A Dra. Berta deu uma entrevista à Dra. Maria João Avillez - é que faz mesmo todo o sentido -, publicada na edição de ontem da Sábado. Mais uma vez, e entre outras insuficiências, revelou as insanáveis e costumeiras dificuldades de relacionamento que tem com os conceitos de tempo e de estatística eleitoral. Ela, que está na política açoriana desde 1980, é renovação; o PS, que é Governo desde 1996, está no poder há 16 anos, o que, judiciosa como ela gosta de ser, "é inadmissível no século XXI"; o PS, que venceu as eleições de Outubro último com 20% de vantagem sobre o PSD e renovou a sua maioria absoluta, está "efectivamente em fim de ciclo"; ela e o PSD, que tiveram o pior resultado da sua história, estão preparados para ganhar tudo e cheios de convicção.
A coisa bem espremida não dá nada, embora tenha muito menos lugares comuns, provérbios e adivinhas (a parte das adivinhas é reinação) do que a Moção Global de Estratégia que a Dra. Berta vai colocar hoje à consideração dos delegados ao Congresso.
Num texto de grande pendor popular, que é também um misto de literatura inspiracional, a Dra. Berta diz que é preciso ir "devagar que temos pressa", que "para a frente é que é caminho", que "a união faz a força", que (não se apressem) "há sempre lugar para mais um" e que "só se confia em quem se conhece". Embora "cada coisa a seu tempo", o certo é que "quem sabe sabe" e que "querer é poder". Como tal, "onde todos trabalham nada custa", mesmo sabendo que "sem jovens não há futuro" e que "o seguro morreu de velho".
A minha parca preparação económica e a minha débil bagagem cultural não me permitem atingir outras tiradas de valor idêntico às já salientadas, mas mais elaboradas, como por exemplo, a ideia de que "o crescimento económico não é naturalmente uniforme mas o desenvolvimento social tem que ser tendencialmente igualitário" ou a imagem do "salto cultural", que deve ser de facto todo um programa político em si mesma soubera eu vislumbrá-la na prática.
Há quem pense que este tipo de documentos não interessa e que o que conta são as pessoas. Neste particular, a Dra. Berta também começou bem a sua onda de renovação e reformismo. Convidou para Secretário-Geral do PSD/A Humberto Melo, um jovem de espírito, cuja participação partidária de mais de 30 anos nem se nota.
A Dra. Berta acha que dizer faz acontecer. Desmerece a opinião dos açorianos, porque é auto-suficiente em termos de análise política. Ela sentencia, as coisas surgem. Falta-lhe perder. A derrota abre muito os horizontes. Eu, que me sentei três anos numa bancada municipal muito honrada e muito minoritária, mesmo em frente a ela, sei do que estou a falar, mas, mesmo assim, admito que não aconteça.
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