quarta-feira, julho 11

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Ruido *

O ruído omnipresente que nos envolve passa, na grande parte dos dias, sem nos apercebermos do grau de interferência que produz.

No espaço público, em particular, na cidade, o ruído manifesta-se pelo constante burburinho automóvel: do pára-arranca, do buzinar, do rosnar dos motores, da agressividade dos condutores e da ocupação de espaço anteriormente pertença do peão. Mas não só do motor automóvel vive a cidade, que, não contente com esse facto, se alimenta de uma cada vez maior multiplicidade de veículos de 2 e mais rodas, todos motorizados e quanto mais ruidosos e potentes melhor.

A música está igualmente presente em todos os locais, sem que nada a faça calar. De carácter ostensivo, supostamente a fazer sentido em termos comerciais, padece na maioria dos casos de uma abjecta e degradante selecção musical, à qual se acrescenta o mais elevado volume. Não há tempo para o silêncio. Eu, que consumo música em doses pouco recomendáveis, dou por mim a desejar silêncios, tal é a profusão de sons que abundam no espaço público, em muitos casos num verdadeiro atropelo de gosto, sensibilidade ou mesmo oportunidade. Estamos de tal modo absorvidos pela corrida quotidiana, que nem sequer damos conta da quantidade de ruído que produzimos e com a qual somos indubitavelmente massacrados.

Nas últimas semanas, estive um pouco absorvido pela preparação e efectivação do Festival MusicAtlântico 2007. Daí que a música e os músicos tenham sido, e são-nos, felizmente, uma constante. Mas, quando uma Soprano pede para mudar de quarto mais do que uma vez, num 7º ou 8º andar com quartos com vidros duplos, porque não consegue dormir devido ao ruído automóvel; quando um concerto na Academia das Artes é prejudicado pelo ruído exterior, provocado pelos cada vez mais populares “tunnings” e motas dos mais variados tamanhos e feitios - há que questionar-nos sobre se a propalada qualidade de vida que apregoamos ter nestas ilhas é efectivamente uma realidade ou passou a ser uma ficção televisiva, onde nem sequer os cenários condizem com a realidade que existe ou que se pretende retratar!?


* publicado na edição de 10/07/07 do AO
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*** Foto X LOMOGRAPHY

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