sexta-feira, janeiro 23

Era uma vez... os "meus" Livros do Ano

Preâmbulo: apesar de todos os indicadores 2008 foi – no que a leituras me diz respeito - um ano de crise. E espero não entrar em falência técnica. Ano de paternidade. Em que foram mais as fraldas do que as letras.

Neal Layton The Story of Everything
Ed. Circulo de Leitores

Neal Layton é um jovem ilustrador britânico com uma promissora carreira e que através desta história percorre 15 milhões de anos que vão desde a formação dos planetas às primeiras formas de vida, dos gigantescos dinossauros à queda de um meteorito na Terra, dos pequenos mamíferos que sobreviveram à catástrofe ao desenvolvimento dos seres humanos... A concepção gráfica revela imaginação e humor e é uma forma inteligente de introduzir a origem do universo e do planeta às crianças. O livro antes de chegar ao filho cativou, primeiro, o pai. E que aproveitou, naturalmente, esta oportunidade para aprender mais qualquer coisinha...

Fernando Pessoa O Banqueiro Anarquista
Ed. Assírio & Alvim (2007)

Oferta de um amigo ao filho do jovem pai. Leitura altamente recomendada para o jovem recém-nascido (à data da oferenda!). Apesar do autor de referência nunca me havia cruzado com o titulo pelo que aproveitei a ocasião para antecipar a leitura antes do herdeiro. Editado inicialmente em 1922 no n.º 1 da revista Contemporânea – O Banqueiro Anarquista - tem sido alvo de inúmeras edições e reedições. Trago-o aqui pois a temática é surpreendentemente actual. A técnica do anarquista consiste no seguinte modus operandi: não podendo vencer o sistema o nosso homem torna-se Banqueiro como forma última de vencê-lo. E a sua teoria é a de que só conseguimos vencer o dinheiro (e por acréscimo as convenções sociais) se o adquirirmos em larga escala e, nessa altura, estaremos imunes à sua influência... A ironia suprema. Daí a pertinência de o repescar, tendo em conta os tempos financeiros agitados que vivemos actualmente.

Arturo Pérez-Reverte O Pintor de Batalhas
Ed. Asa

O espanhol Arturo Pérez-Reverte é o escritor do pais vizinho mais lido em todo o mundo e é alguém que sigo com atenção. O Pintor de Batalhas foi comprado em 2007 mas só em 2008 é que lhe dei atenção. Diz a critica que este é o livro maior da carreira de Pérez-Reverte. Isso não discuto. Mais do que uma simples história de estórias é antes uma reflexão sobre a vida... é um livro sobre um fotojornalista de guerra, sendo que aqui pode haver um certo paralelismo com o próprio autor, ele próprio um antigo repórter de guerra... numa entrevista dada à Lusa por altura do lançamento em Portugal afirma estar cansado de guerra - «um lugar de onde nunca se volta» e que o homem é o animal mais perigoso e cruel que existe e que quanto maior a sua inteligência, maior a sua crueldade». A síntese perfeita. Para além do pendor histórico patente nos seus livros aborda questões da ética jornalista e do suposto carácter da independência do jornalismo que muitas das vezes de independente tem muito pouco. Leitura aprazível, de escrita fluida, minuciosa e com o seu quê de viciante...

Joaquim Paulo Jazz Covers
Ed. Tashen

A oferta de Natal a mim próprio. Edição imaculada que mais não é do que um objecto da história do jazz, com um critério eminentemente subjectivo, no qual Joaquim Paulo, o mentor do projecto, revela, através da sua selecção criteriosa, que a componente gráfica não é acessória e tem uma ligação intrínseca com a musica. Pois, segundo palavras do próprio, existe uma "cumplicidade entre os designers e os músicos. Há uma sintonia entre o que a capa mostra e a música". Podem comprová-lo através da sua disponibilização no site da Taschen. Joaquim Paulo, o autor, é profissional de rádio e consultor de diversas editoras, e o proprietário uma colecção de discos invejável com cerca de 25 mil títulos, dos quais seleccionou 650 capas de álbuns de jazz, dos anos 40 aos 90, com destaque para os discos de músicos como Miles Davis, Thelonious Monk, John Coltrane, Ornette Coleman, Count Basie, Stan Getz, Art Blakey, Bill Evans... A edição original é em inglês, mas está prevista a sua tradução em alemão, francês, espanhol e japonês. O português com ou sem acordo ortográfico está fora, para já, dos planos editoriais. "A escolha dos discos foi muito difícil, ficaram muitos de fora, mas os critérios foram a importância histórica, o grafismo e a raridade, porque há muitos que não têm edição em CD", explica Joaquim Paulo, que pondera realizar um segundo volume dedicado ao tema. Jazz Covers foi considerado o melhor livro de Jazz, em França, tendo-lhe sido atribuído pela Académie de Jazz o "Prix du livre de Jazz 2008". É um documento fundamental para redescobrir alguns clássicos e explorar muitas raridades suculentas...

Adriana Calcanhotto Saga Lusa – O relato de uma viagem
Ed. Quasi Edições

O diário de bordo da última tournée nacional da cantora brasileira que também passou pelos Açores. Daí a razão desta escolha, na medida em que vivi intensamente (por motivos profissionais) vários dos momentos descritos. Escrito de forma despretensiosa e acessível esta Saga Lusa torna visível as diferenças do português escrito no Brasil e em Portugal. Por esse facto, o livro inclui expressões de lá e cá de modo a auxiliar o leitor (ex. Piriri = diarreia - algo que entrou recentemente no meu léxico quotidiano). Dedica apenas 2 capítulos às Ilhas... dos quais cito a seguinte passagem: «(...) Cinco de Junho. À uma da tarde desci da recepção do hotel, ansiosa, para o passeio em alto-mar, sonhando ver pelo menos, uma ponta de rabo de cachalote. (...) Temos passagem de som no teatro antes do concerto então estarão de volta às três da tarde, ok? (...) quando o capitão situa: Não, não temos a certeza se estaremos de volta às três, nem se haverá baleias e nem mesmo se voltaremos, se é que algum viajante retorna, isto aqui é o mar, ó pá, não temos certeza de nada!». Pegadinha...

Para 2009...


Raul Brandão As Ilhas Desconhecidas
Ed. Frenesim

Oferecido pelo meu pai nas vésperas da partida, enquanto estudante, para a metrópole. Não obstante isso, o mesmo não seguiu na bagagem para a capital. Deixei essa leitura para outro tempo. 4º feira assisti, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada à antestreia do documentário “As Ilhas Desconhecidas” de Vicente Jorge Silva numa adaptação livre, como o próprio disse, da obra homónima de Raul Brandão. Sendo que depois da magnifica introdução do Prof. Machado Pires, com humor e saber, sobre a obra e o autor, achei que era tempo de repescar o livro à estante e de descobrir a profusão de cor e luz com que Brandão baliza os Açores. Talvez não haja um tempo mais adequado do que este para o fazer.

* Intervenção preparada e não concretizada na edição Livros do Ano 2008 da Livraria Solmar. Ao José Carlos o meu pedido de desculpas público mas imperativos familiares do foro da assistência médica domiciliar inviabilizaram a minha participação no referido evento.

** Ler o quê? Tudo. Anúncios, legendas, jornais e até receitas de culinária, mas principalmente literatura. E para quê? Estas e outras questões em discussão ontem e hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Nem de propósito.

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