segunda-feira, março 27
Estive três dias nas Furnas com pessoas que não conhecia e gostei.
Parece que isto do retiro de bloggers nas Furnas está dar azo a um grande sururo de conversas (já para não falar da crónica do meu amigo João Nuno que está aqui em baixo...) sobre a importância e a autenticidade e os propósitos escondidos e o tanas, daquilo tudo. Eu sei que se calhar há coisas que mais vale ficarem a apodrecer na despensa exígua do neurónio esquerdo e que é estúpido eu estar agora aqui a falar nisso, mas como um dos problemas (e um dos temas que nós discutimos) foi o blogoarquipélago e a sua relação com a blogoesfera, cá vai uma das minhas conclusões sobre o que se passou este fim-de-semana: os blogues feitos nos Açores ou feitos por pessoas dos Açores estão condenados a ser açorianos, com tudo o que isso carrega de limitação geográfica e de regionalismo bacoco e de bairrismo, excepção feita para o Milton que vive no mundo da críptica tecnologia e até faz posts em inglês (já agora, obrigado Milton pelo Planeta Açores e como eu te invejo por não fazer também pots em inglês). Nós todos, no blogoarquipélago, não passamos de um bando de ilhéus neurasténicos convencidos da nossa superioridade moral, intelectual, política e sei lá mais o quê, tão convencidos que não queremos saber de mais nada e de mais ninguém e nem sequer queremos saber que há não sei quantas almas por esse mundo fora que se dão ao trabalho de ligar o computador, ligar a net, aceder a umas quantas páginas (sei lá: jornais, sites interessantes, sites porreiros, coisas infinitamente especificas e tão difíceis de encontrar que até na net são esquivas e porno, é claro que no meio há pornografia, pelo menos nos gajos há pornografia) e depois vêem o :ILHAS, o foguetabraze e por aí a fora da mesma maneira que alguns de nós se dão ao trabalho de ler blogues escritos em Lisboa, ou em Coimbra, ou em Londres, Nova Iorque ou no Rio de Janeiro. Mas aparentemente isso não nos interessa nada. Aparentemente só muito poucos de nós se aperceberam que os blogues podem e devem ser uma forma de aproximação e de conhecimento global. Este blogue (e éramos todos os cinco que estávamos metidos nisto meus amigos) organizou, produziu, um encontro, meeting, gathering, reencontre, (é assim que se escreve reencontre? Se não for digam qualquer coisa, obrigado) get together de bloggers. Uma coisa de três dias no Hotel Terra Nostra, curtir o parque, a piscina, cozido, relaxe e por aí a fora e coiso e tal e descanso e parece que de repente isso se tornou mais grave que a invasão do Bush no Iraque, que a eleição do Morales na Colômbia, que o CPE em França ou o facto do Koeman dar todas as semanas o beneficio da dúvida ao Beto. De repente 20 almas nas furnas são um drama manhoso do tamanho do inexistente aperto de mão do soares ao cavaco. Para que conste: o encontro de bloggers que teve lugar no belíssimo Hotel Terra Nostra nos dias 24, 25 e 26 de Março não foi político, não foi ideológico, não quis ser intelectual, não pretendeu resolver os grandes problemas da humanidade nem encontrar um desígnio para o futuro do país; a escolha dos convidados foi feita apenas com base na importância relativa (medida por mim) dos respectivos blogues no panorama da blogoesfera nacional e com o limitadíssimo critério do pouquíssimo dinheiro disponível para realizar um evento deste género. Mas acima de tudo o Encontro teve o perfil que teve porque nunca, mas nunca na vida, me passaria pela cabeça participar num encontro de blogues açorianos, não há pachorra para açorianos (pronto já disse) e já agora diga-se que não há pachorra para blogues açorianos da mesma maneira que não há pachorra para blogues do Barreiro ou da Baixa da Banheira ou de Freixo de Espada à Cinta ou do raio que o parta, qualquer blogue que seja de um determinado sítio é um blogue estúpido, com a excepção que confirma a regra do A Causa Foi Modificada, que é da Charneca da Caparica e é o melhor blogue deste infeliz país. Onde é que eu ia? Ah, ok. A todos/as as cabeças que questionam as intenções os propósitos e os convidados e a forma e a estrutura de uma coisa tão simples como um fim-de-semana no Hotel das Furnas com umas quantas pessoas com mais ou menos notoriedade pública neste mísero universo da língua portuguesa mal escrita, mal dita, mal lida (eu incluído, eu à cabeça) dos blogues portugueses, a todas essas pessoas eu digo isto: os blogues, o mundo, só fazem sentido se soubermos encontrar no outro, no que está para lá de nós e que é diferente de nós, um ponto de aproximação. Uma ferramenta tão Universal como os blogues ficar limitada a fronteiras geográficas ou de mera afinidade clubística é, para mim, um enorme absurdo. O Encontro que promovemos foi, tal como este blogue sempre quis ser, sem agenda, plural, eclético, anárquico, desgovernado, inoportuno, impetuoso, às vezes intempestivo, quase sempre com vontade de ser simpático, amigo do seu amigo, para alguns interessante, para uns inadmissível, para outros deslocado, mas acima de tudo verdadeiro, heterogéneo e preocupado em ser do mundo. Só assim é que faz sentido, pelo menos para mim.
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