terça-feira, maio 9

...Por enquanto tudo na mesma.

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«É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma» disse-o sabiamente Lampedusa num axioma que serve à justa na recente afinação operada no Governo Regional, cuja expectativa de remodelação foi, afinal, um verdadeiro flop. Mas, nem poderia ser de outra forma, pois a calibragem efectuada na distribuição de poderes no Governo Regional é feita com os mesmos ingredientes existentes há cerca de dez anos. Resta à propaganda do costume apostar na aparência de mudança e dinâmica quando, afinal de contas, tudo fica na mesma, porquanto, no elenco do Governo Regional permanecem as mesmas personagens dos episódios antecedentes e o script é apenas mais do mesmo.

Assim, com o mesmo casting e o mesmo enredo, as cenas dos próximos episódios da Governação Socialista não prometem quaisquer novidades. Claro que de vez enquanto há uma estrela da companhia que improvisa um registo diferente, sem que, contudo, cause qualquer abalo na estrutura da narrativa que soma e segue. O caso de Manuel António Martins, agora apelidado de tresloucado, mas outrora homem de confiança do PS, é um bom exemplo de que mesmo dentro do PS nada muda. Com efeito, ao invés de se aprofundar o debate do caso político de Manuel António Martins, o PS prefere o silêncio e o adiamento do contraditório para as calendas gregas de um julgamento sine die ! Fica assim à superfície a suspeita de que o caso de Manuel António Martins indicia uma estratégia de hegemonia da sociedade Açoriana pelo Governo do PS que aposta em estar presente em todas as instâncias de poder da sociedade civil. Como não houve qualquer debate ou inquérito parlamentar fica por esclarecer se as acusações de Manuel António Martins se reportavam a um caso isolado ou, ao invés, eram moeda corrente de gestão pela mão do anterior homem forte do PS junto da lavoura Micaelense. Cá por mim o pior deste estado de coisas, mesmo se dermos de barato que as acusações do ex-deputado Socialista têm pouco para debater, é que vivemos mergulhados num marasmo em que nada de substancial se debate! Nem "Portas do Mar", nem SCUT´s ou sequer as vicissitudes da gestão pública da rede de transportes aéreos além-mar ou marítimos inter ilhas.

Quem beneficia deste status quo é claramente o poder instituído que, numa cultura de silêncios, vive sem sobressaltos, programando na sua agenda as cenas dos próximos capítulos com absoluta indiferença pela crítica. Contudo, o pior que pode acontecer a qualquer poder é o desprezo pela crítica, quer de quem faz parte do elenco, de quem saiu da "entourage", ou de quem é mero espectador do palco da política. Por vezes o deslumbre narcisista dos poderes instituídos é de tal ordem que a companhia sobe à cena ainda extasiada com os níveis de audiência e popularidade que tinham no início do cartaz, sem que contudo perceba o desinteresse do público e o desalento dos dissidentes. Porém, no mundo das vidas reais, designadamente, da "realpolitik", nada fica na mesma para sempre.
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JNAS na Edição de 9 de Maio do Jornal dos Açores.
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