a sua relação com a blogoesfera, cá vai uma das minhas conclusões sobre o que se passou este fim-de-semana: os blogues feitos nos Açores ou feitos por pessoas dos Açores estão condenados a ser açorianos, com tudo o que isso carrega de limitação geográfica e de regionalismo bacoco e de bairrismo, excepção feita para o Milton que vive no mundo da críptica tecnologia e até faz posts em inglês (já agora, obrigado Milton pelo Planeta Açores e como eu te invejo por não fazer também pots em inglês). Nós todos, no blogoarquipélago, não passamos de um bando de ilhéus neurasténicos convencidos da nossa superioridade moral, intelectual, política e sei lá mais o quê, tão convencidos que não queremos saber de mais nada e de mais ninguém e nem sequer queremos saber que há não sei quantas almas por esse mundo fora que se dão ao trabalho de ligar o computador, ligar a net, aceder a umas quantas páginas (sei lá: jornais, sites interessantes, sites porreiros, coisas infinitamente especificas e tão difíceis de encontrar que até na net são esquivas e porno, é claro que no meio há pornografia, pelo menos nos gajos há pornografia) e depois vêem o :ILHAS, o foguetabraze e por aí a fora da mesma maneira que alguns de nós se dão ao trabalho de ler blogues escritos em Lisboa, ou em Coimbra, ou em Londres, Nova Iorque ou no Rio de Janeiro. Mas aparentemente isso não nos interessa nada. Aparentemente só muito poucos de nós se aperceberam que os blogues podem e devem ser uma forma de aproximação e de conhecimento global. Este blogue (e éramos todos os cinco que estávamos metidos nisto meus amigos) organizou, produziu, um encontro, meeting, gathering, reencontre, (é assim que se escreve reencontre? Se não for digam qualquer coisa, obrigado) get together de bloggers. Uma coisa de três dias no Hotel Terra Nostra, curtir o parque, a piscina, cozido, relaxe e por aí a fora e coiso e tal e descanso e parece que de repente isso se tornou mais grave que a invasão do Bush no Iraque, que a eleição do Morales na Colômbia, que o CPE em França ou o facto do Koeman dar todas as semanas o beneficio da dúvida ao Beto. De repente 20 almas nas furnas são um drama manhoso do tamanho do inexistente aperto de mão do soares ao cavaco. Para que conste: o encontro de bloggers que teve lugar no belíssimo Hotel Terra Nostra nos dias 24, 25 e 26 de Março não foi político, não foi ideológico, não quis ser intelectual, não pretendeu resolver os grandes problemas da humanidade nem encontrar um desígnio para o futuro do país; a escolha dos convidados foi feita apenas com base na importância relativa (medida por mim) dos respectivos blogues no panorama da blogoesfera nacional e com o limitadíssimo critério do pouquíssimo dinheiro disponível para realizar um evento deste género. Mas acima de tudo o Encontro teve o perfil que teve porque nunca, mas nunca na vida, me passaria pela cabeça participar num encontro de blogues açorianos, não há pachorra para açorianos (pronto já disse) e já agora diga-se que não há pachorra para blogues açorianos da mesma maneira que não há pachorra para blogues do Barreiro ou da Baixa da Banheira ou de Freixo de Espada à Cinta ou do raio que o parta, qualquer blogue que seja de um determinado sítio é um blogue estúpido, com a excepção que confirma a regra do A Causa Foi Modificada, que é da Charneca da Caparica e é o melhor blogue deste infeliz país. Onde é que eu ia? Ah, ok. A todos/as as cabeças que questionam as intenções os propósitos e os convidados e a forma e a estrutura de uma coisa tão simples como um fim-de-semana no Hotel das Furnas com umas quantas pessoas com mais ou menos notoriedade pública neste mísero universo da língua portuguesa mal escrita, mal dita, mal lida (eu incluído, eu à cabeça) dos blogues portugueses, a todas essas pessoas eu digo isto: os blogues, o mundo, só fazem sentido se soubermos encontrar no outro, no que está para lá de nós e que é diferente de nós, um ponto de aproximação. Uma ferramenta tão Universal como os blogues ficar limitada a fronteiras geográficas ou de mera afinidade clubística é, para mim, um enorme absurdo. O Encontro que promovemos foi, tal como este blogue sempre quis ser, sem agenda, plural, eclético, anárquico, desgovernado, inoportuno, impetuoso, às vezes intempestivo, quase sempre com vontade de ser simpático, amigo do seu amigo, para alguns interessante, para uns inadmissível, para outros deslocado, mas acima de tudo verdadeiro, heterogéneo e preocupado em ser do mundo. Só assim é que faz sentido, pelo menos para mim.
...Feira de vaidades ?
...
...
O «Encontro de Bloggers» do passado fim-de-semana, numa iniciativa coordenada pela Muu-Produções (Alexandre Pascoal, Victor Marques e Pedro Arruda) congregou a confraria dos suspeitos do costume, porquanto, apesar da crescente abertura ao Admirável Mundo Novo blogoesférico, ainda persistem algumas resistências ao convívio entre internautas entrincheirados em campos ideologicamente opostos. Nada que cause espanto numa sociedade desabituada à dissenção e ao contraditório e que teima em desembaraçar-se das areias movediças do pensamento único.
Como se sabe, desde cedo, as clivagens blogoesféricas vieram demonstrar que as ideologias não morreram, porém também mostraram, a quem quis ver, que é possível conviver com hostes acantonadas sob diversas bandeiras. Ademais, arrumar a blogoesfera entre partisans de Esquerda e fasci de Direita é sobremaneira redutor, mas é quanto basta a uma moral de pacotilha que se satisfaz com a lógica securitária dos rótulos. Contudo, nem toda a Esquerda é proletária, assim como nem toda a Direita é redneck! Seja como for, felizmente, a vida não se esgota na política e a blogoesfera também não escapa a esta realidade.
Mas a pulsão da escrita tem actualmente no Blogger uma plataforma comunicacional privilegiada. Ainda assim, há quem teime em recusar visitar a blogoesfera por aprioristicamente entender que esta é uma feira de vaidades! Por certo os procuradores de tão preconceituosa acusação são da estirpe pouco dada às liberdades individuais, tendo assim dificuldade em aceitar a radical liberdade que se respira na blogoesfera.
Mas afinal o que é que nos faz correr? Além da estafada resposta que passa pelo cliché da "cidadania participativa" e do "direito à indignação", julgo que a resposta deverá ser recolhida de um poço com motivações ainda mais atávicas e profundas. A visceral vontade de escrever, potenciada hoje pelo Blogger enquanto plataforma livre e gratuita, tem uma motivação que foi magistralmente condensada por George Orwell num tempo em que ainda não havia sequer internet. O celebérrimo Orwell, num ensaio que se desenrolava sob a interrogação "Why I Write", concluiu que, descontada a motivação da sobrevivência, qualquer escriba, independentemente da atmosfera da sua época, é condicionado a escrever por quatro razões preponderantes: "puro egoísmo", "entusiasmo estético", "impulso histórico", e finalmente mas não menos relevante, "motivação política". Referia o mestre, eventualmente, num juízo de auto psicanálise, que a escrita derivava primacialmente do "desejo de parecer mais esperto do que os demais, de se ser comentado, relembrado após a morte, e de exercer pura vingança sobre os mais velhos que nos tinham desprezado na juventude"... and so on. Mas, esta comezinha motivação humana não é exclusiva de quem escreve, pois é amplamente partilhada com cientistas, políticos, artistas, advogados, empresários e demais "biodiversidade" humana. Seria então a escrita impulsionada pelo "entusiasmo estético" ? Claro que sim, pois além da dimensão utilitária do que se escreve, há sempre uma vontade, subliminar ou não, de que a prosa seja agradavelmente superior ao ponto de agarrar o leitor, sob pena de o mesmo nos trocar pelas "Páginas Amarelas". Quanto ao "impulso histórico" numa linha Orwell resolvia a mesma com a constatação de que, de um modo geral, o que se escreve é um reflexo do tempo que se vive que fica assim conservado para a posteridade. Finalmente, para Orwell o mais importante era a "motivação política". Esta, contudo, não se esgotava na política de campanário, feita na sombra do adro das capelinhas que apenas servem para prestar culto aos reles interesses da vidinha quotidiana. Não. Aqui a "motivação política" deverá ser lida na sua maior amplitude possível, desde logo, como encruzilhada na demanda de empurrar o Mundo numa determinada direcção em que se acredita, fazendo uso da escrita para, em alteridade, congregarmos companheiros para uma causa comum.
A perspectiva Orwelliana ajuda a sistematizar motivações difusas mas deixa na sombra uma outra realidade. Com efeito, é possível dedicar algum tempo à escrita, blogoesférica ou de outra natureza, por puro divertimento e em homenagem a outros valores humanamente relevantes como o humor, a ironia, o sarcasmo, a sátira, a crítica de costumes, e até a brejeirice. Haverá por certo muito "velho do Restelo" que desdenhará de tão comezinhas motivações, mas não é menos certo que as mesmas estão no sangue da condição humana. Esta mesma condição humana obriga-nos ao convívio em sociedade, pelo que, existindo interesses comuns inevitavelmente os fóruns de debate e comunicação surgem naturalmente, sendo disso exemplo o "Encontro de Bloggers" do passado fim-de-semana.
Na verdade, o "meeting" informal das Furnas foi essencialmente um retiro de "bloggers" que, pela dimensão da circunstância insular, inevitavelmente são conhecidos uns dos outros. Ainda assim, houve espaço para servirmos de anfitriões a outros "bloggers" que apesar de falarem a mesma língua de Camões fazem-no com sotaque substancialmente diferente. Sem querer aparentar um chauvinismo primário não posso contudo esconder a minha decepção com algum deslumbre e endeusamento com personalidades da metrópole que até confessaram ignorar em absoluto a realidade blogoesférica dos Açores! Julgo que numa próxima edição o painel de convidados da Muu-Produções deverá ser calibrado com valores regionais, como por exemplo Dionísio de Sousa ou Manuel Melo Bento, numa salutar miscigenação com as estrelas blogoesféricas do continente ou até mesmo da nossa diáspora. Seja como for a blogoesfera vai andar por aí...quer seja uma feira de vaidades ou um mercado de ideias. Eu cá por mim continuo a preferir ir ao mercado.
...
JNAS na Edição de 28 de Março do Jornal dos Açores
...
O «Encontro de Bloggers» do passado fim-de-semana, numa iniciativa coordenada pela Muu-Produções (Alexandre Pascoal, Victor Marques e Pedro Arruda) congregou a confraria dos suspeitos do costume, porquanto, apesar da crescente abertura ao Admirável Mundo Novo blogoesférico, ainda persistem algumas resistências ao convívio entre internautas entrincheirados em campos ideologicamente opostos. Nada que cause espanto numa sociedade desabituada à dissenção e ao contraditório e que teima em desembaraçar-se das areias movediças do pensamento único.
