1. Agastado com a apresentação da Proposta de Orçamento de Estado o Presidente do Governo Regional dos Açores sugeriu a «sublevação» dos deputados Açorianos na Assembleia da República orientando o voto destes no sentido do «não» ao Orçamento de Sócrates. Carlos César não hesitou em fazer, e bem, a «defesa dos interesses dos Açores e dos açorianos no âmbito da proposta de Orçamento de Estado»(disse-o, literalmente nestes termos, o porta voz de serviço André Bradford). Porém, este estandarte de intransigente defesa dos interesses dos Açores cedo tombou pela mão do Primeiro Ministro. Logo depois do «pronunciamento» de César o Primeiro Ministro asseverou que o voto dos deputados Açorianos na Assembleia da República seria «certamente» favorável à aprovação do Orçamento de Estado! Assim, com um só golpe o Eng.º José Sócrates decepou qualquer vontade de insurreição insular contra o Orçamento de Estado. Este prossegue com o reforço da asfixia financeira das Regiões Autónomas e dos Municípios engendrando ao mesmo tempo uma engenharia orçamental canalizada para o sumidouro da OTA e da «alta velocidade». Para justificar esta política, embora num cenário diferente, o que se apresenta aos Portugueses é apenas uma remake do mesmo filme no qual os vilões são os suspeitos do costume, ou seja, as regiões autónomas, o poder local, a administração pública e os interesses corporativos. Marchando contra estes quatro cavaleiros do apocalipse deficitário o Eng.º José Sócrates emerge como paladino do centralismo. Mais uma vez será o Portugal periférico a pagar a factura do centralismo do terreiro do Paço que, com esta senda da OTA e a gesta da «alta velocidade», será um «centralão».
2. Com a habitual figura grave e seráfica Cavaco Silva regressou para ser, a bem da Nação, investido no sacrifício do cargo de Chefe de Estado. Cavaco emerge como «self made man» desligado dos interesses terrenos dos partidos, apesar de ser carregado em ombros pela actual direcção do PSD. Este apoio é porventura um incómodo na candidatura do homem cujo staff se esforça por fazer passar a imagem de que Cavaco está acima da vulgaridade mundana dos partidos, pairando angelicamente num nível superior de excelsas virtudes. Em absoluta congruência com esta lógica Cavaco Silva arregimentou uma notável Comissão de Honra, recheada de eméritos Académicos, e capitaneada marcialmente por Ramalho Eanes. Todavia, é impossível esquecer que Cavaco Silva foi um dos mais notáveis militantes do PSD, o mesmo PSD que repudiou recentemente com a opereta da «moeda má», e com outros deploráveis enredos que passaram pela exigência de retirar o seu fácies dos outdoors de campanha do partido que o serviu enquanto foi Primeiro Ministro. No resto se, por um lado, não restam dúvidas de que Cavaco Silva foi o melhor Primeiro Ministro de Portugal, por outro lado, não foi particularmente amistoso com as Regiões Autónomas. Logo, como Presidente da República não é de esperar que arrepie caminho no menosprezo que sempre ostentou pelas Autonomias e pelos custos políticos que estas importam. Sendo certo que Cavaco é o candidato da Direita não é menos verdade que não o é de toda a Direita, pelo que, a quem não se revê, e não se resigna, na jubilação que se prepara ao Cavaquistão só resta a alternativa digna de votar em branco.
3. Quem também regressou às luzes da ribalta foi Américo Natalino Viveiros. Depois do extemporâneo abandono de Victor Cruz, Natalino Viveiros não perdeu a oportunidade de fincar pé e de viva voz apresentar-se à liderança do PPD/PSD Açores. Dele disse José San-Bento que seria «um excelente líder do PSD-Açores.». Seja como for, honra lhe seja feita pelo mérito de se apresentar directa e pessoalmente ao eleitorado laranja sem carecer da mediatização de vozes em surdina soprando alvíssaras aos órgãos de comunicação social. Porém, o desafio do PSD Açores não está centrado na liderança, mas sim na implementação Regional do Partido. Na verdade, o desafio de qualquer candidatura já não se presta à condescendente bonomia de incensar os pais fundadores desta Autonomia. Na inevitável ruptura geracional importa olhar com arrojo para o futuro onde não há lugar para um regresso ao passado, sob pena de o PPD/PSD Açores legitimar o Partido Socialista como o Partido único dos Açorianos. Assim, resta ao PSD Açores buscar uma solução inovadora e audaz, descomprometida com o mota-amaralismo, invicta até à data e popular entre o eleitorado jovem. No casting para este papel não ficaria mal, por exemplo, a figura de Duarte Freitas!
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JNAS na Edição de 25 de Outubro do Jornal dos Açores.
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