terça-feira, março 7

Ecos da ARCO


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«Uma Escultura Imaginária /Atlântico Norte / 37º48'0'' Lat (2º acontecimento relatado em 1997)», Óleo sobre tela de Maria José Cavaco - 2006 -
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Um velho brocado latino ensina que importa «primum vivere deinde philosophare», ou seja, em primeiro lugar importa ganhar a vida e só depois buscar o recreio do espírito. Porém, quando as necessidades da subsistência biológica estão satisfeitas, há que buscar o alimento da alma. Esta alimenta-se de todas as realizações do espírito humano que nos fazem diferentes dos restantes animais. Essa nobilíssima marca distintiva passa inevitavelmente pela Arte, cujo gosto vai refinando-se à medida que se abrem ao Mundo os olhos da alma. É com este olhar que a Galeria Fonseca Macedo foi criada e tem vindo a trabalhar desde o ano 2000. A sua existência não se fica pelo postal da foto social das várias vernissages que tem promovido pois, além disso, tem servido as artes plásticas e projectado os Açores em diversos fóruns culturais.

Recentemente a Galeria Fonseca Macedo marcou presença na ARCO de Madrid e desse feito foi dada a devida referência na imprensa nacional, nomeadamente, Diário de Notícias, Público, Expresso e até no especialíssimo Diário Económico. Nós por cá, dados à habitual vergonha pelo sucesso dos nossos conterrâneos, tratamos com displicente silêncio a nossa presença entre o que de melhor se faz actualmente no admirável mundo das artes plásticas ! Com efeito, descontadas algumas vozes dissonantes pela companhia do Presidente do Governo e respectivo séquito, que também esteve na ARCO, desta vez não se ouviram os habituais «grilos falantes» sempre prontos a sentenciar sobre os eventos culturais. Conhecida a dimensão e a realidade da ARCO só poderemos atribuir tal silêncio a puro desdém.

A ARCO é há 25 anos uma das maiores feiras de Arte contemporânea do Mundo e este ano entre 280 galerias, e aproximadamente 3000 artistas, marcaram presença 15 galerias Portuguesas, sendo uma delas a Fonseca Macedo. Não se julgue que esta participação dependeu apenas do voluntarismo dos seus responsáveis, pois a presença na ARCO depende de prévia candidatura que passa pelo crivo de um Júri de selecção que avalia o curriculum da Galeria e o respectivo acervo artístico. Para o efeito a Galeria Fonseca Macedo levou na bagagem os novos trabalhos de artistas plásticos Açorianos como Maria José Cavaco e Victor Almeida, e ainda Ruben Verdadeiro, jovem revelação Açoriana já com uma participação numa exposição colectiva em Serralves. Indubitavelmente estes artistas Açorianos possuem uma linguagem contemporânea capaz de ladear com qualquer referência nacional e internacional, o que aliás ficou comprovado pelo êxito que obtiveram na ARCO, designadamente, com a venda dos seus trabalhos para colecções particulares, mas também para galerias estrangeiras e, pelo menos, para uma fundação Portuguesa que investe em Arte contemporânea. Efectivamente, entre as sociedades abastadas a Arte é hoje um mercado de investimento como outro qualquer e, por exemplo, em Espanha ocupa o terceiro lugar de afectação de investimento. Não espanta pois que só o celebérrimo Museu Rainha Sofia tenha levado em carteira um orçamento a rondar um milhão de Euros que foram parcialmente investidos em obras de Vieira da Silva, José Pedro Croft e Vasco Araújo.

À nossa dimensão a Região, através da Presidência do Governo Regional, associou-se, e bem, à iniciativa da Galeria Fonseca Macedo subvencionando o respectivo stand na ARCO. Com este precedente os agentes culturais por certo reivindicarão da Presidência do Governo Regional a sua parceria para futuras iniciativas similares a este pioneirismo da Fonseca Macedo, sob pena de não o fazendo indiciar o favorecimento de alguns «artistas do regime» e respectivos «agentes culturais» em detrimento de outros. Mas, apesar do que tudo fica dito, o certo é que entre nós os ecos da ARCO quedaram-se pelo instantâneo do «encontro» diplomático com a Realeza de Espanha. Seja como for, o que importa é que se projectou internacionalmente o nome dos Açores cuja curiosidade foi acicatada pelas referências insulares nos trabalhos de Augusto Alves da Silva e nos mais recentes e promissores óleos de Maria José Cavaco.
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(post-scriptum: «Cabeças de Palha» é a próxima exposição da Fonseca Macedo que recebe pela primeira vez Sara Maia. Artista já consagrada a nível nacional Sara Maia apesar das suas raízes Açorianas só agora obtém o reconhecimento de uma individual em Ponta Delgada. Inaugura quinta-feira e pode ser vista até finais de Abril.)
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JNAS na Edição de 7 de Março do Jornal dos Açores
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