segunda-feira, outubro 17

«A verdade da mentira»

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Mestres na marcial arte da guerrilha verbal os legionários do Bloco de Esquerda foram lestos a fazer passar a mensagem que em Ponta Delgada a candidata Lúcia Arruda fora eleita para a Assembleia Municipal depois da recontagem dos votos. Com a habitual liturgia moralista do Bloco os seus dirigentes insinuaram que só depois de uma intervenção da Assembleia de Apuramento Geral é que foi possível eleger a «irmã» Lúcia para a Assembleia Municipal.

Eco dessa pregação foi, designadamente, o Jornal dos Açores do passado dia 12 de Outubro que, sob o título «Lúcia Arruda eleita depois da recontagem de votos», noticiava que a «eleição foi conseguida depois da Comissão de Apuramento Eleitoral, que procedeu à recontagem dos votos ter validado vários boletins que tinham sido anulados no domingo à noite.». Parangonas de idêntico calibre correram também pela Blogoesfera local. Em suma, para o leitor menos avisado fora lançada a isca sugerindo que tinha sido reparada uma ardilosa injustiça que vedara o caminho do Bloco ao assento a que tinha direito na Assembleia Municipal de Ponta Delgada. Apesar desta manobra de desinformação o facto é que a mesma não corresponde à verdade. A verdade é que, as contas do BE foram porventura baseadas nos dados do STAPE, cujo site foi afectado pelo «choque tecnológico» apresentando assim dados desfasados da realidade. A verdade esgota-se na circunstância de que a deputada Lúcia Arruda foi eleita com os votos que efectivamente tinha nas urnas! A verdade é que, na contabilidade geral dos votos nulos, reapreciados no apuramento geral para a Assembleia Municipal de Ponta Delgada, foram recuperados para o PPD/PSD sete votos, para o PS dois votos, e para o BE zero. A verdade é que Lúcia Arruda foi eleita por via do método de hondt e com os 791 votos que o BE alcançou num universo de 24.356 votantes! É com esta base eleitoral, e esta verdade, que Lúcia Arruda foi eleita num sistema que proporcionalmente se julgou equitativo aquando da elaboração da Lei Eleitoral.

Como diria o saudoso António Variações -(que não sendo políticólogo não deixou de nos legar algumas rimas a usar à la carte)- o que importa mesmo em qualquer sistema é «dar o direito a toda a voz» para termos «esse respeito que queremos para nós». Assim, a pluralidade de qualquer Assembleia é uma mais valia da mesma, e só se espera que novel deputada municipal saiba honrar a inteligência criativa e crítica que se agregou no vasto rol de intelectuais que compuseram as listas do Bloco em Ponta Delgada. Será que ouviremos o concerto dessa vasta equipa que o BE soube arregimentar ou, sem qualquer demérito para as respectivas solistas, o Bloco ficará bloqueado no dueto da Energia Alternativa de Lúcia Arruda e Zuraida Soares?

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Post-Scriptum: Juntando-me ao coro de indignados pela eleição de Fátima Felgueiras e demais tralha similar não consigo contudo compreender as vitórias fulgurantes de tais criaturas! Será que as respectivas bases eleitorais são menos esclarecidas? Será que a motivação de voto foi contaminada por uma espécie de síndroma de Robin Hood? Será tal fenómeno a revelação de uma vontade de canonização popular dos Santos da casa? Se lá diz o aforismo popular que o Povo tem sempre razão, o mesmo povo não deixará de questionar nos próximos quatro anos a validade de outro ditame popular: Será que o crime compensa?
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JNAS na Edição de 18 de Outubro do Jornal dos Açores

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