Como se sabe, desde cedo, as clivagens blogoesféricas vieram demonstrar que as ideologias não morreram, porém também mostraram, a quem quis ver, que é possível conviver com hostes acantonadas sob diversas bandeiras. Ademais, arrumar a blogoesfera entre partisans de Esquerda e fasci de Direita é sobremaneira redutor, mas é quanto basta a uma moral de pacotilha que se satisfaz com a lógica securitária dos rótulos. Contudo, nem toda a Esquerda é proletária, assim como nem toda a Direita é redneck! Seja como for, felizmente, a vida não se esgota na política e a blogoesfera também não escapa a esta realidade.
Mas a pulsão da escrita tem actualmente no Blogger uma plataforma comunicacional privilegiada. Ainda assim, há quem teime em recusar visitar a blogoesfera por aprioristicamente entender que esta é uma feira de vaidades! Por certo os procuradores de tão preconceituosa acusação são da estirpe pouco dada às liberdades individuais, tendo assim dificuldade em aceitar a radical liberdade que se respira na blogoesfera.
Mas afinal o que é que nos faz correr? Além da estafada resposta que passa pelo cliché da "cidadania participativa" e do "direito à indignação", julgo que a resposta deverá ser recolhida de um poço com motivações ainda mais atávicas e profundas. A visceral vontade de escrever, potenciada hoje pelo Blogger enquanto plataforma livre e gratuita, tem uma motivação que foi magistralmente condensada por George Orwell num tempo em que ainda não havia sequer internet. O celebérrimo Orwell, num ensaio que se desenrolava sob a interrogação "Why I Write", concluiu que, descontada a motivação da sobrevivência, qualquer escriba, independentemente da atmosfera da sua época, é condicionado a escrever por quatro razões preponderantes: "puro egoísmo", "entusiasmo estético", "impulso histórico", e finalmente mas não menos relevante, "motivação política". Referia o mestre, eventualmente, num juízo de auto psicanálise, que a escrita derivava primacialmente do "desejo de parecer mais esperto do que os demais, de se ser comentado, relembrado após a morte, e de exercer pura vingança sobre os mais velhos que nos tinham desprezado na juventude"... and so on. Mas, esta comezinha motivação humana não é exclusiva de quem escreve, pois é amplamente partilhada com cientistas, políticos, artistas, advogados, empresários e demais "biodiversidade" humana. Seria então a escrita impulsionada pelo "entusiasmo estético" ? Claro que sim, pois além da dimensão utilitária do que se escreve, há sempre uma vontade, subliminar ou não, de que a prosa seja agradavelmente superior ao ponto de agarrar o leitor, sob pena de o mesmo nos trocar pelas "Páginas Amarelas". Quanto ao "impulso histórico" numa linha Orwell resolvia a mesma com a constatação de que, de um modo geral, o que se escreve é um reflexo do tempo que se vive que fica assim conservado para a posteridade. Finalmente, para Orwell o mais importante era a "motivação política". Esta, contudo, não se esgotava na política de campanário, feita na sombra do adro das capelinhas que apenas servem para prestar culto aos reles interesses da vidinha quotidiana. Não. Aqui a "motivação política" deverá ser lida na sua maior amplitude possível, desde logo, como encruzilhada na demanda de empurrar o Mundo numa determinada direcção em que se acredita, fazendo uso da escrita para, em alteridade, congregarmos companheiros para uma causa comum.
A perspectiva Orwelliana ajuda a sistematizar motivações difusas mas deixa na sombra uma outra realidade. Com efeito, é possível dedicar algum tempo à escrita, blogoesférica ou de outra natureza, por puro divertimento e em homenagem a outros valores humanamente relevantes como o humor, a ironia, o sarcasmo, a sátira, a crítica de costumes, e até a brejeirice. Haverá por certo muito "velho do Restelo" que desdenhará de tão comezinhas motivações, mas não é menos certo que as mesmas estão no sangue da condição humana. Esta mesma condição humana obriga-nos ao convívio em sociedade, pelo que, existindo interesses comuns inevitavelmente os fóruns de debate e comunicação surgem naturalmente, sendo disso exemplo o "Encontro de Bloggers" do passado fim-de-semana.
Na verdade, o "meeting" informal das Furnas foi essencialmente um retiro de "bloggers" que, pela dimensão da circunstância insular, inevitavelmente são conhecidos uns dos outros. Ainda assim, houve espaço para servirmos de anfitriões a outros "bloggers" que apesar de falarem a mesma língua de Camões fazem-no com sotaque substancialmente diferente. Sem querer aparentar um chauvinismo primário não posso contudo esconder a minha decepção com algum deslumbre e endeusamento com personalidades da metrópole que até confessaram ignorar em absoluto a realidade blogoesférica dos Açores! Julgo que numa próxima edição o painel de convidados da Muu-Produções deverá ser calibrado com valores regionais, como por exemplo Dionísio de Sousa ou Manuel Melo Bento, numa salutar miscigenação com as estrelas blogoesféricas do continente ou até mesmo da nossa diáspora. Seja como for a blogoesfera vai andar por aí...quer seja uma feira de vaidades ou um mercado de ideias. Eu cá por mim continuo a preferir ir ao mercado.
...
JNAS na Edição de 28 de Março do Jornal dos Açores
depois dos bloggers, das Furnas, do descanso e das conversas
Obviamente que não é normal, dentro do que a normalidade tem de normal, chegar a casa depois de três dias nas Furnas a conviver com blogues e vir blogar. Mas assumo que foi a primeira coisa que eu fiz. Onze da noite, ligar o computador e ir ler blogues. Matar o vício, espreitar os meus blogues, sim porque os blogues que eu leio são também meus, a ver se havia posts novos. E depois, claro, a necessidade imperiosa de postar. Toda esta ideia de um Encontro de Bloggers nasce de uma coisa muito simples, o prazer da partilha e da discussão de ideias. E o único intuito era fazer isso num ambiente propício à reflexão e ao sossego, à reclusão (ao mesmo tempo, no mesmo hotel, decorria um encontro da Opus Dei...) e ao salutar bom gosto próprio do vale das Furnas. A nossa intenção era propiciar, de uma forma muito descomplexada e informal, o encontro entre pessoas diferentes, com vidas diferentes e com esse universo dos blogues em comum. Acredito que esse objectivo foi conseguido. Pelo menos para mim foi, foram três dias extremamente agradáveis, absolutamente fantásticos do ponto de vista humano e profundamente estimulantes intelectualmente. Descobrimo-nos uns aos outros, brincamos uns com os outros, desfrutamos de todo o conjunto e, nem que seja só por isso, o encontro resultou em pleno. Do que se conversou deixo para mais tarde um balanço, principalmente porque como já disse o Nuno, a conversa passeou à volta de muitas coisas e de uma forma muito abrangente. Para já deixo aqui o meu agradecimento pessoal, e sem qualquer ordem, ao Carlos Rodrigues e ao Hotel Terra Nostra, ao Paulo Querido e à Ana Roque, ao Pedro Lomba, ao Nuno Barata, ao Pedro Mexia, ao Ivan Nunes, ao José Medeiros Ferreira, ao Mário Roberto, ao Rodrigo de Sá, ao André Bradford, ao Rui Lucas, ao Nuno Mendes, ao Rui Coutinho, ao João Pacheco de Melo, ao Litos, ao Rui Goulart, à Carla Dias, a todos os acompanhantes, aos :ILHAS e à nossa futura gaja-preta-lésbica-com-uma-ligeira-deficiência-e-imigrante colega de blogue e, last but not least, aos patrocinadores e apoiantes deste evento: Hotel Terra Nostra, Globaleda, SATA, DRT, RTP, RDP, Açoriano Oriental, TVNET e Anfíbios. Thanks a todos e até para o ano.
domingo, março 26
Tarquínio ao Panteão
Antero Tarquínio do Quental nasceu e morreu em Ponta Delgada. Isso toda a gente sabe. Que os pais lhe tenham posto o sobrenome de Tarquínio, é que já é menos conhecido, mesmo entre o pessoal da pesada. Não sei o que é que terá passado pela cabeça do morgado Fernando Quental quando escolheu o nome desse rei Etrusco para o filho, mas ele lá deveria ter uma fisgada qualquer. Ao folhear o Chambers Biographical Dictionary em demanda do Tarquínio original, tropecei noutra inesperada dúvida. É que havia dois Tarquínios: o Lucius Tarquinius Priscus e o Lucius Tarquinius Superbus. Ambos foram reis de Roma, mas o ultimo deixou má fama à pala do filho, Sextus Tarquinius, ter violado Lucretia, uma matrona cujo nome, só por si, tresanda a coisas lúbricas e que inspirou a Shakespeare a peça de teatro, The Rape of Lucrece. Enfim, creio não ser temerário presumir que Fernando Quental se queria reportar ao Tarquínio politicamente correcto, até porque o pai de Antero tinha fama de tipo pacato e habilidoso de mãos, muito dado à nobre arte da marcenaria e da encadernação.
Antero nunca ligou muito aos Açores, pelo menos literariamente. Da sua extensa bibliografia, um dos poucos textos de intervenção cívica açoriana que se lhe conhecem é a Necessidade de uma Doca na Ilha de S. Miguel, publicado anonimamente no jornal Revolução de Setembro quando ainda era um caloiro de 19 anos em Coimbra. Cá no burgo, foi depois transcrito nas páginas do Correio Micaelense, nº 776 de 16 de Abril de 1861, para quem possa estar interessado. Como anota Ernesto do Canto em pé de página no Arquivo dos Açores, foi das poucas ocasiões em que advogou os interesses da sua pátria. Pode parecer estranho, mas a pátria insular dava-se então ao luxo de prescindir dos seus serviços e emprestá-lo à nação. Como se veio a provar mais tarde, com as Conferências do Casino e a Geração de 70, o país estava deserto, deserto, desertinho para o aproveitar. Depois do coccus hesperidum, uma praga danada que devastou os laranjais de São Miguel, esta terra dedicou-se à exportação de intelectuais. Teófilo Braga foi outro e ? aqui entre nós que ninguém nos ouve ? ainda bem, porque o tipo era um chato, para não dizer outra coisa. E se a este nome juntarmos os de José e Manuel de Arriaga, ambos saídos da velha família faialense dos Brum da Silveira, temos completa a tríade do republicanismo português que, para o melhor e para o pior, marcou grande parte da nossa contemporaneidade e imaginário nacional. Sabe-vos a pouco? É que ainda sobra António José de Ávila, o tristemente célebre Duque de Ávila e Bolama, várias vezes ministro e Presidente do Conselho de Ministros, mas que entrou na memória colectiva por ter ordenado o encerramento das Conferências do Casino em 1871, ou então Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, também ele várias vezes Presidente do Conselho, o hierático casaca de ferro que esteve ao leme da nação nas vagas tormentosas do naufrágio da monarquia constitucional.
