quinta-feira, maio 29

Uma revolução de mentalidades

“A Cultura do Ananás – Presente e Futuro” foi o tema da palestra do Dr. Manuel Arruda integrada nas Comemorações dos 475 anos da Freguesia de Fajã de Baixo. Tema que mereceu a destacada atenção de diversos produtores deste primor da nossa Terra. Tema que mereceu também a polémica esperada num sector que vive em permanente estado de crise sobrevivendo nos limites da sustentabilidade. Tema que, infelizmente, não mereceu a atenção de todas as “forças vivas” da Freguesia que não quiseram partilhar em debate as suas perspectivas e o seu acervo de experiências. A cultura do ananás é hoje, à sua escala, um modelo da estagnação da nossa economia dita de superávit e de apregoado sucesso. Serve de exemplo o facto de o preço médio de venda do ananás, produto regional que é um ex-libris dos Açores, ser sensivelmente o mesmo desde 1995 ! Por outro lado, os custos de produção dispararam em flecha sem ser previsível a inversão dessa tendência. O estado da cultura do ananás é também sintomático de uma Região que caminha de olhos vendados para uma absoluta terciarização da nossa economia. De facto, que produzimos nós além de serviços? Com efeito, todas as indústrias Açorianas estão em crise. Esta até já inquinou a saúde e prosperidade da indústria de lacticínios, como sugere o actual estado de “guerrilha” entre cooperativas. Nos diversos sectores da nossa economia há uma longa reestruturação empresarial, legislativa e cooperativa que urge ser realizada. Esta reestruturação só será possível se for acompanhada cientificamente pelas estruturas que a Região edificou não só para licenciar gente, mas também para potenciar a investigação aplicada às necessidades Regionais. Contudo, há uma revolução que não pode ser imposta por decreto ou por cátedra. O “Povo Açoriano”, – género antropológico que tanta urticária causou nos deputados da República que visaram e censuraram o “nosso” Estatuto -, é useiro e vezeiro em repudiar a sua própria identidade. Esta é também a identidade dos nossos produtos e da nossa Terra. Enquanto tivermos empresários e comerciantes a vender gato por lebre não honramos a nossa identidade. Quando se ouvem relatos de que se impigem aos nossos turistas abacaxis como se fossem “St Michael pineapples”; ou de que se serve na nossa restauração o genuíno “Bife à Micaelense”, com matéria-prima nada e criada nas pampas uruguaias; ou ainda de que se vende “artesanato local” despudoradamente made in China; está tudo dito. A maior reforma deste “Povo Açoriano” não é legislativa ou económica mas sim de mentalidades. Essa é que é a revolução que nos falta fazer.

joaonuno@jornaldiario.com

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