segunda-feira, janeiro 23

Os desafios de Cavaco

...O austero e espartano Cavaco Silva terá que gerir com parcimónia e sapiência o tangencial superávit de votos que mereceu a sua candidatura. Na urna, a favor de Cavaco Silva, a distribuição de votos penalizou o candidato do partido do Governo e, paradoxalmente, apostou em quem terá a árdua tarefa de caucionar a governabilidade do País!

Os trabalhos de Cavaco não serão por certo de dimensão Hercúlea, mas não deixam de constituir um gigantesco desafio, especialmente, na demanda da retoma do caminho certo para a saída do labirinto pantanoso da crise na qual mergulhou o Estado Português. Efectivamente, além do deficit financeiro, cuja etiologia o Professor Cavaco domina, Portugal está corroído por um deficit de credibilidade e de autoridade que o Presidencial Cavaco terá que combater. Foi para esse trabalho que foi eleito e nunca para o condicionamento das opções de política económica do Governo. Aliás, consciente desta realidade contida pelo actual enquadramento Constitucional do regime semi-Presidencialista, Sócrates não teve qualquer pejo de, na última semana de campanha, avalizar um dos maiores aumentos do preço dos combustíveis dos últimos anos.

Logo, o verdadeiro desafio de Cavaco Silva será o de correr a maratona da credibilidade e da autoridade. A corrida que Jorge Sampaio não quis disputar. Na verdade, Sampaio foi um dos principais responsáveis pelo rumo titubeante que Portugal tem trilhado nos últimos anos. Não soube exercer a sua «magistratura de influência» e pontuou o seu consulado com exercícios de retórica capazes de exasperar o mais paciente dos cidadãos. Como se isso não fosse suficiente, guardou sempre junto do coração o cartão de militante Socialista, sucumbindo à tentação de fazer uso do mesmo para dissolver uma Assembleia da República eleita em eleições livres, democráticas e com resultados inequívocos. Todavia, em momento algum Sampaio percebeu que ele próprio não era parte da solução, mas sim do problema. Contra este status quo o povo Português votou em Cavaco Silva, porventura, por julgar que este será parte da solução.

Cavaco Silva possui agora uma musculada legitimação eleitoral tendo alcançado, no primeiro «round», o topo da hierarquia do Estado Português contra uma espécie de «frente popular» que congregou um naipe de notáveis da Esquerda Portuguesa. Esta, como se sabe, não teve a lucidez de arregimentar as suas tropas sob o comando de um só «Comandante», pelo que, pouco valor terão os seus queixumes contra a «moeda» que entrou em circulação a partir de 23 de Janeiro. Habituem-se, pois a dita «moeda», boa ou má conforme o gasto que dá, estará por aí tendo curso legal por largos anos! Valorizar essa moeda será um dos desafios de Cavaco Silva, mas o maior desafio de Cavaco será o de ser, efectivamente, o Presidente de todos os Portugueses...incluindo os Açorianos, especialmente porque nos Açores Cavaco venceu com uma percentagem superior à nacional!
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Post-Scriptum : Honrosamente Manuel Alegre liderou a Esquerda nestas eleições e paradoxalmente contribuiu para uma retumbante derrota do Partido Socialista e da sua direcção que perdeu, sem apelo nem agravo, não merecendo sequer o benefício da dúvida de uma 2ª volta. Este resultado foi também um enxovalho para Mário Soares e um cartão amarelo ao Eng.º José Sócrates. Este contudo ainda teve a deselegância de «censurar» em directo o discurso de Manuel Alegre. O homem que o boneco da contra informação parodiava com o pregão «a mim ninguém me cala», foi silenciado em directo por José Sócrates, que dolosamente não quis esperar que Manuel Alegre terminasse a sua intervenção. Escandalosamente Sócrates atropelou-o mediaticamente revelando um carácter impróprio de um verdadeiro democrata. Como não há duas sem três resta saber o que Sócrates fará nos próximos tempos a Manuel Alegre.
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João Nuno Almeida e Sousa, na Edição de 24 de Janeiro do Jornal dos Açores

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