quinta-feira, maio 22

O Samba de Viseu


A Selecção Nacional de Scolari não parece uma equipa de futebol, parece um grupo de auto-ajuda. Pouco se fala de técnica ou de táctica, pouco se debate sobre o modelo ou o sistema de jogo. Mesmo quando se discute um jogador, discute-se mais o perfil, o relacionamento com o grupo ou com o "mister", do que a qualidade técnica ou o seu momento de forma. Contudo, fala-se muito de espírito de equipa, de fé, de uma grande família e evocam-se emoções indescritíveis a torto e a direito.
Hoje tivemos aquele que será provavelmente o momento zen da caminhada de Portugal para o Europeu 2008: Roberto Leal cantou a versão funk brega de "Uma Casa Portuguesa" sentado ao lado de Scolari, em plena conferência de imprensa oficial do Seleccionador Nacional. Mais uma vez não se falou de futebol, mas de fé, do portuguesismo de Scolari e do momento presente das relações luso-brasileiras.
Porquê? Antes de mais, porque Scolari pode. Com selecções como as do Brasil ou de Portugal, o treinador pode dar-se ao luxo de não se preocupar muito com as ditas questões técnico-tácticas, convertendo-se assim num misto de guru e amuleto da sorte.
Para quê? Para que o apoio à Selecção (e também a Scolari himself) seja mais uma experiência emocional do que um apego racional. Não se trata do que jogam, nem como jogam. Trata-se antes de um desígnio nacional (ou luso-brasileiro, no caso) que se impõe e que implica bandeiras nas janelas, pessoas nas ruas, carros decorados, pinturas na cara, indpendentemente do que se é capaz de mostrar jogando.
Eu acho que Scolari ainda não percebeu a relação dos portugueses que gostam de futebol com o futebol. Os outros, os adeptos amadores, pelam-se por um cachecol e uma bifana em dia de Selecção, mas os verdadeiros amantes da bola querem é joga, muita joga, sobretudo quando se tem um plantel como o português. Se chegarmos aos quatro semi-finalistas, está tudo justificado. Se ficarmos antes, nem um samba em pelota no Marquês de Pombal salvará Scolari.

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