sábado, maio 6

ÍCONES DO SEC. XX - # 7

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Sigismund Schlomo Freud, ou simplesmente Freud, foi e é indubitavelmente um ícone do Século XX. Em suma: um verdadeiro sex simbol do Século passado. Nado em Frieburg, na obscura Morávia, viveu a maior parte da sua vida em Viena acabando os seus dias em Londres, nessa intemporal Pátria da Liberdade que é a Inglaterra sempre pronta a acolher os exilados de Nações vítimas de derivas totalitárias.

Freud foi pela sua obra e personalidade uma figura fascinante do Século XX, cujo legado é ainda hoje motivo de acesas polémicas académicas. Contudo, a sua obra e a mestria das suas teorias causaram verdadeiros abalos sísmicos na vida do homem comum. A doutrina Freudiana corroeu os alicerces dominantes do positivismo e do livre arbítrio que, no Sec. XIX, tinham sido elevadas à categoria de sacrossantos dogmas explicativos da acção humana.

Com a «Interpretação dos Sonhos»(1900), obra seminal de Freud, este fundou a psicanálise cujas coordenadas plasmou num livro que é ainda hoje um dos mais importantes best-sellers do Sec. XX. Na «Interpretação dos Sonhos» Freud teorizou e sistematizou as bases da psicanálise advogando que na patine dos nossos sonhos encontramos a estrada para a dinâmica do subconsciente que motiva e justifica a nossa psique. Mas quem foi Freud por detrás do ícone?

Resumidamente : Em 1873 Freud era apenas mais um aluno que ingressava nos bancos da Faculdade de Medicina da Universidade de Viena obtendo a respectiva licenciatura em 1881. Logo no ano seguinte desposou Martha Bernays cuja fecunda união deixou uma vasta prole de seis filhos, entre os quais Anna que seguiu as pisadas do pai assumindo também a carreira de psicanalista. Em 1895, conjuntamente com Josef Breuer, publicou os «Estudos sobre Histeria» que seriam um ensaio para a obra maior de 1900 que, como se disse, é a «Interpretação dos Sonhos». Nesta obra, que se pretendia de carácter científico, Freud teorizava que os sonhos são manifestações de pulsões sexuais reprimidas durante a infância. Mas, a psicanálise levou-o mais longe e na obra «Psicopatologia Quotidiana» (1901) defendeu a possibilidade da construção de memórias falsas reportadas à infância. Assim, parte do nosso imaginário seria falsificado e incompleto, ou até deslocado em termos temporais e espaciais, por camadas subsequentes da nossa vivência ou até pelos constrangimentos morais e sociais do Superego.

Contextualizar hoje Freud é aceitar que falamos de um homem que esteve na vanguarda do Sec. XX. Mas o Dr. Freud era também uma criatura de comportamentos obsessivo-compulsivos. Com efeito era um dandy e um maníaco do asseio, pelo que, era diariamente visitado por um barbeiro que lhe tosquiava as pilosidades de que tanto se vangloriava. Era supersticioso e um colector compulsivo de estatuetas antigas que idolatrava com fervor museológico. Por outro lado, tinha por vício o consumo desmesurado de charutos, que continuou a fumar mesmo depois de ter sido violentamente intervencionado cirurgicamente a um cancro da boca, do qual, aliás, não sobreviveu. Mas até na morte Freud foi vanguardista pois assumiu conscientemente a eutanásia com uma overdose de morfina. Nada que cause grande espanto pois a sua relação com as drogas remontava ao início da sua carreira clínica onde fez uso e abuso da maldita cocaína para fins «terapêuticos», até que, com a morte de um companheiro de «terapia», deu conta dos efeitos colaterais que rotulou como «cocaine psychosis».

Com ou sem cocaína, Freud transformou-se num ícone popular com as suas teorias sobre o desenvolvimento psicosexual, sendo inclusivamente pioneiro na investigação da sexualidade infantil, teorizando que o desenvolvimento sexual da criança segue por etapas, desde a gratificação oral, própria da amamentação, até ao período fálico onde a criança se defronta com o complexo de Édipo (ou de Electra no caso das meninas) que, para Freud marcava a nossa existência. A propósito em «Moisés e a Religião Monoteísta»(1938) disse que «um herói é quem se levantou corajosamente contra o seu pai, acabando por vencê-lo».

Enfim, para Freud o ser humano nasce «polimorficamente perverso», pelo que, a libido, naturalmente, tem múltiplos objectos que são fonte de prazer. Contudo, apesar dessa liberal percepção da sexualidade, Freud não foi particularmente simpático a propósito da psicologia feminina, pois acreditava que as mulheres eram uma espécie de subproduto da natureza, porquanto, a falta de um pénis faria delas um arremedo de macho mutilado em permanente conflito de aceitação da sua condição, o que em casos agudos poderia resvalar na indefinição misógina.

Freud sempre acreditou que as forças que comandavam a nossa natureza tinham por ascendente a energia libidinosa de Eros e a percepção de mortalidade de Thanatos. Porém, na concentração de forças opostas dos instintos primários do Id, em luta permanente com os out-puts da moral dominante do Superego, o desafio do ser humano residia em lograr alcançar um Ego forte e saudável.

Mas, uma das maiores pechas da teoria Freudiana reside em reduzir a conduta humana à condição animalesca de seres sexualmente condicionados. A outra foi ter tido a pretensão de aplicação Universal das suas teorias esquecendo as suas próprias palavras pois disse e bem que «devemos lembrar-nos de que o provável não é necessariamente certo, nem a verdade é sempre provável.» (in «Escritos sobre Judaísmo e Anti-Semitismo» Editados entre nós pela Ed. Vega.)

O capítulo final da vida de Freud é contemporâneo do nazismo. Assim, com a subida ao poder de Hitler um Judeu iconoclasta e influente como Freud era um alvo a abater. Após os eventos da «noite de cristal» Freud ironiza: «Grandes progressos alcançou a humanidade. Na Idade Média teria sido queimado. Actualmente os torcionários satisfazem-se queimando os meus livros.» Porém, a besta nazi não era motivo de ironia e sarcasmo, mas de profunda inquietação e Freud arriscava-se a ser literalmente queimado como os seus livros. Mais tarde, com a Anschluss da Áustria, Freud, à cautela, exilou-se em Londres e num escrito sobre «Anti-Semitismo na Inglaterra» escreveu com desalento o seguinte: «Cheguei a Viena, quando tinha quatro anos. Depois de setenta e oito anos de assíduo trabalho tive de deixar a minha casa, vi dissolver-se a sociedade científica que eu tinha fundado, as nossas instituições destruídas, a nossa editora ocupada pelos invasores, os livros que eu publicara reduzidos a polpa, os meus filhos expulsos das suas ocupações. A perseguição actual não deveria, antes, dar lugar a uma onda de simpatia?»

Faleceu pouco tempo depois em Setembro de 1939 sem antever a vitória dos Aliados e da Liberdade sobre o horror do holocausto.
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Freud nasceu a 6 de Maio de 1856.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa.

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