sexta-feira, julho 4

Vergonha

Não vou postar o vídeo que capta o sofrimento de Esmin Green numa sala de espera da ala psiquiátrica do Hospital de King's County, em Brooklyn, Nova Iorque, e a inexplicável passividade de uma série de funcionários clínicos e de segurança, que a vêem e nada fazem, até à sua morte, 45 minutos depois. Decidi assim por vergonha. Sim, vergonha.
Tenho vergonha de um mundo que vê uma pessoa inanimada e pensa nas eventuais consequências pessoais de uma decisão que é um imperativo ético. Tenho vergonha de um mundo que admite um sistema de saúde assente na lei da selva, onde quem pode vive e quem não pode morre. Tenho vergonha de um mundo que ainda tem dúvidas sobre a parcela de culpa própria que podem ter os doentes psiquiátricos. Tenho vergonha de um mundo que prefere defender-se do incómodo a lutar incomodado, um mundo que se escuda na vida pessoal para justificar a inacção cívica, um mundo de chinelos e pijama, um mundo caniche, e não um mundo cão.
Se quiserem ver do que estou a falar, têm aqui o link. Não vos aconselho, contudo. E nem o despedimento de três responsáveis pela urgência psiquiátrica, do médico que estava de serviço e do funcionário da segurança, me faz dormir melhor. A vergonha não sai dormindo, nem lavando. A vergonha é para sempre.

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