É muita fruta, convenhamos. Se bem me lembro, o Miguel Esteves Cardoso deu por isso e publicou no Independente uma elegia aos Açores em que afirmava serem as ilhas a região do país com o maior PIB per capita. Por PIB, referia-se a Produto Intelectual Bruto. O Dr. Mota Amaral não podia ter ficado mais encantado. Mandou emoldurar o texto e pendurou-o na parede do Palácio da Conceição. Não sei se ainda lá está, nem me interessa. Assim, pendurado, não lhe vejo qualquer préstimo. Talvez o novo inquilino do Palácio que, aliás, já conhece bem os cantos à casa, esteja disposto a assumir uma atitude mais pró activa a respeito destas coisas da cultura que, como Francisco Lucas Pires teve um dia a honestidade de dizer, são os brincos do poder. Recentemente, Carlos César tomou a iniciativa de trasladar as ossadas de Manuel de Arriaga para o Panteão Nacional. Se me perguntarem a opinião, eu respondo que os restos mortais de José de Arriaga também o deviam ter acompanhado. Sem ofensa ao mano Manuel, mas ter sido o 1º Presidente da República parece-me um critério demasiado institucionalista. Dito isto, aplaudo a iniciativa, mas não descanso enquanto não vir Antero no Panteão. Alguém me explica a diferença, para melhor, entre Teófilo e Antero?
É que o Teófilo também já lá mora, desde 1924. Aliás, nem sequer descansa em S. Vicente de Fora, mas sim no Mosteiro dos Jerónimos, a Abadia de Westminster portuguesa, onde estão sepultados os grandes heróis cívicos da literatura portuguesa (Luís de Camões, Alexandre Herculano, Almeida Garrett e, mais recentemente, Fernando Pessoa), excepção feita a Sidónio Pais e ao próprio Teófilo Braga, claro, mas, como todos sabemos, a 1ª República foi muito dada a disparates. Ora, se há alguém que tem uma espécie de direito natural a estar nesse Panteão oficioso da nacionalidade, esse alguém é André Tarquínio do Quental, que ainda hoje repousa no cemitério de São Joaquim em Ponta Delgada. Por sinal, logo na primeira campa à esquerda de quem entra. Muito conveniente, dirão alguns. Será por isso que ele ainda lá está? Ou porque deu dois tiros pela boca acima, junto ao Convento da Esperança? Agostinho da Silva costumava dizer, naquelas piruetas filológicas em que era pródigo, Antero não se suicidou, foi suicidado.
Nós, que o suicidámos, não deveríamos ter o dever moral de o panteonizar?
Nós outros, açorianos, que emprestámos à nação tanto republicano, não deveríamos ter a obrigação moral ? e o direito cívico ? de sermos Capital Nacional da Cultura em 2010?
Este fim-de-semana, nas Furnas, discutiu-se muito a policromia dos blogues. Foi um Encontro de Druidas bastante agradável. Cá por mim, saí de lá convencido que o blogue é, ou deveria ser, uma arma.
TARQUÍNIO AO PANTEÃO, JÁ!
sábado, março 25
temas em conversa
A Origem dos Blogues. O Que é um Blogue? A Blogoesfera. O Blogoarquipélago. A Forma Vs O Contéudo. Blogues com Agenda. Blogues Instrumento. Os Comentários. Os Blogues levam-se demasiado a sério? Criar um movimento - literário, político, filosófico, cívico - a partir da Blogoesfera? A Participação Femenina nos Blogues. O Vício dos Blogues. O dia-a-dia do Blogger. Influência dos Blogues para lá da comunidade Blogger. A relação das crianças e dos adolescentes com os Blogues. O Blogue como tabloide. O Ego do Blogger. Intimidade Vs exposição pública. Os Blogues e a Comunicação Social. As Relações dos Blogues com a Política, a Arte, o Desporto. Os Templates e a linguagem HTML. As Ideologias nos Blogues. Blogues temáticos. Blogues Clubisticos. Blogues Individuais. Blogues Colectivos. A Evolução da Blogoesfera. Normas da Blogoesfera. O Perfil do Blogger. Os Blogues e a opinião pública. Pacheco Pereira e a Blogoesfera. Estilos de Bloggers. Blogues em círculo fechado Vs Blogues em círculo aberto. Blogues de denúncia. ERC e a Blogoesfera. A Importância de se chamar Ernesto - os Blogues e os seus nomes. Os Anónimos. Os Livros dos Blogues. A Universalidade dos Blogues. A Tradução. A Morte dos Blogues.
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sexta-feira, março 24
Vox Populi
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MADONNA de EDVARD MUNCH
1894-95 - Oil on canvas - National Gallery - Oslo
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«Há qualquer coisa de imoral, quando se joga às OPA na estratosfera e cá em baixo os portugueses comuns vivem com a corda ao pescoço, sem dinheiro e cheios de dívidas.».
Paulo Gaião, sexta-feira 17 de Março no Semanário.
«Na comissão de inquérito ao caso Eurominas coube a Ricardo Rodrigues a tarefa de impedir o apuramento da verdade. Como coordenador designado pela maioria, foi o açoriano que teve de justificar durante dois meses o porquê de travar audições importantes, vetar o pedido de documentação essencial, e até de impor um relator com conclusões à medida dos interesses dos interessados.».
Sobe e Desce do Público, Sábado 18 de Março.
«Na Terceira cultiva-se o subsídio, o apoio, o desenrasca e a atitude espertalhão. Quanto mais espertalhão se for, melhor. A sociedade até vai aplaudir de pé, esquecendo-se, porém, que este espécime humano mina toda a economia e impede que os mais capazes e empreendedores singrem e tenham um papel mais activo nos desígnios locais. Contrariamente ao que se diz, e ao que se pretende vender, os empresários e os trabalhadores terceirenses não pensam só em festas e touradas, mas pensam só neles.».
Paulo Ribeiro, quarta-feira 22 de Março no Dos Ilhéus.
«Mota Amaral que sabe muito (mas não sabe tudo), antecipou-se na polémica do polícia da República...No fundo, o que está em causa é saber que precedência se há-de dar ao procurador de Cavaco Silva na procissão do Senhor Santo Cristo, caso ele ponha aqui os pés no Domingo do Senhor.»
Carlos Melo Bento, quarta-feira 22 Março no Açoriano Oriental
«Freitas do Amaral atribui subsídio de 16 Mil Euros à Fundação Mário Soares no início de Outubro, mas a verba só apareceu em Diário da República depois das eleições presidenciais. MNE justifica ajuda financeira com o «volume de realizações internacionais». Em quatro anos, Soares já recebeu quase 900 Mil Euros do Estado.».
1ª Página do Independente de sexta-feira 24 de Março.
«A cultura é uma plataforma fundamental para combater a exclusão, é uma plataforma fundamental para o desenvolvimento local.».
Padre Duarte Melo em entrevista ao Açoriano Oriental de quinta-feira 23 de Março.
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Ámen...para a semana há mais.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
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MADONNA de EDVARD MUNCH
1894-95 - Oil on canvas - National Gallery - Oslo
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«Há qualquer coisa de imoral, quando se joga às OPA na estratosfera e cá em baixo os portugueses comuns vivem com a corda ao pescoço, sem dinheiro e cheios de dívidas.».
Paulo Gaião, sexta-feira 17 de Março no Semanário.
«Na comissão de inquérito ao caso Eurominas coube a Ricardo Rodrigues a tarefa de impedir o apuramento da verdade. Como coordenador designado pela maioria, foi o açoriano que teve de justificar durante dois meses o porquê de travar audições importantes, vetar o pedido de documentação essencial, e até de impor um relator com conclusões à medida dos interesses dos interessados.».
Sobe e Desce do Público, Sábado 18 de Março.
«Na Terceira cultiva-se o subsídio, o apoio, o desenrasca e a atitude espertalhão. Quanto mais espertalhão se for, melhor. A sociedade até vai aplaudir de pé, esquecendo-se, porém, que este espécime humano mina toda a economia e impede que os mais capazes e empreendedores singrem e tenham um papel mais activo nos desígnios locais. Contrariamente ao que se diz, e ao que se pretende vender, os empresários e os trabalhadores terceirenses não pensam só em festas e touradas, mas pensam só neles.».
Paulo Ribeiro, quarta-feira 22 de Março no Dos Ilhéus.
«Mota Amaral que sabe muito (mas não sabe tudo), antecipou-se na polémica do polícia da República...No fundo, o que está em causa é saber que precedência se há-de dar ao procurador de Cavaco Silva na procissão do Senhor Santo Cristo, caso ele ponha aqui os pés no Domingo do Senhor.»
Carlos Melo Bento, quarta-feira 22 Março no Açoriano Oriental
«Freitas do Amaral atribui subsídio de 16 Mil Euros à Fundação Mário Soares no início de Outubro, mas a verba só apareceu em Diário da República depois das eleições presidenciais. MNE justifica ajuda financeira com o «volume de realizações internacionais». Em quatro anos, Soares já recebeu quase 900 Mil Euros do Estado.».
1ª Página do Independente de sexta-feira 24 de Março.
«A cultura é uma plataforma fundamental para combater a exclusão, é uma plataforma fundamental para o desenvolvimento local.».
Padre Duarte Melo em entrevista ao Açoriano Oriental de quinta-feira 23 de Março.
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Ámen...para a semana há mais.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
Pra manter a onda!!!
Insularidades?
quinta-feira, março 23
In nobis peccatum
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Afinal o enredo da Novela do Padre Melo não era apenas ficção mas sim uma ante-estreia de um filme baseado numa história verídica e em factos reais. Como em tempos se dizia, uma estória da vida real.
Com efeito o cura da Fajã de Cima foi provido no cargo de director do Museu Carlos Machado para dar «corpo a um desígnio eclesial»(Duarte Melo dixit!).Em suma: com espírito de Missão, para não dizer de sacrifício e abnegação, o Padre Duarte Melo aceitou o desafio de liderar o secular Museu de Ponta Delgada. A fazer fé na notícia do Açoriano Oriental, assinada hoje pela Paula Gouveia, o noviciado do Padre Melo está contudo ensombrado com o «burburinho» (sic) que se gerou com a profecia da sua nomeação. Diz o indigitado que tudo foi um «alarido desnecessário», e que no rebanho de nosso Senhor ainda há umas ovelhas tresmalhadas, enfermas de «uma certa miopia de olhar e pouca informação em relação ao papel que a Igreja sempre teve na cultura.». Com efeito para os descrentes nas virtudes do novo Director resta a esperança da redenção, pois um dia deixarão a mácula e as trevas da exclusão. Quem o promete é o próprio vigário que, num lapidar dogma panegírico, anunciou a boa nova: «a cultura é plataforma fundamental para combater a exclusão.». Ámen ! Rogo ao Altíssimo para que juntamente com os seus discípulos faça bom proveito do cargo. Para começar poderia do alto do seu púlpito suplicar ardentemente, algo do género : Vinde a mim Vós que sois os filhos da exclusão cultural. Fazei ouvidos de mercador às vozes dos infiéis, pois esses vivem no pecado do abrenúncio dos novos evangelhos da cultura. Contudo, estou certo que muitos de nós estão já perdidos para essa missão de conversão e permanecerão orgulhosamente pecadores.Cá por mim, nesta matéria, prefiro com galhardia ficar in nobis peccatum...
