terça-feira, janeiro 17

um Mário Soares vitorioso

Grassa por aí o tremendo equívoco de que Mário Soares se prepara para ser imolado no cepo do pelourinho democrático. Algumas cabeças bem pensantes esforçam-se por nos convencer que uma possível derrota de Soares, catastrófica então se for na cauda de Alegre, constitui a maior e mais triste derrota de um político que devia ter tido o bom senso de, qual prima-dona em reforma dourada, se manter longe dos palcos eleitorais. Há neste pensamento algo que não joga. Eu percebo a estratégia, mas, meus amigos, isto manifestamente não cola. É que a democracia não tem faixa etária, nem cátedra, nem jubilação. A democracia é um vivencia diária aberta a todos os escalões etários, acima dos 18 anos e que eu saiba até hoje sem nenhuma lei que imponha o abaixo dos 81. Seja qual for o resultado das eleições de 22 deste mês Mário Soares sairá sempre triunfante. Ganhou a batalha pelo debate democrático, ganhou a batalha pela república, pelo parlamentarismo, pelo sistema partidário, pela política feita de gente, gente com alma, com defeitos, com emoções, gente que come bolo-rei em público sem medo, gente humana. O que Mário Soares veio a terreiro demonstrar é que a verdadeira democracia é feita por pessoas e não por santos de pau oco imbuídos de falsos poderes mágicos. Soares, ao contrário de outros, mais novos, talvez com maiores obrigações neste confronto do que ele, não se absteve de entrar no confronto, expondo-se de forma aberta e enormemente corajosa, numa batalha pela democracia de 1974. Esse, seja qual for o resultado de 22, será sempre o seu grande legado. Soares levanta-se contra um candidato que não bebe, que nem sequer um livro preferido é capaz de nomear, um candidato que não discute, que não debate, que acredita no pensamento único, um candidato que fugiu da arena desde 1995 para agora vir enganar as pessoas com uma falsa imitação de Roque Santeiro de Boliqueime. Aconteça o que acontecer no dia 22, Soares é vitorioso porque não se absteve de fazer o que precisava de ser feito - lutar pelos valores da democracia.

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