terça-feira, março 28
trabalhar de graça
Anda por aí uma polémica por causa dos três rapazes do Fala Quem Sabe e das suas dificuldades financeiras às mãos da RTP-A. Antes de mais deixem que vos diga que não sou particularmente admirador nem desse programa nem do da Tia Maria, aliás já comentei com gente responsável que há ali bastante potencial e talento de actor que está a ser desaproveitado e destruído por causa de maus guiões e maus textos. E é uma pena porque hoje em dia até há alguns rapazes em Lisboa, que até são açorianos, e que são guionistas profissionais do humor. Mas aqui é que a porca torce o rabo, é que eles são profissionais, vivem disso, não trabalham de graça. Esse, no meu entender, é que é o grande problema. Nos Açores ainda trabalhamos de graça ou quase de graça e há espertalhões, alguns, que se aproveitam disso, tanto de um lado como do outro. O problema está nessa exploração indevida do trabalho dos outros, nesta dependência, quase medieval, da troca de géneros, de favores ou de privilégios. Como é que se compreende e aceita sem pestanejar que quase 90% da opinião publicada nos pasquins regionais seja gratuita, a troco de exposição pública ou, mais grave, de dividendos políticos. Estamos a falar de trabalho intelectual que tem que ser pago e bem pago. O grande problema é que enquanto houver, à bicha, uma lista de pessoas dispostas a escrever de graça para jornais, revistas, rádios e televisões, a situação nunca vai mudar. O gosto pela escrita e o prazer de opinar devem ser remunerados. Se calhar os Fala Quem Sabe nunca deviam ter aceite trabalhar sem compensação financeira.
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