quarta-feira, maio 3

O Lado B do 25 de Abril


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Publicado o post «Cantigas de Abril» confesso que já esperava o habitual coro de impropérios e vozes de falsas virgens ofendidas acusando o mesmo ser um vil ataque à memória de Abril! Como pauto o meu conceito de democracia pela bitola da Liberdade pouca mossa causaram as confirmadas expectativas dos comentários pouco abonatórios que foram feitos. Não quero contraditar opinião diversa da minha que respeito e aceito... embora em matéria de Liberdade de consciência não pode valer nunca a tirania da maioria. Mas, por respeito a essa opinião oposta à que expressei no post em causa, cabe-me apenas esclarecer, quem eventualmente não quis ficar esclarecido, que o texto versava somente sobre o Lado B do 25 de Abril, porquanto, sobre o Lado A não faltam trovadores de serviço à causa.

Posto isto, factos são factos, pelo que, estranho a perplexidade de alguns, como por exemplo, o «camarada» Alexandre Pascoal, que se interroga quem terá sido o meu professor de história portuguesa contemporânea... porventura para acusar o dito pela responsabilidade da infame afirmação descabida de em Portugal termos resvalado para uma «deriva comunista»? Nesta matéria da história Portuguesa contemporânea, ou de sociologia hodierna, pouca mais-valia faria a referida formação pois, infelizmente, tenho já idade suficiente para recordar como autodidacta os idos do PREC! Seria fastidioso desenrolar aqui o extenso catálogo de cromos que, por métodos avessos à Democracia, cedo quiseram ficar donos do 25 de Abril, mas seria injusto não nomear o camarada Vasco Gonçalves e El Comandante Otelo Saraiva de Carvalho. Seriam estas personagens ficção? Creio que não.

Creio também que a maioria silenciosa que sobreviveu ao estilo de Democracia Popular que se pretendia importar, e que por cá se propagandeava com recepções épico proletárias a vampirescas criaturas como o ignóbil Ceuasescu, respirou de alívio quando teve a certeza que as ditas personagens ficariam para sempre retidas no limbo do imaginário folclórico de Abril. O facto de anualmente descerem a Avenida da Liberdade, de cravo ao peito, entoando baladas repetidas ad nauseam, era a excepção que confirmava a regra pois, de um modo geral, os referidos especímenes Abrilescos hibernavam o resto do ano no mofo das memórias da revolução.

Há quem diga que o PREC, as nacionalizações, a caça ao «facho», os saneamentos, a guerra civil nas antigas colónias, o abandono vil das populações autóctones de Timor, Angola, Moçambique e por aí fora, a reforma agrária e demais episódios de Abril, são acessórios em relação ao principal. São capazes até de replicar a existência de tais resíduos acessórios com a letra da Pedra Filosofal, cujo êxito musical, convenhamos, fora do contexto de Abril nunca teria acontecido. Aceito tudo isso, mas custa-me, contudo, aceitar que comentadores com inteligência acima da mediania, guarnecida com a devida bagagem cultural, façam vista grossa à vilania que povoou o Lado B do 25 de Abril. Com efeito o que escrevi, e reitero, era tão só a recuperação desse cântico negro do 25 de Abril que muitos dolosamente querem «banir» (palavra muito em voga nos tempos que correm) da história recente de Portugal.

Contudo, citando Vital Moreira, ex-camarada de topo do Partido Comunista e actual colaborador com o Partido da Rosa «o pior que pode suceder a uma colectividade nacional é deixar-se embalar pelas suas grandezas e perder a memória das suas misérias.» ...

(*) ilustra este post o único «facho» que merece a minha veneração...o resto é acessório.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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