terça-feira, julho 1

Insustentável

Insustentável *

A Região, o país e o mundo viveram recentemente, de forma real e concreta, os efeitos da crise – primeiro, dos combustíveis; depois, dos alimentos. Esta é uma crise de contornos económicos, mas com ampla repercussão social. E como só agora se manifestou, de forma gravosa, ainda não há forma de se avaliar a sua real dimensão. A Globalização ripostou. Através de um, aparentemente simples, bloqueio de camionistas, o país quase parou e o que antes parecia ser ficção passou agora para o directo dos noticiários. Algo que nunca antes havíamos vivenciado transformou-se num fenómeno de repercussões europeias e multiplicou-se por toda a Europa. A nossa paralisação foi “mínima”, se comparada com as dos nossos congéneres europeus.

Nunca o local condicionou de tal forma implacável o global. No cerne desta crise está a crescente especulação dos combustíveis e a forma directa como estes afectam o nosso modo de vida. Os problemas estão há muito diagnosticados, mas as cedências necessárias a um equilibro, que se quer natural, dependem de cada um de nós (estados e países, incluídos!). Sabemos de antemão que o entendimento nestas questões nunca será total, nem pacífico, que este é um mundo a duas ou mais velocidades, e que apenas confrontados com uma situação limite ou catastrófica passaremos à acção. Agora, atingido o bem-estar social na globalidade do hemisfério norte (e mesmo aqui com as disparidades que conhecemos) exigimos ao, por nós chamado Terceiro Mundo, que agora começa a usufruir de algum conforto material, que abdique do mesmo em prol de um mundo melhor. Nada mais falível.

Esta é uma crise transfronteiriça que não escolhe governos, partidos e políticos. Parte da resolução deste problema energético passa por uma profunda, persistente e contínua mudança de comportamentos, quer na racionalização, quer na adopção de boas práticas em torno dos recursos de que fruímos. Alguns consideram as medidas a tomar na tentativa de contenção do aquecimento global alarmistas, inúteis, extremamente dispendiosas e com poucos benefícios para a maioria da população mundial, pois existem outros problemas no mundo a carecer de resoluções urgentes. Certo! E soluções consensuais?! Alguém?!

O altruísmo com que encaramos esta situação é suficientemente revelador da atitude egoísta e irresponsável com que gerimos o planeta. Até quando será possível mantermos esta posição insustentável? Até quando?!


* edição de 24/06/08 do AO
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*** Imagem X José Albergaria

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