segunda-feira, janeiro 16
OS DIAS DO FIM
Finalmente José Sócrates veio dar o braço a Mário Soares. No Porto, apelando à mobilização de todos, o Primeiro Ministro entrou de muletas na campanha para decretar que «um Presidente da República não é eleito em função das conveniências do Governo. Apoiamos Soares porque isso convém a Portugal».
Claro está que nesta doutrina há um grosseiro lapsus linguae pois o apoio da candidatura a Mário Soares convém sobremaneira ao Partido Socialista. É uma dupla conveniência, porquanto, a eventual eleição de Mário Soares a par de revestir a jubilação de uma carreira seria também uma caução para a rédea livre das políticas do Governo de José Sócrates. Dito de outro modo: há um regresso ao passado que garante a sobrevivência do presente avalizando o futuro imediato.
Mas o certo é que Mário Soares não simboliza o futuro! Para contornar a realidade geriátrica da candidatura do Partido Socialista, Mário Soares remeteu-se à evocação de um passado nostálgico cujas virtudes atribui a si próprio. Nesse mesmo álbum de memórias o «mafarrico» é Cavaco, pai infausto de todas as iniquidades que se abateram sobre Portugal e, em contraponto, a família Soarista é a mãe de todas as prebendas que nos foram outorgadas.
Assim, há que reforçar o curriculum do paterfamilias que além de ex-Primeiro-Ministro, ex-Presidente da República, e até ex-Eurodeputado, foi o querido líder que nos salvou do comunismo terceiro-mundista e nos lançou rumo aos alvores gloriosos da União com a Europa. Efectivamente, numa mitomania que não convence ninguém, Mário Soares engendrou um discurso de campanha centrado no seu umbigo e na delirante visão de que ele é o grande arquitecto de todas as reformas do Portugal Moderno. Sabendo que é apenas parte da história omite os episódios negros dos anos em que teve na mão o leme do país, mas aparece apostado em demonizar o passado de Cavaco Silva. A obsessão permanente com Cavaco Silva, que vai equilibrando com uma birra com a comunicação social, mostra o deserto de ideias da campanha de Mário Soares, deixando no ar a triste miragem de que afinal o grande Senador da República Portuguesa é um mero joguete nas mãos dos caciques do poder Socialista... um apparatchik cor-de-rosa igual a tantos outros.
Todavia, os efeitos perversos da diabolização do malévolo Cavaco que, para Mário Soares encarna o retrocesso da Pátria, já dispararam nas sondagens colocando o candidato do Governo atrás de son ami Manuel Alegre! A confirmarem-se os valores proféticos das sondagens não havia necessidade de os dias do fim de Mário Soares serem tão inglórios.
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João Nuno Almeida e Sousa, na Edição de 17 de Janeiro do Jornal dos Açores
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