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Por mais que se abomine a vulgaridade das teorias da conspiração, tão em voga por força dessa virose literária do «Código da Vinci», somos compulsivamente tentados a olhar para o caso Fátima Felgueiras como uma verdadeira «cabala» na qual uma urdidura de influências chafurdou com êxito o regresso «combinado» da mais mediática fugitiva de Portugal.
Qualquer cidadão medianamente «discreto» interroga-se como é possível esta «arguida» Felgueirense, com um palmarés acusatório que inclui vários crimes de peculato, participação económica em negócio, corrupção passiva para a prática de acto ilícito, prevaricação e abuso de poder, passar incólume pelas malhas do nosso ordenamento jurídico e regressar com um halo de beatitude que lhe permite ser candidata à mesma câmara municipal onde terá alegadamente cometido os crimes de que está acusada ?
O arrazoado de manobras é de tal forma folhetinesco que merece que se recapitulem os episódios anteriores. Após investigação da PJ emerge em Felgueiras um cenário que envolve a Fátima lá da terra numa teia de corrupção, promiscuidade com o Futebol, e um suposto «saco azul» com múltiplas utilidades e comodidades. Em Maio de 2003, e por mera coincidência, no mesmo dia em que o Tribunal da Relação de Guimarães decreta a prisão preventiva e confirma a suspensão de mandato de Felgueiras esta ruma ao «exílio» dourado em Niterói no Brasil !
Até aqui esta novela é enfadonha e a opereta só ganha ritmo quando, em meados de Julho de 2005, tem lugar a «combinação» que prepara o regresso de Fátima Felgueiras e a sua candidatura independente através do movimento «Sempre Presente» !
A partir daqui o enredo é um novelo de mistérios que o vulgar dos espectadores não consegue deslindar: Como é possível a fuga houdinesca sem que se tenha aberto qualquer investigação ao tráfico de influências que a permitiu e que, seguramente, terá um agente no Tribunal que passou a informação ? Como é possível, num caso deste calibre, com suspensão das funções da autarca constituída «arguida», e apesar de foragida à barra dos Tribunais, Fátima Felgueiras continue no dito «exílio» a receber o seu ordenado de Presidente de Câmara ? Como é ainda possível que apesar da acusação pública, da fuga e do afrontamento ao Estado de Direito, a mesma Fátima Felgueiras, ainda no Brasil, prepare a sua candidatura independente à câmara municipal de Felgueiras sem que juridicamente nada obste a tal falha do sistema ? Como é possível manietar de tal forma um Juiz que mesmo que este entendesse ser de revalidar a prisão preventiva da dita «arguida» ficaria desautorizado pelo estatuto desigualitário e excepcional da imunidade eleitoral ? Como é possível ver esta mesma Fátima Felgueiras retornar, vencendo-nos a todos, e ainda gozar do tempo de antena da RTP para debater a sua candidatura ?
É possível não só pelo sistema vigente mas também pelo apoio popular que estas personalidades conseguem obter. Bem o disse esta semana Miguel Sousa Tavares que «os que o povo adora nunca podem ser culpados dos crimes que o povo atribui normalmente aos políticos: apenas são vítimas de «cabalas» e «perseguições». Ora Fátima Felgueiras é isso mesmo e é ainda um cartoon que numa só personagem reúne o populismo de Evita Peron, a figura mediática de uma Princesa Diana de pacotilha, e os predicados hagiográficos de uma Santinha de trazer por casa ! Não tarda somará a estas qualidades a de ilustre participante em mais uma edição da «Quinta das Celebridades».~
Indiferente e soberbo José Sócrates olha em direcção a Felgueiras e apenas é capaz de dizer que «estranha» a decisão da Juíza que ordenou a libertação da antiga «compagnon de route». Efectivamente, o caso Felgueiras é para o nosso Primeiro Ministro um «fait divers» que não lhe tira um segundo às suas políticas socialistas de proletarização das forças armadas, de desqualificação das magistraturas, da subjugação e acantonamento dos professores deste País e, finalmente, mas não menos relevante do rol de amigos e companheiros a nomear para a máquina do Estado, desde o Tribunal de Contas até aos confins dos corredores de Bruxelas. Não tarda nada e teremos nas cenas dos próximos capítulos a Felgueirização de Portugal.~
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JNAS na Edição de 4 de Outubro do Jornal dos Açores
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