"All men can see these tactics whereby I conquer, but what none can see is the strategy out of which victory is evolved."
Sun Tzu
Clinton sabe que Obama está à frente na Carolina do Sul. Sabe também que uma vitória do senador do Illinois na Carolina do Sul implica o retorno de uma paridade que lhe é prejudicial, dado que ela era a grande favorita overall. A paridade favorece Obama se tivermos em conta as percepções iniciais desta corrida eleitoral.
Ele, Obama, demonstrou fluência na discussão dos detalhes. Ela, Hillary, é uma mestre do detalhe, como puderam constatar. Poderia ter optado por insistir nos detalhes programáticos invés de regressar aos ataques semi-pessoais. Porque é que Hillary atacou desta forma? Ela sabe, talvez melhor do que ninguém, que as discussões personalizadas acabam por danificar todos os que nelas se envolvem. Poderíamos supor que a discussão simplesmente aqueceu. Não me parece. O que me parece é simplesmente isto: ela sabia que se conseguisse arrastar Obama para uma discussão personalizada ambos perderiam apoio eleitoral. Obama vai à frente na Carolina do Sul. É quem tem mais a perder. Não é necessário tentar explicar o resto. Sim, foi propositado. Pura estratégia política. (ver Thomas C. Schelling, game theory)
Repito: ela sabe que o país não está com pachorra para personal politics. Mas foi em frente. Clinton arriscou porque sabe que um mau resultado de Obama na Carolina do Sul (mesmo se ele ganhar com uma maioria precária) poderá ser fatal. As dúvidas acerca da elegibilidade do senador do Illinois regressariam. As discussões personalizadas engendram dúvidas no eleitorado. É um facto inquestionável que é ensinado nas primeiras aulas de "electoral politics." Será que Clinton optou por uma derrota que não seja apenas sua? Tudo isto é mera especulação. Mas nada é acidental no país que inventou a política cientifica.
Clinton insiste na questão da experiência. Os efeitos desta insistência no atributo "experiência" são evidentes: quem é experiente possui know-how, competência e familiaridade com os issues e com os processos de decisão política. Logo é o(a) melhor candidato(a). Todavia, "experiência" também sugere continuidade e, para muitos, cumplicidade com o actual estado de coisas. Como é sabido, a maioria dos Americanos deseja a "mudança". Experiência e mudança não são sinónimos. Há aqui uma tensão que poderá ser explicitada. Ou seja, a "experiência" é uma faca de dois gumes. Se Hillary insistir demasiado no atributo "experiência", terá dificuldades em apresentar-se como a candidata da mudança, não obstante a autenticidade das suas intenções e a credibilidade do seu passado. A fórmula de Hillary é a de que a experiência é uma característica necessária para se conseguir implementar um programa de mudança. Momentos depois do fim do debate, a CNN entrevistou umas miúdas num beauty parlor. A discussão girava precisamente em torno da questão "experiência." Uma das miúdas disse mais ou menos isto: "We need someone new to change the way things are." A semântica é uma coisa diabólica, não é? Quem tem experiência não é "new."
Estamos em terrenos movediços. Creio que Obama deverá ganhar na Carolina do Sul. Obama sabe que Hillary está à frente nas sondagens do "tsunami tuesday". Se Obama vencer na Carolina do Sul, ele terá que maximizar o efeito (comunicativo) deste bounce. Os spin doctors devem estar a trabalhar dia e noite.
ps: Os mercados orientais estão em queda em antecipação da crise (recessão?) americana que se afigura como inevitável. Os mercados de Nova Iorque estiveram fechados hoje. Como responderá Nova Iorque á crise? Um repórter da BBC afirma que alguns mercados orientais caíram mais hoje do que no dia 11 de setembro de 2001!!!
Umas perguntas para os nossos leitores: Qual será o impacto da crise económica nas eleições Americanas? Será que em tempos de crise as pessoas procuram lideres experientes? Ou será um estimulo para a mudança Obamaniana? Its the economy, stupid! Se assistirmos a uma queda significativa dos mercados financeiros e bolsistas de Nova York, as estratégias eleitorais serão reformuladas. Será que Hillary insistirá ainda mais na "experiência"?
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