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Os trabalhos de Cavaco não serão por certo de dimensão Hercúlea, mas não deixam de constituir um gigantesco desafio, especialmente, na demanda da retoma do caminho certo para a saída do labirinto pantanoso da crise na qual mergulhou o Estado Português. Efectivamente, além do deficit financeiro, cuja etiologia o Professor Cavaco domina, Portugal está corroído por um deficit de credibilidade e de autoridade que o Presidencial Cavaco terá que combater. Foi para esse trabalho que foi eleito e nunca para o condicionamento das opções de política económica do Governo. Aliás, consciente desta realidade contida pelo actual enquadramento Constitucional do regime semi-Presidencialista, Sócrates não teve qualquer pejo de, na última semana de campanha, avalizar um dos maiores aumentos do preço dos combustíveis dos últimos anos.
Logo, o verdadeiro desafio de Cavaco Silva será o de correr a maratona da credibilidade e da autoridade. A corrida que Jorge Sampaio não quis disputar. Na verdade, Sampaio foi um dos principais responsáveis pelo rumo titubeante que Portugal tem trilhado nos últimos anos. Não soube exercer a sua «magistratura de influência» e pontuou o seu consulado com exercícios de retórica capazes de exasperar o mais paciente dos cidadãos. Como se isso não fosse suficiente, guardou sempre junto do coração o cartão de militante Socialista, sucumbindo à tentação de fazer uso do mesmo para dissolver uma Assembleia da República eleita em eleições livres, democráticas e com resultados inequívocos. Todavia, em momento algum Sampaio percebeu que ele próprio não era parte da solução, mas sim do problema. Contra este status quo o povo Português votou em Cavaco Silva, porventura, por julgar que este será parte da solução.
Cavaco Silva possui agora uma musculada legitimação eleitoral tendo alcançado, no primeiro «round», o topo da hierarquia do Estado Português contra uma espécie de «frente popular» que congregou um naipe de notáveis da Esquerda Portuguesa. Esta, como se sabe, não teve a lucidez de arregimentar as suas tropas sob o comando de um só «Comandante», pelo que, pouco valor terão os seus queixumes contra a «moeda» que entrou em circulação a partir de 23 de Janeiro. Habituem-se, pois a dita «moeda», boa ou má conforme o gasto que dá, estará por aí tendo curso legal por largos anos! Valorizar essa moeda será um dos desafios de Cavaco Silva, mas o maior desafio de Cavaco será o de ser, efectivamente, o Presidente de todos os Portugueses...incluindo os Açorianos, especialmente porque nos Açores Cavaco venceu com uma percentagem superior à nacional!
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Post-Scriptum : Honrosamente Manuel Alegre liderou a Esquerda nestas eleições e paradoxalmente contribuiu para uma retumbante derrota do Partido Socialista e da sua direcção que perdeu, sem apelo nem agravo, não merecendo sequer o benefício da dúvida de uma 2ª volta. Este resultado foi também um enxovalho para Mário Soares e um cartão amarelo ao Eng.º José Sócrates. Este contudo ainda teve a deselegância de «censurar» em directo o discurso de Manuel Alegre. O homem que o boneco da contra informação parodiava com o pregão «a mim ninguém me cala», foi silenciado em directo por José Sócrates, que dolosamente não quis esperar que Manuel Alegre terminasse a sua intervenção. Escandalosamente Sócrates atropelou-o mediaticamente revelando um carácter impróprio de um verdadeiro democrata. Como não há duas sem três resta saber o que Sócrates fará nos próximos tempos a Manuel Alegre.
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João Nuno Almeida e Sousa, na Edição de 24 de Janeiro do Jornal dos Açores
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