quinta-feira, julho 17
Franklin Delano Roosevelt estudou Direito na Universidade de Harvard, mas fê-lo por imposição familiar. Não fosse ele um filho obediente, ter-se-ia inscrito na Academia Naval, em Annapolis, destino muito concorrido para uma geração – a sua – de jovens americanos que tinham lido de forma apaixonada a obra recente de Alfred Thayer Mahan, The Influence of Sea Power upon History (1890). As doutrinas do poder naval – de que o livro de Mahan é a primeira grande expressão teórica – marcarão de forma determinante a vida e a visão do mundo de Franklin Roosevelt, cuja estreia política ao nível do Governo Federal foi, precisamente, no desempenho das funções de Subsecretário da Marinha, sendo nessa qualidade que visitou as ilhas dos Açores em Julho de 1918, faz hoje 90 anos. Tem isto a ver com a iniciativa que o André já noticiou há uns posts atrás e que em boa hora a FLAD e o Governo dos Açores resolveram organizar a meio do Atlântico. Dirão os habituais surfistas da notícia que se trata de mais um daqueles Colóquios académicos, pródigos em questões bizantinas sem qualquer utilidade prática, mas ontem assisti no Teatro Micaelense ao início de uma reflexão estratégica sobre o lugar dos Açores na esfera global do século XXI – ou, num mundo apolar, para usar a expressão de António José Telo – que, confesso-o, me fez arrebitar as orelhas. Sob o signo de Roosevelt – assim o espero – começou ontem a exorcizar-se nas ilhas de bruma a ladainha da ultraperiferia. Gostei de ouvir a Cônsul Jean Manes falar da centralidade do arquipélago para o estudo das alterações climáticas (por alguma razão o Coronel Francisco Afonso Chaves e Alberto do Mónaco queriam transformar os Açores, em finais do século XIX, na sede mundial do Observatório Meteorológico). Gostei de ouvir o Presidente do Governo, Carlos César, “candidatar” os Açores a sede do Africa Command (sempre estou para ver o destaque que a comunicação social irá dar a essa declaração, bem pouco académica). Na conferência que encerrou os trabalhos de ontem, foi dito que houve qualquer coisa em 2008 que fez um click na ordem mundial. Vivemos hoje numa era (já) pós 9/11 ou, por outras palavras, no Post-American World de que fala Fareed Zakaria. Não sendo eu um oráculo das Relações Internacionais, só posso assegurar-vos uma coisa, blogosfera: ontem houve qualquer coisa que fez um click nos Açores.
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