Afinal o enredo da Novela do Padre Melo não era apenas ficção mas sim uma ante-estreia de um filme baseado numa história verídica e em factos reais. Como em tempos se dizia, uma estória da vida real.
Com efeito o cura da Fajã de Cima foi provido no cargo de director do Museu Carlos Machado para dar «corpo a um desígnio eclesial»(Duarte Melo dixit!).Em suma: com espírito de Missão, para não dizer de sacrifício e abnegação, o Padre Duarte Melo aceitou o desafio de liderar o secular Museu de Ponta Delgada. A fazer fé na notícia do Açoriano Oriental, assinada hoje pela Paula Gouveia, o noviciado do Padre Melo está contudo ensombrado com o «burburinho» (sic) que se gerou com a profecia da sua nomeação. Diz o indigitado que tudo foi um «alarido desnecessário», e que no rebanho de nosso Senhor ainda há umas ovelhas tresmalhadas, enfermas de «uma certa miopia de olhar e pouca informação em relação ao papel que a Igreja sempre teve na cultura.». Com efeito para os descrentes nas virtudes do novo Director resta a esperança da redenção, pois um dia deixarão a mácula e as trevas da exclusão. Quem o promete é o próprio vigário que, num lapidar dogma panegírico, anunciou a boa nova: «a cultura é plataforma fundamental para combater a exclusão.». Ámen ! Rogo ao Altíssimo para que juntamente com os seus discípulos faça bom proveito do cargo. Para começar poderia do alto do seu púlpito suplicar ardentemente, algo do género : Vinde a mim Vós que sois os filhos da exclusão cultural. Fazei ouvidos de mercador às vozes dos infiéis, pois esses vivem no pecado do abrenúncio dos novos evangelhos da cultura. Contudo, estou certo que muitos de nós estão já perdidos para essa missão de conversão e permanecerão orgulhosamente pecadores.Cá por mim, nesta matéria, prefiro com galhardia ficar in nobis peccatum...
Caros Bloggers do "blogoarquipélago"
O :ILHAS em parceria com a MUU - Produções organiza no último fim-de-semana do mês de Março um encontro informal de bloggers no bucólico vale das Furnas, aqui na ilha de São Miguel. A ideia principal é fomentar o conhecimento pessoal e a troca de experiências entre bloggers de diversas proveniências. Sair da esfera do solipsismo virtual para uma convivência pessoal que na maior parte das vezes está afastada da prática dos blogues e para isso nada melhor do que três dias de passeio no parque, bolos lêvedos, banhos na piscina de agua férrea, cozido nas caldeiras, passeios na margem da lagoa e alguma conversa. O encontro está aberto a todos os que nele queiram participar desde bloggers assumidos a bloggers encapuçados passando pelos leitores e pelos comentadores, anónimos ou não. Convidamos para apimentar as conversas alguns bloggers do continente, não só pelo seu reconhecimento público, mas principalmente pela sua experiência e relevância no mundo dos blogues, Ivan Nunes, José Medeiros Ferreira, Paulo Querido, Pedro Lomba e Pedro Mexia. Mas obviamente que para nós o mais importante neste evento é a participação do maior número possível de bloggers da região. O Programa está, de momento, estruturado da seguinte forma: dia 24 - 19h00 Hotel Terra Nostra. Recepção e apresentação aos participantes; dia 25 - 11h00 Sessão 1 - 13h30 almoço - 16h00 Sessão 2; dia 26 - 11h00 Sessão de encerramento. Este evento conta, para já, com a prestimosa colaboração do Hotel Terra Nostra, da ONI/GLOBALEDA e da SATA.
Sorry
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Sabemos hoje que Madonna,a superlativa Diva da Pop foi forçada, pela moral mainstream, a reeditar o vídeo de «Sorry». Na sequela do que já tinha ocorrido com «American Life», cuja primeira versão nunca passou nos ecrãs televisivos,Madonna foi novamente compelida a manipular um vídeo promocional. Desta feita o target foi o clip de «Sorry» que tem o formato final que agora consumimos ad nauseam.
Motivo? Um misterioso gesto obsceno que mereceu a ira dos bosses da editora de Madonna! O dito «obscene gesture» foi, literalmente, considerado impróprio para uma mãe de 47 anos que, quando não anda a cantar, tem que cuidar da criação de dois filhos menores. Ademais, na justificação para o corte do gesto proibido os guardiães da moral WASP ainda aventaram que Madonna tinha mas era idade para ter juízo, pelo que, certas pantomimas não eram compatíveis com um estilo de vida que, além de Diva Pop, acumula nas horas vagas o louvor da Kabbalah e a inspiração para a criação de literatura infantil. Em suma: entenderam os editores que o gesto, and i quote them, era «excessivamente vulgar para o consumo da audiência generalista.».
Atrevo-me a pensar qual terá sido a malandrice que a respeitável Madonna coreografou no vídeo. Com efeito esqueceram-se os censores de que o maior deleite está nas múltiplas fantasias que tentam adivinhar qual era afinal o gesto obsceno? Eles que me perdoem mas não resisto a retribuir-lhes com uma obscenidade vintage da lustrosa Madonna que, nos idos de 1979, não consta que tivesse descendência ou que percebesse uma linha que fosse da Kabbalah. Daí que nesse longínquo ano de 1979, e com 20 primaveras, Madonna deu o corpinho ao manifesto. Assim, da memória desses despudorados anos, em que Madonna era apenas Louise Veronica Ciccone, fica-nos o souvenir deste belo naco de torso feminino.
Obsceno? Etimologicamente obsceno deriva daquilo que entra em cena mas, que de facto, deveria estar atrás do pano, pois não deveria ser visto. O que convenhamos não é o caso do «nu artístico» que ilustra este post. Condescendo que há quem não goste mas para esses apenas me resta lamentar e recomendar que façam zapping para outro canal, de preferência ao som de Madonna...«Je suis désolé, Lo siento ,Ik ben droevig, Sono spiacente, Perdóname...»
quarta-feira, março 22
a notícia do ano
Porn euros being passed off as real
Fake porn euro notes being sold as a gimmick in Germany are being successfully passed off as real cash.
via ANANOVA
terça-feira, março 21
segunda-feira, março 20
Quem tramou a Air Luxor ?
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Era uma vez uma companhia aérea, de seu nome Air Luxor, que certo dia atreveu-se a querer viajar para os Açores. A dita aerotransportadora ingenuamente acreditava nas fábulas da livre concorrência comunitária, mas acabou por cair no conto do vigário, pois o monopólio do espaço aéreo entre os Açores e Portugal Continental permaneceu, em regime de desdobramento, ou seja de "code-share", principescamente outorgado à SATA Internacional e à TAP. Esta história remonta a 2001 quando a Comissão Europeia mandou publicar real édito comunitário anunciando, em forma de Comunicação, as "obrigações de serviço público" para a ponte aérea entre os Açores e Portugal Continental. Consequentemente, foi aberto concurso público para a concessão da exploração de serviços aéreos regulares com escala na Horta, Lajes, e Ponta Delgada. Para o que importa, recorde-se que a Air Luxor concorreu para a rota Lisboa/Porto/Ponta Delgada, sem qualquer "compensação financeira" por entender que a rota não era deficitária, e logo teve à perna os escudeiros da SATA e da TAP que, entre argumentário variado contra os planos de voo da Air Luxor, fizeram a defesa do "conforto dos passageiros" e da "qualidade de serviço".
Como se sabe, após atribulado processo concursivo, o Instituto Nacional de Aviação Civil avalizou o indeferimento do pedido de concessão da rota Açoriana à Air Luxor, e o Secretário de Estado Adjunto dos Transportes proferiu despacho decretando o fim da aventura da Air Luxor. Recentemente o Supremo Tribunal Administrativo, num Acórdão demolidor para quem engendrou o desvio da Air Luxor das rotas Açorianas, veio dar razão à Air Luxor sublinhando que esta companhia em nenhum passo indiciou sequer incapacidade de exploração da rota ou possível incumprimento das "obrigações de serviço público". Como explicar então o demérito das perícias técnicas que determinaram o despacho do Secretário de Estado que inviabilizou as pretensões da Air Luxor e que foi agora anulado pelo Supremo Tribunal Administrativo? Fazendo uso da eloquência do próprio Acórdão: "afinal de contas, o que se pode concluir é que o INAC, não fez censura ao plano económico comprovativo da capacidade de exploração da rota por parte da Air Luxor e, deveras, apenas opinou sobre o cumprimento das obrigações." (sic!).
Era uma vez uma companhia aérea, de seu nome Air Luxor, que certo dia atreveu-se a querer viajar para os Açores. A dita aerotransportadora ingenuamente acreditava nas fábulas da livre concorrência comunitária, mas acabou por cair no conto do vigário, pois o monopólio do espaço aéreo entre os Açores e Portugal Continental permaneceu, em regime de desdobramento, ou seja de "code-share", principescamente outorgado à SATA Internacional e à TAP. Esta história remonta a 2001 quando a Comissão Europeia mandou publicar real édito comunitário anunciando, em forma de Comunicação, as "obrigações de serviço público" para a ponte aérea entre os Açores e Portugal Continental. Consequentemente, foi aberto concurso público para a concessão da exploração de serviços aéreos regulares com escala na Horta, Lajes, e Ponta Delgada. Para o que importa, recorde-se que a Air Luxor concorreu para a rota Lisboa/Porto/Ponta Delgada, sem qualquer "compensação financeira" por entender que a rota não era deficitária, e logo teve à perna os escudeiros da SATA e da TAP que, entre argumentário variado contra os planos de voo da Air Luxor, fizeram a defesa do "conforto dos passageiros" e da "qualidade de serviço".
Como se sabe, após atribulado processo concursivo, o Instituto Nacional de Aviação Civil avalizou o indeferimento do pedido de concessão da rota Açoriana à Air Luxor, e o Secretário de Estado Adjunto dos Transportes proferiu despacho decretando o fim da aventura da Air Luxor. Recentemente o Supremo Tribunal Administrativo, num Acórdão demolidor para quem engendrou o desvio da Air Luxor das rotas Açorianas, veio dar razão à Air Luxor sublinhando que esta companhia em nenhum passo indiciou sequer incapacidade de exploração da rota ou possível incumprimento das "obrigações de serviço público". Como explicar então o demérito das perícias técnicas que determinaram o despacho do Secretário de Estado que inviabilizou as pretensões da Air Luxor e que foi agora anulado pelo Supremo Tribunal Administrativo? Fazendo uso da eloquência do próprio Acórdão: "afinal de contas, o que se pode concluir é que o INAC, não fez censura ao plano económico comprovativo da capacidade de exploração da rota por parte da Air Luxor e, deveras, apenas opinou sobre o cumprimento das obrigações." (sic!).
