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A condecoração do Sr. General Altino de Magalhães, com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento, enegrece e ofende a memória daqueles que não esquecem as bases fundacionais da nossa Autonomia. O Senhor Comendador, para aqueles poucos cuja memória não se vendeu ou hipotecou, foi nos Açores o ponta-de-lança de um comissariado político que queria ver Portugal conduzido por uma foice e por um martelo. Nos idos desses sinistros anos do PREC e do COPCON o General Altino de Magalhães foi, entre nós, o rosto e a mão dessa deriva totalitária que tomou de assalto o poder em Portugal. Por exemplo: o insigne Comendador foi o responsável pelas prisões ilegais, arbitrárias e revolucionárias, dos alegados organizadores da manifestação do 6 de Junho de 1975 que, como se sabe, despoletou o movimento independentista que abortou em autonomia negociada. Com ligações directas ao COPCON em Lisboa, e com a cumplicidade ignóbil de uns quantos “judas” vermelhos em Ponta Delgada, o Senhor General Altino de Magalhães ordenou, ao bom estilo do camarada Otelo Saraiva de Carvalho, a captura pela calada da noite das cúpulas Açorianas que alegadamente organizaram o 6 de Junho. Os esbirros do Senhor General Altino de Magalhães, pela madrugada de 9 de Junho de 1975, artilhados com armas e munições militares, sem mandado Judicial e sem qualquer acusação formal, invadiram, sob a ameaça de G-3, as casas dos “sediciosos” Açorianos. Estes foram atafulhados num camião e postos a ferros num barco faroleiro partindo para a prisão, por tempo indeterminado, em Angra do Heroísmo. Nunca se apurou se estariam em trânsito para outras praças para a execução da “justiça popular” tão em voga naquele verão quente. Mas, é hoje ponto assente, que o emérito Comendador foi responsável por estas prisões. Sempre alegou em sua defesa que as “detenções” serviram para impor a autoridade do Estado e evitar novas manifestações não autorizadas pelo politburo de Lisboa, do qual era aliás mero agente, mas tal circunstância não o absolve perante a história. É certo que o distinto General Altino Pinto de Magalhães, à data Comandante-Chefe das Forças Armadas nos Açores, não agiu sozinho, pois recebeu em mão a lista das pessoas que deviam ser presas por delito de opinião e de orientação ideológica. Muito se especulou até hoje sobre quem elaborou e entregou essa vil lista. Mas esse é um segredo que o Senhor Comendador nunca quis revelar. Consequentemente, a sua responsabilidade histórica é ainda maior e a imputabilidade pelas perseguições que moveu não pode ser partilhada. Felizmente que tudo isto, e muito mais, são sinais passados de um Portugal prepotente, anti-democrático e com total desrespeito pela liberdade de consciência e de expressão. O Portugal de certos Capitães de Abril com assolapadas paixonetas por personalidades medalhadas pela Internacional Comunista. Felizmente que tudo isto é hoje passado. Infelizmente, a voragem do tempo, e a memória de ocasião, têm branqueado esta gente. Não censuro a iniciativa daqueles que quiseram homenagear o Senhor General Altino de Magalhães pois, em bom rigor, foram coerentes com o seu passado e até com o apoio que lhe prestaram publicamente nas passeatas de sufrágio às prisões revolucionárias nas quais gritaram palavras de ordem contra os “fascistas”. Censuro, e enegrece-me a alma, que esta Comenda de Reconhecimento Autonómico seja atribuída com a cumplicidade do meu partido. O mesmo PSD/Açores que teve como militantes destacados alguns dos presos políticos cuja captura foi assinada pelo Comendador Altino de Magalhães. O voto favorável dos meus companheiros do PSD/Açores a esta distinção honorífica da nossa Autonomia envergonha-me perante a minha memória pessoal e perante o património do meu partido. Ter os deputados do PSD/Açores como provedores desta iniquidade perante a memória de quem serviu com honra e valor os Açores – ( e o PSD/Açores ) - é uma desdita que nem a diplomacia justifica. Se não queriam votar contra esta Comenda que ao menos tivessem a coragem de se absterem. Esse era um imperativo moral perante a memória dos companheiros do PSD/Açores que o agora imaculado Comendador Altino de Magalhães, no passado, atirara para o cárcere por delito de opinião. Afinal nos Açores não falta só oxigénio. Falta também memória.
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post-scriptum na sequência deste post aqui fica com o rigor possível o nome dos homens que foram raptados dos seus lares na noite de 9 de Junho de 1975. Há nomes que valem muito mais do que uma medalha !
Abel da Câmara Carreiro
Aguinaldo da Silva Almeida Carneiro
Álvaro Pereira Branco Moreira
António Brum de Sousa Dourado
António Clemente Pereira da Costa Santos
António José do Amaral
António Manuel Gomes de Menezes
António Nuno Alves da Câmara
Armando Guilherme Goyanes Machado
Bruno Tavares Carreiro
Carlos Eduardo da Silva Melo Bento
Eduardo José Pereira de Almeida Pavão
Fernando Manuel Mont´Alverne de Sequeira
Gualberto Borges Cabral
Gustavo Manuel Soares Palhinha Moura
João Gago da Câmara
João Luís Soares Reis Índio.
João Manuel Furtado Rodrigues
José Joaquim Vaz Monteiro Vasconcelos Franco
José Manuel Duarte Domingues.
José Nuno de Almeida e Sousa
Luís Manuel Duarte Domingues
Luís Maria Duarte Moreira
Luís Octávio dos Reis Índio
Luís dos Reis Índio
Luís Ricardo Vaz Monteiro Vasconcelos Franco
Manuel Oliveira da Ponte
Manuel da Ponte Tavares Brum
Valdemar de Lima Oliveira
Tomaz Faria Caetano
Victor do Carmo Cruz
José Manuel Rodrigues dos Santos.
José Silvério Bispo.
Luis Soares Guiod de Castro.
Paulo Tadeu Mendes Brum Pacheco
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