terça-feira, outubro 18
CHERCHEZ LA FEMME # 5
MADELEINE PEYROUX
Esta mulher é mentira. Para começar nasceu em Atenas, na Georgia. A voz trai a origem sulista, mas quando a ouvi na rádio julguei que fosse negra. Lembrava a Billie Holiday e passava pela Eartha Kitt. Chovia a potes cá fora e resolvi encostar o carro junto à estátua do Marechal Rochambeau, que aos não sei quantos de 1780 desembarcou em Newport à cabeça das forças francesas que ajudaram a libertar a América. E encantou-me a circunstância de ouvir a Madeleine, certamente trisneta de Confederados, naquele ponto tão gaulois de Narrangasett Bay, ao compasso dos limpa brisas.
Em 1996 editou um CD, Dreamland, muito bem acolhido pela crítica. Assustada, Miss Peyroux recolheu à toca, o que não deixa de ser bom sinal. Oito anos depois, em 2004, lá torna a dar um ar da sua graça com Careless Love, cuja audição recomendo vivamente aos apreciadores de boas interpretações. As covers que a mulher faz de temas do Leonard Cohen e Bob Dylan são autênticas pérolas de cultura. Nas lojas da especialidade, costuma parar pelas prateleiras do Jazz e quinta feira próxima toca no Festival Pulsations de Nancy.
Ponta Delgada, que até é geminada com a cidade de Newport, podia seguir o exemplo da sua irmãzinha e organizar qualquer coisa inspirada no modelo do Newport Jazz Festival. Ou será que as geminações só servem para trocar medalhas e cumprimentos?
Pelo menos decidam-se a trazer cá a Madeleine porque, apesar dos seus ares de Mafalda Veiga, eu acho-a linda de morrer.
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