Independentemente da "opinião" do INAC, o certo é que a Air Luxor concorreu, cumpriu com o caderno de encargos, e agora até o Supremo Tribunal Administrativo veio comprovar que a proposta da Air Luxor observava a "check list" da Comunicação da Comissão Europeia, no que respeitava às "obrigações de serviço público", em todos os itens de capacidades adicionais, tripulações, capacidade de transporte de passageiros, de carga ou correio, categoria das aeronaves utilizadas e viabilidade da exploração económica. Tudo isto, pasme-se, prescindindo do habitual subsídio em forma de "compensação financeira" e com uma frota de sete aviões afectos à rota Lisboa/Porto/Ponta Delgada, desde o Airbus A320 até ao Lockeed Tristar, escalado para em épocas de maior aperto oferecer uma maior capacidade de passageiros e maiores garantias de reforço da capacidade do serviço. Porém, esta proposta não colheu "opinião" favorável do INAC, pelo que, a Air Luxor não chegou a levantar voo com destino aos Açores, porventura, com prejuízo para a companhia e, eventualmente, para os Açorianos.
Mas afinal quem tramou a Air Luxor? Este será por certo um enigma com resposta de escolha múltipla. Moral da história? Pouco importa pois, no final, quem vai pagar a factura somos todos nós. Após a liquidação da factura, no troco da mesma, restar-nos-á a sensação de também termos sido ludibriados no conto do vigário pois, além de sermos geograficamente coagidos a suportar um tarifário aéreo elevadíssimo, como contribuintes fazemos ainda o frete suplementar de ajudarmos a pagar as indemnizações que o Estado, por via Judicial, será obrigado a transferir para os cofres da Air Luxor.
Post-scriptum: quem tiver a curiosidade de ler a colecção de jurisprudência favorável à Air Luxor, em especial o Acórdão citado que remonta a 2 de Março de 2006, pode consultar a página www.dgsi.pt/jsta.
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JNAS na Edição de 21 de Março do Jornal dos Açores.
Mas afinal quem tramou a Air Luxor? Este será por certo um enigma com resposta de escolha múltipla. Moral da história? Pouco importa pois, no final, quem vai pagar a factura somos todos nós. Após a liquidação da factura, no troco da mesma, restar-nos-á a sensação de também termos sido ludibriados no conto do vigário pois, além de sermos geograficamente coagidos a suportar um tarifário aéreo elevadíssimo, como contribuintes fazemos ainda o frete suplementar de ajudarmos a pagar as indemnizações que o Estado, por via Judicial, será obrigado a transferir para os cofres da Air Luxor.
Post-scriptum: quem tiver a curiosidade de ler a colecção de jurisprudência favorável à Air Luxor, em especial o Acórdão citado que remonta a 2 de Março de 2006, pode consultar a página www.dgsi.pt/jsta.
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JNAS na Edição de 21 de Março do Jornal dos Açores.
domingo, março 19
3 anos
Foi este o tempo necessário para reconhecer o ERRO que desencadeou a intervenção bélica mais catastrófica da história recente (sob o pretexto de devolver a democracia ao Iraque e com a chancela, a muito custo, da ONU). E que colocou os Açores, malogradamente, no centro de um aparatoso anúncio mediático que muitos consideraram histórico (!!?) - como a História agora o comprova tivemos em Barroso um «intermediário» irresponsável.
CONTRIBUIÇÃO
Aqui fica o link para o post de Salvador Prata,
um texto/contribuição para o encontro de blogers
do próximo fim de semana.
.
Reporter X
Um momento singular e simultaneamente irónico - na Castelo Lopes o único filme em cartaz que não ostenta mulheres de arma em riste é Brokeback Mountain. JN explica-nos, pf, como é que se pode propor Bandidas como alternativa (?!) - terá alguma coisa de ver com o girl power ou é apenas um simples alinhamento à direita!?
sábado, março 18
Alta Fidelidade *
Clap Your Hands Say Yeah MAIS UM GRANDE DISCO EM DESTAQUE EM 2006 COM EDIÇÃO DE 2005.
Os Clap Your Hands Say Yeah são um dos fenómenos mais recentes com origem na Internet: nas comunidades virtuais (como o MySpace), webzines ou em blogues.
Numa primeira audição somos automaticamente impelidos para um exercício de memória por forma a descortinarmos o universo de possibilidades sónicas com que somos presenteados. As comparações são óbvias: Talking Heads, em especial a voz de David Byrne, Violent Femmes, Pixies, Tom Waits, Yo La Tengo, Velvet Underground - a lista é extensa!...
Os Clap Your Hands Say Yeah são 5 rapazes de Brooklyn, New York, com uma banda. E, como tantas outras, gravaram um disco, numa edição de autor de 2000 cópias com distribuição online, deram muitos concertos - esgotados - e o fenómeno rapidamente se difundiu pela comunidade virtual. Daqui às revistas da especialidade, a Rolling Stone por exemplo, foi uma questão de tempo e não de dinheiro ou influências. Seguiu-se uma 2º edição do disco, com 25.000 cópias, e aí as coisas começaram a mexer com a crescente marcação de concertos, pelo globo, e a inevitabilidade do Contrato e da disputa entre Editoras - o sucesso estava ali.
É óbvio que a coisa não nasce por acaso ou como mero fenómeno virtual (ou casual) - as melodias são apelativas e na mais pura tradição indie (se é que isso existe!). E estes são elementos fundamentais para percebemos todo o hype mediático que desabou sobre esta banda. De início não se lhes dá grande importância e de um momento para outro passamos a bater o pé e a trautear os temas que, por obra da genialidade, nos tocam ao ouvido. Não tivesse surgido um disco em 2005 como Funeral (dos Arcade Fire) e os Clap Your Hands Say Yeah teriam sido a sensação do ano que passou.
Em temas como Is This Love? e Heavy Metal a energia e o ritmo transitam pela voz offtune de Alec Ounsworth numa exuberante prestação singular - reflectindo a força do disco. A música de CYHSY é chalada (gosto particularmente deste adjectivo), frenética e perturbada cuja criatividade é potenciada pela produção caseira.
Este é um bom exemplo de como as coisas estão rapidamente a mudar no seio da produção musical. Sem grande aparato mediático, nem notas de imprensa empoladas - os Clap Your Hands Say Yeah provaram que é possível triunfar pelo poder da música, pelo talento e preserverança. A música fala por si.
E o nome da banda? Nasce do acaso, como tantos outros: "Foi uma frase que vimos num muro em NY. Pareceu-nos bem" (em entrevista ao Y/Público de 27/01/06). Away we go?...
* crónica semanal publicada no suplemento SARL/Jornal dos Açores de 17.03.06
** Proposta disponível na discoteca DISREGO (CC Parque Atlântico)
Os Clap Your Hands Say Yeah são um dos fenómenos mais recentes com origem na Internet: nas comunidades virtuais (como o MySpace), webzines ou em blogues.
Numa primeira audição somos automaticamente impelidos para um exercício de memória por forma a descortinarmos o universo de possibilidades sónicas com que somos presenteados. As comparações são óbvias: Talking Heads, em especial a voz de David Byrne, Violent Femmes, Pixies, Tom Waits, Yo La Tengo, Velvet Underground - a lista é extensa!...
Os Clap Your Hands Say Yeah são 5 rapazes de Brooklyn, New York, com uma banda. E, como tantas outras, gravaram um disco, numa edição de autor de 2000 cópias com distribuição online, deram muitos concertos - esgotados - e o fenómeno rapidamente se difundiu pela comunidade virtual. Daqui às revistas da especialidade, a Rolling Stone por exemplo, foi uma questão de tempo e não de dinheiro ou influências. Seguiu-se uma 2º edição do disco, com 25.000 cópias, e aí as coisas começaram a mexer com a crescente marcação de concertos, pelo globo, e a inevitabilidade do Contrato e da disputa entre Editoras - o sucesso estava ali.
É óbvio que a coisa não nasce por acaso ou como mero fenómeno virtual (ou casual) - as melodias são apelativas e na mais pura tradição indie (se é que isso existe!). E estes são elementos fundamentais para percebemos todo o hype mediático que desabou sobre esta banda. De início não se lhes dá grande importância e de um momento para outro passamos a bater o pé e a trautear os temas que, por obra da genialidade, nos tocam ao ouvido. Não tivesse surgido um disco em 2005 como Funeral (dos Arcade Fire) e os Clap Your Hands Say Yeah teriam sido a sensação do ano que passou.
Em temas como Is This Love? e Heavy Metal a energia e o ritmo transitam pela voz offtune de Alec Ounsworth numa exuberante prestação singular - reflectindo a força do disco. A música de CYHSY é chalada (gosto particularmente deste adjectivo), frenética e perturbada cuja criatividade é potenciada pela produção caseira.
Este é um bom exemplo de como as coisas estão rapidamente a mudar no seio da produção musical. Sem grande aparato mediático, nem notas de imprensa empoladas - os Clap Your Hands Say Yeah provaram que é possível triunfar pelo poder da música, pelo talento e preserverança. A música fala por si.
E o nome da banda? Nasce do acaso, como tantos outros: "Foi uma frase que vimos num muro em NY. Pareceu-nos bem" (em entrevista ao Y/Público de 27/01/06). Away we go?...
* crónica semanal publicada no suplemento SARL/Jornal dos Açores de 17.03.06
** Proposta disponível na discoteca DISREGO (CC Parque Atlântico)
sexta-feira, março 17
Vox Populi
...
Temptation
de ALBERTO VARGAS
...
"Os valores defendidos por Cavaco Silva, no dizer do escritor e filósofo açoriano Mário Cabral, "estão na raiz profunda da nossa alma". Cavaco Silva representa bem a sua função de líder : a de levar o seu povo donde está para onde nunca esteve. Voltando a Mário Cabral, "Cavaco é um pequeno Algarve que passava as férias a cavar. É o típico filho bem sucedido do povo."."
Hermano Aguiar, quinta-feira 9 de Março no Açoriano Oriental
"Ainda não se ouviu mas falta pouco, São Miguel quanto muito deve ficar tão pobre como os outros."
Nuno Mendes, quinta-feira 9 de Março no Jornal dos Açores.
"A política tem as suas regras, a economia também. Separadas, podem ser respeitáveis. Juntas, são perigosas. Ficam ambas poluídas."
António Barreto, Domingo 12 de Março no Público.
"Bichas nas Finanças vão acabar"
1ª Página do Correio dos Açores de terça-feira 14 de Março.
"Vários repatriados a residir no concelho de Lagoa e Vila Franca do Campo estão a apoiar, por iniciática própria, as autoridades policiais para capturar o homem que assaltou e violou uma mulher de 58 anos, na Freguesia de Água de Pau."
Luís Pedro Silva, terça-feira 14 de Março no Açoriano Oriental.
"Tudo o que for formação dos jovens, nomeadamente ao nível da sexualidade, é muito bom."
