sábado, janeiro 21

ÍCONES DO SEC XX - # 6



«All animals are equal but some animals are more equal than others»
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George Orwell foi o nome literário, ou pen name como lhe chamam nas terras de sua Majestade, de Eric Arthur Blair nascido na Indía, Jóia da Coroa Britânica, e que viveu os verdes anos da sua juventude na não menos verdejante Inglaterra. A adopção do seu pseudónimo resultou da conjugação do nome George, em tributo ao Santo Patrono da Inglaterra, com o apelido Orwell referente ao rio de Suffolk inscrito no mapa da geografia sentimental do escritor. Em suma: George Orwell foi um verdadeiro e genuíno Inglês.

Educado no prestigiado Eton College carregou, para o resto da sua vida, o lastro civilizacional da «lower-upper-middle class» típico de uma geração apanhada no meio das convulsões do Sec. XX.

Em 1921 parte para a colónia de Burma para servir no corpo da Indian Imperial Police. Regressa à Europa em 1927 tendo sido contagiado por uma virulenta repulsa do Imperialismo. Esse asco é bem retratado em «Burma Days», uma novela editada em 1934, e que é uma mordaz e impiedosa crítica ao Imperialismo Britânico. Contudo, bem ao estilo de Orwell, a crítica faz-se pelo retrato da corrupção moral de um indígena que, com as armas da burocracia do Império, ascende a magistrado local com total domínio dos podres da colónia.

Antes dessa novela Orwell faz a sua estreia literária em 1933 com o livro «Down and Out in Paris and London». Este é um relato «jornalístico» da pobreza urbana, que o próprio Orwell sentiu na pele, e que reflecte indubitavelmente a influência literária de Jack London que, como se sabe, publicou o notável «Povo do Abismo» retratando o quotidiano lupanar dos indigentes na cidade de Londres no início do Sec. XX. Entre nós o referido Livro de Jack London está traduzido pela mão da Antígona e merece uma leitura em paralelo com «The Road to Wigan Pier» (também traduzido recentemente pela Antígona e absolutamente indispensável em qualquer Biblioteca!), outra grande obra de Orwell que relata cruamente o dia-a-dia dos mineiros. Esta obra causou polémica entre a esquerda Britânica, especialmente no interior do seu partido, o Independent Labour Party, pois a obra encomendada para reportar as condições de vida das classes trabalhadoras do norte de Inglaterra tinha ido além do desejado. Em «Wigan Pier» Orwell deixa exposta uma radiografia desapiedada do real socialismo, porquanto, «maioria dos socialistas de classe média, embora em teoria concordem com uma sociedade sem classes, agarram-se com unhas e dentes aos seus miseráveis restos de prestígio social.»

Mais tarde, em 1936, George Orwell encontra-se nas «trincheiras» Republicanas tomando assim partido na Guerra Civil Espanhola até que, gravemente ferido no pescoço, é obrigado a abandonar a sua militância «republicana» em terras ibéricas. Desses dias fica mais um registo autobiográfico em «Homenagem à Catalunha» e um processo de perseguição política perpetrado pelos comunistas alegando a conduta desviante e supostamente anarco-trotskysta do antigo camarada de armas.

Durante a II Grande Guerra, George Orwell, foi um activista convicto da sua Pátria o que se percebe bem no ensaio «My Country Right or Left» pois, afinal de contas, «Patriotism has nothing to do with conservatism. It is devotion to something that is changing but is felt to be mystically the same.». Ao proferir estas sábias palavras por certo que Orwell tinha em mente a tradição Democrática, Liberal e Parlamentar da sua Pátria.Efectivamente, Orwell foi um socialista que sempre repudiou os quatro ismos: Imperialismo-Fascismo-Comunismo-Capitalismo!

A sua obra é, consequentemente, uma reflexão sobre a condição humana e um hino à Liberdade. Daí que tenha produzido «Animal Farm» (1946) e «1984» (1949), duas notáveis e seminais obras literárias amplamente divulgadas Mundo fora (pelo menos no Mundo Livre).

«All animals are equal but some animals are more equal than others» é um axioma deOrwell que, infelizmente, não perdeu o prazo de validade. A obra e a vida de George Orwell são, ainda hoje, uma notável declaração de princípios contra o totalitarismo, e o adjectivo Orwelliano ainda serve para resumir o sentido de um governo inimigo da Liberdade.

Orwell sempre quis ser um «escritor» e é como tal que será recordado entre os melhores do seu tempo. Em «Why I Write» o escritor Orwell mergulha nas razões da sua circunstância pessoal para perceber a motivação da pulsão que sentia pela escrita desde a infância. Em conclusão arriscou afirmar que o que faz correr a pena de qualquer escritor resume-se a «puro egoísmo», «entusiasmo estético», «impulso histórico», e «um objectivo político», o.s. «desire to push the world in a certain direction, to alter other people´s idea of the kind of society that they should strive after. No book is genuinely free from political bias. The opinion that art should have nothing to do with politics is itself a political atitude.».

Pena é que os seus livros sejam escassamente traduzidos entre nós, contribuindo para o caudal de uma geração «analfabruta» que até arriscaria afirmar que o autor da celebérrima advertência «Big Brother is watching you» é também o criador do «Big Brother», o globalizado TV-Show que usurpou e descontextualizou as palavras de Orwell.

George Orwell morreu em 21 de Janeiro de 1950 vítima de tuberculose contraída nos seus tempos de indigência .
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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