segunda-feira, maio 26

Crise do Futuro


O mundo está em crise financeira por causa do futuro. O petróleo, por exemplo, não custa o que se paga por ele hoje mas sim o que se estima vir a pagar dentro de três ou seis meses; os cereais, por outro lado, não custam o que custam a produzir mais a margem de lucro, custam antes o que custam a produzir, mais a margem de lucro, mais a banda especulativa em bolsa, mais a percepção da evolução a médio prazo do preço.
O futuro é, por natureza, motivo de especulação. Como não é possível prevê-lo com exactidão, há uma margem interpretativa, com base nos dados do presente e em experiências do passado, que, quando estamos a falar de bens ou produtos quotados em bolsa, nos permite ganhar dinheiro, muito dinheiro. O objectivo principal é comprar hoje a um preço futuro que seja mais baixo hoje do que será no futuro. Ou melhor dito, prever o preço futuro e comprar abaixo desse valor.
Assim sendo, os bens mais essenciais estão hoje, à escala global, sujeitos a um jogo que tem muito pouco a ver com o binómio oferta-procura e que passou a depender, em larga escala, da pressão especulativa. Hoje, o capital que interessa não é o capital utilizado na máquina produtiva, é o capital investido na máquina financeira. O produto ou o serviço passaram a constituir apenas um pretexto em cima do qual se constrói toda uma enorme e intrincada rede de investimentos financeiros, que se alimentam uns dos outros.
Este absurdo económico, a que se chama mercado de futuros, é vagamente taxado, relativamente inspeccionado e muito debilmente discutido. Será assim enquanto a maioria das pessoas achar que também pode comer uma fatia do bolo.

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