D. António Sousa Braga, Bispo da Diocese de Angra, em entrevista de terça-feira 14 de Março no Jornal dos Açores.
"No filme (Brokeback Mountain), candidato falhado a oito Óscares da Academia, só ficamos também a saber o que já todos sabíamos, que por detrás da virilidade dos homens do Oeste se travavam relações homossexuais."
Cláudia Cardoso, sexta-feira 17 de Março no Açoriano Oriental
"Internet serve para dividir as famílias"
1ª página do Açoriano Oriental de quinta-feira 16 de Março.
FIVE O'CLOCK TEA
Não é o 1º Congresso Nacional do Chá mas é uma proposta para um bom final de tarde o ínicio da primeira semana cultural dedicada às Artes.
Com o título "PrimArte" esta é uma iniciativa da Câmara Municipal da Ribeira Grande que arranca com esta exposição de José António Rodrigues.
TÍTULO DO DIA
Ângela Almeida diz que "açorianos estão cansados da "teoria do pó""
"Na apresentação pública do livro " In Memorian, Natália Correia", a sua coordenadora teceu rasgados elogios aos responsáveis pela cultura na Região. Porém, não deixou de apontar aquilo que está mal"
...
«Quero aproveitar para comunicar ao meu amigo Carlos Martins que os açorianos estão cansados da "teoria do pó". A expressão é minha e assumo-a, afirmou a investigadora»
...
JORNAL DOS AÇORES, 17 DE MARÇO
"Na apresentação pública do livro " In Memorian, Natália Correia", a sua coordenadora teceu rasgados elogios aos responsáveis pela cultura na Região. Porém, não deixou de apontar aquilo que está mal"
...
«Quero aproveitar para comunicar ao meu amigo Carlos Martins que os açorianos estão cansados da "teoria do pó". A expressão é minha e assumo-a, afirmou a investigadora»
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JORNAL DOS AÇORES, 17 DE MARÇO
FALTA DE RIGOR...
ou como uma imagem deixa de ter o valor de 1.000 palavras.
a "originalidade" que ilustra o artigo publicado no Expresso da Nove na edição de hoje, 17 de Março, nada, mas mesmo nada, tem a ver com o projecto de João Pedro Vaz de Medeiros e da Muu - Produções.
as 77.777 diferenças podem ser conferidas AQUI
a "originalidade" que ilustra o artigo publicado no Expresso da Nove na edição de hoje, 17 de Março, nada, mas mesmo nada, tem a ver com o projecto de João Pedro Vaz de Medeiros e da Muu - Produções.
as 77.777 diferenças podem ser conferidas AQUI
quinta-feira, março 16
«O Segredo de Brokeback»
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Estreia hoje entre nós a oscarizada história de intimidade cavada entre dois cowboys cuja amorosa camaradagem, apesar de ter por pano de fundo o longínquo maciço montanhoso das costas quebradas, não se vergou com o peso dos anos. Brokeback Mountain tem por cenário as encapeladas montanhas do Wyoming e, como se sabe, recebeu rasgados elogios da crítica cinéfila, designadamente, pelo enquadramento sensível de um melodrama que penetra profundamente no âmago da América conservadora.
A malandrice secreta entre Ennid Del Mar e Jack Twist (Heath Ledger e Jack Gyllenhaal respectivamente) tem lugar no refúgio de Brokeback Mountain cujo silêncio bucólico só é interrompido pelos vagidos das ovelhas e pelos ritos de acasalamento sazonais de Del Mar e de Twist. Quanto aos maus da fita consta que tal papel foi endossado às castradoras mulheres cuja traição homossexual não perdoam. Em suma: um verdadeiro épico, cuja arrumação nas prateleiras do género "western gay" ou "melodrama" será por certo um puzzle para qualquer clube de vídeo.
...
«O Segredo de Brokeback» está classificado para maiores de 12 anos e passa na Sala 2 da Castelo Lopes em Ponta Delgada... em alternativa na Sala 3 poderá ver «Bandidas» com Pénelope Cruz e Salma Hayek que, infelizmente, não é um filme sobre vaqueiras lésbicas!
O Clube do Cebolinha Bolinha*
É óbvio que não me surpreende minimamente que o Prof. Silva se tenha rodeado da nata do cavaquismo, quer na sua Casa Civil, quer, agora, no Conselho de Estado. Está no seu pleno direito. O problema é que a Presidência da Republica não é um clube privado, nem uma cabana numa árvore para onde só convidamos os nossos amigos. E já nem entro pela evidente contradição entre o que o Prof. diz, vide discurso de posse, e o que o Prof. faz. Cavaco finalmente tirou a mascara de grande conciliador com que enganou o País na campanha eleitoral, arreganha os dentes e mostra o que realmente é. Muitos adeptos do autoritarismo estarão neste momento em júbilo. Agora só falta saber os nomes dos Representantes da república. Vai ser bonito.
*claro que nesta versão da turma do Cebolinha o slogan já não é menina não entra mas aqui só tem conservador, mesmo.
Adenda: Uma imperdoavel confusão de BD's, para a qual a enigmática leitora mpereira amavelmente me alertou, levou-me a confundir a Mónica com a Lulu, não podia ser, esta reposta a verdade BDística.
*claro que nesta versão da turma do Cebolinha o slogan já não é menina não entra mas aqui só tem conservador, mesmo.
Adenda: Uma imperdoavel confusão de BD's, para a qual a enigmática leitora mpereira amavelmente me alertou, levou-me a confundir a Mónica com a Lulu, não podia ser, esta reposta a verdade BDística.
quarta-feira, março 15
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De 10 de Março a 10 de Abril e das 10 às 23 horas, sem interrupção para almoço, numa organização da Tabacaria Açoriana, decorre a Feira do Livro de BD.
A antiga União de Ferragens (um dos edifícios mais sinistros de Ponta Delgada) não é o local ideal, mas o certo é que a Feira merece uma visita. Entre tralha avulsa e resmas de BD em língua estrangeira há também lugar para edições Portuguesas e Brasileiras. Na verdade há de tudo um pouco, desde os quadradinhos de Cowboys (da era anterior ao Brokeback Mountain) até à convencional revista das Aventuras de Tintim (que por sinal não ficaria mal numa cowboyada pós Brokeback).Entre catrefadas de comic books encontram-se exemplares da saudosa revistinha Mosquito, mais ao gosto dos conservadores, e até pilhas de edições mais arrojadas, que por certo não chocariam os mais liberais(note-se que a literatura em causa está numa salinha acanhada que não dispensa o inútil aviso parental de que tal antro está reservado a adultos).
Cá por mim adicionei à minha modesta colecção de Hugo Pratt, esse inolvidável ícone do Séc. XX, mais dois títulos. O «Homem do Caribe» numa curiosa ed. Brasileira da Ebal, e que custou menos do que o preço da bica na própria Tabacaria, e ainda por 1 Euro e 50 cêntimos uma belíssima edição do álbum «Tango» lançado pela Meribérica/Liber. Em suma : a visitar nem que seja en passant na hora da bica.
terça-feira, março 14
Orgulho e Preconceito
...
Recentemente fiquei estarrecido com o jaez de uma polémica peça jornalística, emitida pela RDP-Açores, na qual se diagnosticava «O Estado de Alma da Ilha Terceira», concluindo pela depressão colectiva dos Terceirenses, tendo como epicentro etiológico a ilha de São Miguel. A obra em causa, da pena do jornalista Armando Mendes, destilava um bairrismo serôdio que julgava estar já extinto. Confesso que a estupefacção com o calibre da "reportagem" foi de tal ordem que achei prudente parar a viatura que vinha conduzindo, e só depois de devidamente estacionado e em segurança, degluti na íntegra, e sem legendas, mais um naco de ressabiamento à moda da Terceira. Com efeito, ouvir tais dislates e conduzir ao mesmo tempo constitui uma façanha temerária com maior perigosidade rodoviária do que conduzir e concomitantemente fazer uso do telemóvel.
No essencial a controversa peça radiofónica, que de boa fé gosto de pensar que se aproxima mais da ficção do que do jornalismo de investigação, foi montada por meia dúzia de fidalgos da intelectualidade local. A pontuar as asserções que tais luminárias Terceirenses iam debitando emergiam as indispensáveis vozes de populares, fidelíssimos como cães de rabo torto, que devidamente adestrados alardeavam a amargura de viverem sob o jugo de São Miguel! Em pleno Sec. XXI, e do lado de cá, é caso para ficarmos siderados com tanto orgulho parolo guarnecido com um preconceito que roça o ridículo. Efectivamente, volvidos trinta anos sobre a nossa Autonomia parece que em alguns redutos do nosso território ainda não alcançamos a coesão política, apesar de para os mesmos territórios estar já prometida a inclusão na coesão económica e parques temáticos para a preservação da cultura autóctone.
O certo é que estas "vozes da rádio", coadjuvadas pelo cântico défroquée de Cunha de Oliveira e seus acólitos, vivem sob o credo de que o pecado original da nossa Autonomia está no facto de Ponta Delgada acolher a sede do Governo Regional. Porém, tão insignes e sapientes criaturas parecem esquecer que São Miguel em geral, e Ponta Delgada, em particular, também possuem os seus pergaminhos Autonómicos e que estes só por si bastariam para justificar a honra de acolhermos a capital política do arquipélago. Ademais, no lustro desses pergaminhos está subjacente uma laboriosa gente cuja grei fez de São Miguel o núcleo dinamizador da economia Regional. Com efeito, especialmente a partir do Sec. XIX, uma empreendedora gesta de empresários e burgueses de São Miguel fundou os alicerces societários da economia Açoriana. Banca e seguradoras, transportes aéreos e marítimos, indústrias de lacticínios, de chá e de açúcar, de tabaco, cervejas e refrigerantes, hotelaria e construção civil, cooperativas e associações agrícolas, tudo isto e muito mais se fez em São Miguel com projecção Regional, o que sempre justificou que o nome comercial de tais empreendimentos recorrentemente fizesse uso da palavra Açores.
Porém, ao arrepio desta dimensão «arquipelágica», ainda há quem ouse afirmar que os dividendos do projecto Autonómico têm sido iniquamente distribuídos com manifesto favorecimento para São Miguel. Contudo, os mesmos subscritores de tal libelo acusatório esquecem convenientemente a real dimensão do seu aporte para o capital social da nossa Autonomia.
Como se ainda fosse necessário reafirmar o pecado original da nossa Autonomia nunca esteve em São Miguel. Todos o sabemos, incluindo aqueles que afirmam o inverso a troco de algum tempo de antena e de alguma efémera distinção cuja esfera de influência deveria quedar-se nas cercanias do Ilhéu das Cabras. Todos o sabemos, incluindo aqueles que apontam baterias a São Miguel, que o "mal de vivre" da Terceira só pode ser imputável aos próprios Terceirenses. Contudo, o "lobby" da camarilha de Armando Mendes, Cunha de Oliveira e quejandos, vai alimentando uma determinada classe de Terceirenses que, quando não andam entretidos a lançar farpas aos Micaelenses, vão urdindo com orgulho e preconceito a secessão bairrista, designadamente, entre Angra do Heroísmo e a Praia da Vitória. Este é que é o mal que os consome.
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JNAS na Edição de 14 de Março do Jornal dos Açores.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
Recentemente fiquei estarrecido com o jaez de uma polémica peça jornalística, emitida pela RDP-Açores, na qual se diagnosticava «O Estado de Alma da Ilha Terceira», concluindo pela depressão colectiva dos Terceirenses, tendo como epicentro etiológico a ilha de São Miguel. A obra em causa, da pena do jornalista Armando Mendes, destilava um bairrismo serôdio que julgava estar já extinto. Confesso que a estupefacção com o calibre da "reportagem" foi de tal ordem que achei prudente parar a viatura que vinha conduzindo, e só depois de devidamente estacionado e em segurança, degluti na íntegra, e sem legendas, mais um naco de ressabiamento à moda da Terceira. Com efeito, ouvir tais dislates e conduzir ao mesmo tempo constitui uma façanha temerária com maior perigosidade rodoviária do que conduzir e concomitantemente fazer uso do telemóvel.
No essencial a controversa peça radiofónica, que de boa fé gosto de pensar que se aproxima mais da ficção do que do jornalismo de investigação, foi montada por meia dúzia de fidalgos da intelectualidade local. A pontuar as asserções que tais luminárias Terceirenses iam debitando emergiam as indispensáveis vozes de populares, fidelíssimos como cães de rabo torto, que devidamente adestrados alardeavam a amargura de viverem sob o jugo de São Miguel! Em pleno Sec. XXI, e do lado de cá, é caso para ficarmos siderados com tanto orgulho parolo guarnecido com um preconceito que roça o ridículo. Efectivamente, volvidos trinta anos sobre a nossa Autonomia parece que em alguns redutos do nosso território ainda não alcançamos a coesão política, apesar de para os mesmos territórios estar já prometida a inclusão na coesão económica e parques temáticos para a preservação da cultura autóctone.
O certo é que estas "vozes da rádio", coadjuvadas pelo cântico défroquée de Cunha de Oliveira e seus acólitos, vivem sob o credo de que o pecado original da nossa Autonomia está no facto de Ponta Delgada acolher a sede do Governo Regional. Porém, tão insignes e sapientes criaturas parecem esquecer que São Miguel em geral, e Ponta Delgada, em particular, também possuem os seus pergaminhos Autonómicos e que estes só por si bastariam para justificar a honra de acolhermos a capital política do arquipélago. Ademais, no lustro desses pergaminhos está subjacente uma laboriosa gente cuja grei fez de São Miguel o núcleo dinamizador da economia Regional. Com efeito, especialmente a partir do Sec. XIX, uma empreendedora gesta de empresários e burgueses de São Miguel fundou os alicerces societários da economia Açoriana. Banca e seguradoras, transportes aéreos e marítimos, indústrias de lacticínios, de chá e de açúcar, de tabaco, cervejas e refrigerantes, hotelaria e construção civil, cooperativas e associações agrícolas, tudo isto e muito mais se fez em São Miguel com projecção Regional, o que sempre justificou que o nome comercial de tais empreendimentos recorrentemente fizesse uso da palavra Açores.
Porém, ao arrepio desta dimensão «arquipelágica», ainda há quem ouse afirmar que os dividendos do projecto Autonómico têm sido iniquamente distribuídos com manifesto favorecimento para São Miguel. Contudo, os mesmos subscritores de tal libelo acusatório esquecem convenientemente a real dimensão do seu aporte para o capital social da nossa Autonomia.
Como se ainda fosse necessário reafirmar o pecado original da nossa Autonomia nunca esteve em São Miguel. Todos o sabemos, incluindo aqueles que afirmam o inverso a troco de algum tempo de antena e de alguma efémera distinção cuja esfera de influência deveria quedar-se nas cercanias do Ilhéu das Cabras. Todos o sabemos, incluindo aqueles que apontam baterias a São Miguel, que o "mal de vivre" da Terceira só pode ser imputável aos próprios Terceirenses. Contudo, o "lobby" da camarilha de Armando Mendes, Cunha de Oliveira e quejandos, vai alimentando uma determinada classe de Terceirenses que, quando não andam entretidos a lançar farpas aos Micaelenses, vão urdindo com orgulho e preconceito a secessão bairrista, designadamente, entre Angra do Heroísmo e a Praia da Vitória. Este é que é o mal que os consome.
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JNAS na Edição de 14 de Março do Jornal dos Açores.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
segunda-feira, março 13
Encontro de Bloggers
O blogue :ILHAS em parceria com a MUU - Produções organiza no último fim-de-semana do mês de Março um encontro informal de bloggers no bucólico vale das Furnas, aqui na ilha de São Miguel. A ideia principal é fomentar o conhecimento pessoal e a troca de experiências entre bloggers de diversas proveniências. Sair da esfera do solipsismo virtual para uma convivência pessoal que na maior parte das vezes está afastada da prática dos blogues e para isso nada melhor do que três dias de passeio no parque, bolos lêvedos, banhos na piscina de agua férrea, cozido nas caldeiras, passeios na margem da lagoa e alguma conversa. Este evento conta, para já, com a prestimosa colaboração do Hotel Terra Nostra, da ONI/Global EDA e da SATA. O encontro está aberto a todos os que nele queiram participar desde bloggers assumidos a bloggers encapuçados passando pelos leitores e pelos comentadores, anónimos ou não. As inscrições devem ser feitas por email para a MUU. As condições de deslocação e estadia estão descritas aqui. De realçar que para quem vêm do continente é um preço de arromba para um fim-de-semana em São Miguel e ainda oferecemos um ganda almoço de cozido no sábado. Convidados especiais para apimentar as conversas: Francisco José Viegas, Ivan Nunes, José Medeiros Ferreira, Paulo Pinto Mascarenhas, Paulo Querido, Pedro Lomba e Pedro Mexia.
Funeral Blues
...
Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message : He Is Dead.
Put crepe bows round the white necks of public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West.
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever; I was wrong.
The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.
...
W. H. Auden
Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message : He Is Dead.
Put crepe bows round the white necks of public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West.
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever; I was wrong.
The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.
...
W. H. Auden
domingo, março 12
fitas:
Cache - Nada a Esconder A possibilidade de rever 2 dos maiores actores franceses da actualidade - Daniel Auteil e Juliette Binoche - num filme que coloca a culpa em quem "vê". Walk The Line Outra sugestão e outra dupla de actores em ascensão meteórica - Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon. A crítica: Cash perguntava numa canção: "querem saber por que é que eu me visto sempre de preto?"; dizer que "Walk the Line" e Joaquin Phoenix dão a essa pergunta uma resposta em que podemos acreditar é talvez o maior elogio que lhes podemos fazer.
Ambas as propostas em exibição, esta semana, no Solmar.
Ambas as propostas em exibição, esta semana, no Solmar.
sábado, março 11
Alta Fidelidade *
Catpower - The Greatest (Matador/edição limitada) Tenho vindo a adiar falar deste disco, lançado há um par de meses, mas a sua recente disponibilização em Ponta Delgada não me permite reter, ainda mais, a sua difusão.
The Greatest é o último disco de Catpower o nome ao qual Chan Marshall dá voz e corpo em palco. Foi gravado em cinco dias com vários veteranos da soul de Memphis, nomeadamente, o guitarrista/baixista Leroy Hodges que tocou com Al Green. O esforço desta parceria resulta num profundo registo introspectivo em que "a canção é tudo aquilo que interessa" (excerto da sessão de apresentação à impressa no Y/Público de 20/01/06), atribuindo uma áurea muito pessoal e característica ao disco.
Catpower não esconde as suas influências decalcadas pela audição exaustiva de Dylan, Velvet Underground e Rolling Stones. The Greatest reproduz uma linguagem indie com arranjos country, folk e funk em muitos sopros e cordas cujo denominador comum reside nos anos 70 - num disco que transpira soul por todos os poros (em Ananana de 03/02/06).
Para saudosistas dos Mazzy Star e de Hope Sandoval, tal como eu, Catpower é um bálsamo agridoce nestes dias submersos pela rotina do quotidiano. The Greatest celebra o amor, as desilusões inerentes e o fim das relações - o registo autobiográfico, não declarado, em tom intimista e, eventualmente, confessional, numa viagem de afectos e de reconhecimento pelas suas raízes intrínsecas ao Sul profundo da América.
Para os fãs, mais irredutíveis, The Greatest é um álbum fácil cujo apelo comercial é por demais evidente. A crítica não lhe poupa elogios e revela que este é provavelmente o seu melhor disco. Na dúvida o melhor será descobrir o estranho mas confortável mundo de Catpower.
* crónica semanal publicada no suplemento SARL/Jornal dos Açores de 10.03.06
** Proposta disponível na discoteca DISREGO (CC Parque Atlântico)
The Greatest é o último disco de Catpower o nome ao qual Chan Marshall dá voz e corpo em palco. Foi gravado em cinco dias com vários veteranos da soul de Memphis, nomeadamente, o guitarrista/baixista Leroy Hodges que tocou com Al Green. O esforço desta parceria resulta num profundo registo introspectivo em que "a canção é tudo aquilo que interessa" (excerto da sessão de apresentação à impressa no Y/Público de 20/01/06), atribuindo uma áurea muito pessoal e característica ao disco.
Catpower não esconde as suas influências decalcadas pela audição exaustiva de Dylan, Velvet Underground e Rolling Stones. The Greatest reproduz uma linguagem indie com arranjos country, folk e funk em muitos sopros e cordas cujo denominador comum reside nos anos 70 - num disco que transpira soul por todos os poros (em Ananana de 03/02/06).
Para saudosistas dos Mazzy Star e de Hope Sandoval, tal como eu, Catpower é um bálsamo agridoce nestes dias submersos pela rotina do quotidiano. The Greatest celebra o amor, as desilusões inerentes e o fim das relações - o registo autobiográfico, não declarado, em tom intimista e, eventualmente, confessional, numa viagem de afectos e de reconhecimento pelas suas raízes intrínsecas ao Sul profundo da América.
Para os fãs, mais irredutíveis, The Greatest é um álbum fácil cujo apelo comercial é por demais evidente. A crítica não lhe poupa elogios e revela que este é provavelmente o seu melhor disco. Na dúvida o melhor será descobrir o estranho mas confortável mundo de Catpower.
* crónica semanal publicada no suplemento SARL/Jornal dos Açores de 10.03.06
** Proposta disponível na discoteca DISREGO (CC Parque Atlântico)
sexta-feira, março 10
Em orbita...
Por qualquer razão que ainda desconheço, fui banido e deixei de ser habitante deste planeta.
Agora vagueio pelo espaço.
Agora vagueio pelo espaço.
quinta-feira, março 9
o TIJOLO
"O tempo de prisão antes do julgamento constitui um problema, mas o Governo tem feito esforços para melhorar esta questão"Perante a minha incredulidade e estupefacção não resisti a esta entrada. Ainda para + com a situação que se vive em Guantanamo.
JUDO CLUBE DE PONTA DELGADA
Como é óbvio não se trata de um blog generalista e está ainda em fase de testes. Tem apenas a pretensão de ser uma plataforma para a divulgação da actividade do Clube e um suporte para a publicação de informação para os aficionados do Judo. Na lista de colaboradores regulares desta página estão já inscritos Marco Moreira, Jorge Batista, José Maria Araújo, João Nuno Almeida e Sousa e Pedro Soares de Albergaria.
Agradecemos a divulgação do blog e aqui fica desde já requerida a sua ligação ao Planeta Açores.
...
Agradecemos também a colaboração do Pedro Arruda no design do blog e no apoio técnico à sua manutenção.
quarta-feira, março 8
VOX POPULI
...
FRANCIS BACON
Study for Bullfight,1969
...
"Um presidente que só desperta das funções vegetativas quando se lhe fala em futebol; um povo que fala, ri, cochicha enquanto um quarteto de cordas executa Haydn...dêem-lhes o Quim Barreiros; que lamenta o chá que lhe dão em vez do tinto carrascão; que prefere uma pitada à Parque Mayer a um poema; em suma, um povo que prefere um Sampaio a um Rei é este, o bom povo português.".
Miguel Castelo Branco, quinta-feira, 2 de Março no Combustões.
"Se a República somos todos nós porque é que o poder da República tem que ser representado como um poder de representação (da) e não como um poder de participação (dos cidadãos)? Das duas uma, ou os poderes e princípios da Autonomia são entendidos como sendo constitutivos da República Portugesa ou, optando pela lógica da representação da República como freio da Autonomia, perverte-se a Autonomia.".
Ezequiel Moreira da Silva na caixa de comments do Ilhas, sexta-feira, 3 de Março
"O Estado também aflige. Imaginem o Estado durante Salazar e Caetano. Existia a PIDE e a censura: e mil tiranetes por aqui e por ali. Não vale a pena repetir o óbvio. Em compensação, o Estado não queria mandar na vida de ninguém. Não proibia que se fumasse. Deixava o trânsito largamente entregue a si próprio. Não andava obcecado com a saúde e a segurança. Não regulava, não fiscalizava, não espremia o imposto até ao último tostão. Um indivíduo, pelo menos da classe média, passava anos sem encontrar o Estado. Acreditam que nunca voltei a sentir o espaço e a liberdade desse tempo ? Estou a "sentimentalizar", a "idealizar" uma realidade, no fundo, horrível? Não me parece. Escrever, por exemplo. Quando comecei a escrever, escrevia. Sob o peso da Ditadura, claro, e sob a pressão do conformismo marxista. De qualquer maneira, escrevia desprevenidamente. Agora, escrever é uma variante de pisar ovos. Os mestres do "correcto" vigiam, como nunca vigiaram os coronéis de Salazar.".
Vasco Pulido Valente, Sábado, 4 de Março no Espectro.
"A Terceira vive um estado de alienação colectiva assente no populismo primário. De festa em festa, cada vez mais faustosas e demoradas no tempo, com cerca de 300 touradas à corda por ano, a Ilha Terceira de Jesus Cristo escolheu o caminho mais fácil que lhe vai consumindo as forças, tolhendo o empreendedorismo e diminuindo a clarividência.".
Guilherme Marinho, segunda-feira, 6 de Março no Chá Verde(Puro).
"A Terceira consegue ser um pedinte mais andrajoso, mais carenciado e mais esfomeado do que S. Miguel...a necessitar urgentemente da ajuda do governo.".
Luís Anselmo,terça-feira, 7 de Março no Pari Passu.
Beladona
A Mulher revisitada pela BELADONA, n. Em Italiano, uma mulher bela; em Portugal, um veneno mortal. Um exemplo assinalável da semelhança entre estas duas línguas. Definição do Dicionário do Diabo de Ambrose Bierce (ed. Portuguesa). Uma entrada do Enviado Especial:Alexandre Correia.
terça-feira, março 7
Já estás em 1º há muito tempo
...............................
..............................
..............................
Aos meus Amigos
...
Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também
...
Zeca Afonso
Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também
...
Zeca Afonso
Assuntos verdadeiramente importantes - Gajas
Faz dias que ando para fazer um post sobre gajas. Mais exactamente sobre duas gajas, que aparentemente são mãe e filha, de sobrenome Jardim e que aparecem de roupa interior em poses brega numa revisteca portuguesa (a propósito da revista diga-se que é uma típica fatalidade nacional esta de copiar o que de bom se faz no estrangeiro e fazê-lo mal. Eu se fosse director da Conde Nast mandava já fechar o estabelecimento nacional e processava por dar má imagem ao nome). Ainda andei pelo Google em busca de imagens para ilustrar o post mas não as encontrei. Mas é melhor assim porque as ditas imagens, se é que assim se podem chamar, são confrangedoramente más e a revista está em todos os escaparates, portanto quem tiver curiosidade pode ir ver, como eu fiz, a mãe Cinha e a filha Pipinha de cuecas e soutien. Antes que me chamem de conservador devo dizer que não me tenho por moralista, nem sou contra a exploração da beleza feminina para efeitos do despertar da libido masculina. Fui adolescente comprando exemplares da Trip e não me tornei nem melhor nem pior pessoa por causa disso. Mais, gosto de mulheres, gosto de lingerie, logo gosto de fotos de gajas em cuecas. O meu problema com estas imagens é o mau gosto e a falta de senso. Nem sequer vou entrar pela análise imagética e dissecar o desastre que são as fotografias, os cenários, as poses, a lingerie (como é possível haver má lingerie... só mesmo a GQ Portugal para descobrir tal coisa!) não vale a pena. O que me aflige é a má pornografia que está subjacente a isto tudo. Mãe e filha em trajes menores numa sugestão de sexo não é fantasia é mau gosto, é sórdido, tresanda a rafeirice. A nobre arte do erotismo não merecia tal serviço. Alguém, por favor, dê cérebros às senhoras Jardim, pode ser que elas passem a usar melhor o corpo.
postal autonómico
A visão autonómica preconizada pelos arautos de Lisboa - uma Miragem!? Entrada do Enviado Especial:Alexandre Correia.
Ecos da ARCO
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«Uma Escultura Imaginária /Atlântico Norte / 37º48'0'' Lat (2º acontecimento relatado em 1997)», Óleo sobre tela de Maria José Cavaco - 2006 -
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Um velho brocado latino ensina que importa «primum vivere deinde philosophare», ou seja, em primeiro lugar importa ganhar a vida e só depois buscar o recreio do espírito. Porém, quando as necessidades da subsistência biológica estão satisfeitas, há que buscar o alimento da alma. Esta alimenta-se de todas as realizações do espírito humano que nos fazem diferentes dos restantes animais. Essa nobilíssima marca distintiva passa inevitavelmente pela Arte, cujo gosto vai refinando-se à medida que se abrem ao Mundo os olhos da alma. É com este olhar que a Galeria Fonseca Macedo foi criada e tem vindo a trabalhar desde o ano 2000. A sua existência não se fica pelo postal da foto social das várias vernissages que tem promovido pois, além disso, tem servido as artes plásticas e projectado os Açores em diversos fóruns culturais.
Recentemente a Galeria Fonseca Macedo marcou presença na ARCO de Madrid e desse feito foi dada a devida referência na imprensa nacional, nomeadamente, Diário de Notícias, Público, Expresso e até no especialíssimo Diário Económico. Nós por cá, dados à habitual vergonha pelo sucesso dos nossos conterrâneos, tratamos com displicente silêncio a nossa presença entre o que de melhor se faz actualmente no admirável mundo das artes plásticas ! Com efeito, descontadas algumas vozes dissonantes pela companhia do Presidente do Governo e respectivo séquito, que também esteve na ARCO, desta vez não se ouviram os habituais «grilos falantes» sempre prontos a sentenciar sobre os eventos culturais. Conhecida a dimensão e a realidade da ARCO só poderemos atribuir tal silêncio a puro desdém.
A ARCO é há 25 anos uma das maiores feiras de Arte contemporânea do Mundo e este ano entre 280 galerias, e aproximadamente 3000 artistas, marcaram presença 15 galerias Portuguesas, sendo uma delas a Fonseca Macedo. Não se julgue que esta participação dependeu apenas do voluntarismo dos seus responsáveis, pois a presença na ARCO depende de prévia candidatura que passa pelo crivo de um Júri de selecção que avalia o curriculum da Galeria e o respectivo acervo artístico. Para o efeito a Galeria Fonseca Macedo levou na bagagem os novos trabalhos de artistas plásticos Açorianos como Maria José Cavaco e Victor Almeida, e ainda Ruben Verdadeiro, jovem revelação Açoriana já com uma participação numa exposição colectiva em Serralves. Indubitavelmente estes artistas Açorianos possuem uma linguagem contemporânea capaz de ladear com qualquer referência nacional e internacional, o que aliás ficou comprovado pelo êxito que obtiveram na ARCO, designadamente, com a venda dos seus trabalhos para colecções particulares, mas também para galerias estrangeiras e, pelo menos, para uma fundação Portuguesa que investe em Arte contemporânea. Efectivamente, entre as sociedades abastadas a Arte é hoje um mercado de investimento como outro qualquer e, por exemplo, em Espanha ocupa o terceiro lugar de afectação de investimento. Não espanta pois que só o celebérrimo Museu Rainha Sofia tenha levado em carteira um orçamento a rondar um milhão de Euros que foram parcialmente investidos em obras de Vieira da Silva, José Pedro Croft e Vasco Araújo.
À nossa dimensão a Região, através da Presidência do Governo Regional, associou-se, e bem, à iniciativa da Galeria Fonseca Macedo subvencionando o respectivo stand na ARCO. Com este precedente os agentes culturais por certo reivindicarão da Presidência do Governo Regional a sua parceria para futuras iniciativas similares a este pioneirismo da Fonseca Macedo, sob pena de não o fazendo indiciar o favorecimento de alguns «artistas do regime» e respectivos «agentes culturais» em detrimento de outros. Mas, apesar do que tudo fica dito, o certo é que entre nós os ecos da ARCO quedaram-se pelo instantâneo do «encontro» diplomático com a Realeza de Espanha. Seja como for, o que importa é que se projectou internacionalmente o nome dos Açores cuja curiosidade foi acicatada pelas referências insulares nos trabalhos de Augusto Alves da Silva e nos mais recentes e promissores óleos de Maria José Cavaco.
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(post-scriptum: «Cabeças de Palha» é a próxima exposição da Fonseca Macedo que recebe pela primeira vez Sara Maia. Artista já consagrada a nível nacional Sara Maia apesar das suas raízes Açorianas só agora obtém o reconhecimento de uma individual em Ponta Delgada. Inaugura quinta-feira e pode ser vista até finais de Abril.)
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JNAS na Edição de 7 de Março do Jornal dos Açores
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