Após longo jejum dou por mim, inelutavelmente, a blogar de novo. Como não sou dado a grandes rigores ascéticos o jejum em nada esteve relacionado com a quaresma.
Confesso que na verdade sempre por cá andei, lendo e « surfando » de blog em blog, pasmando ante o tom de comentários que sobre a actualidade, de um modo geral, se foram registando por essa subcultura diletante dos blogger´s, acumulando, por vezes, a náusea perante tanta e grossa asneira produzida pelas mais elevadas luminárias intelectuais e fazedoras de opinião. A propósito, como diria o Vasco Pulido Valente, os tempos são perigosos.
Se, por um lado, é certo que as convicções políticas e ideológicas são modeladas pela « exposição selectiva » - princípio da psicologia de grupo segundo o qual escolhemos os nossos jornais, programas de rádio e televisão, ou os nossos opinion maker´s, de forma a que as nossas próprias opiniões sejam amplamente confirmadas - , por outro lado, não consigo conceber como é possível que ainda há quem resista ao mais elementar primado filosófico , ou seja, o tradicional bom senso.
Em sentido inverso desse bom senso pululam os dislates nacionais e internacionais que infelizmente têm contaminado os blogs e não só. A epítome do que antecede é o pedestal em que é colocado o nosso Nobel da Literatura a propósito do « Ensaio sobre a Lucidez ». Bom já sei que me crucificam por heresia cultural, mas talvez até pertença à maioria silenciosa que não vê no Nobel da Literatura o sinónimo selado e lacrado da excelência literária. Nesse sentido basta ter presente que o maior ficcionista deste Século, e também um dos mais destacados ensaístas e poetas da Modernidade, nunca recebeu o Nobel da Literatura. Efectivamente, Jorge Luís Borges referia-se ao Prémio Nobel, que nunca obteve, como um velho ritual nórdico que consistia em lho recusarem. Note-se que uma das razões recorrentes para boicotar a atribuição do Prémio Nobel era a acérrima oposição anti comunista, na qual o escritor fazia gala. Por aqui se vê o calibre da fundação Nobel que até já atribuiu um Prémio da Paz a campeões da mesma e dos direitos humanos, como o Senhor Arafat...!!!
O certo é que o Senhor Saramago ocupa o nosso tempo, e os 100.000 exemplares do « Ensaio sobre a Lucidez » rivalizam com as reedições do « I´m in love with a pop star », da Margarida Rebelo Pinto, e do «Meu Pipi».
Quando se abordam questões de interesse internacional, como por exemplo esta Cruzada que travamos contra os Mouros, o tom de disparate mantém-se. Veja-se a patética prestação de um ex Chefe de Estado Europeu que quase se ofereceu como emissário para negociar a rendição com Bin Laden e quejandos ! Quase em simultâneo, apesar do cerco à Europa ser cada vez maior , as nossas cabeças bem pensantes, indignam-se com a eliminação de um trapo semi-ambulante que destilava ódio e ordenava a matança de inocentes...inclusivamente cogitaram um voto de pesar no parlamento Nacional pela morte desse inolvidável líder espiritual do Hammas ( o que quer que isso signifique ) !!! Como disse não há bom senso que resista.
Como não bastassem estes dislates tenho lido aqui e ali a opinião de tantos neo comentadores políticos regionais que tudo parecem saber da vida interna dos partidos e da política na região. Entre aqueles avultam os detractores da coligação que, sempre numa confortável atitude de suposta distância ideológica e política, apenas se prestam à missão de apontar os supostos pecados contra natura da tão fustigada coligação. Esta casta irrita-me até ás entranhas, não pelo umbiguismo das suas opiniões, mas sim por se estribarem numa das famílias democráticas mais ambivalentes : a dos independentes. Se alguém ainda teve a indulgência de aqui chegar, talvez se reveja selectivamente no que antecede, e partilhe da opinião de que não há independentes, porquanto, estes são sempre facciosos.
Por falar em Independentes até o meu amigo Tózé parece que se anda a passar para o outro lado postando elegias a Che Guevara ( o que só lhe fica bem no meio da Academia das Artes ) !!! Como disse não há bom senso que resista !
Tenho cá para mim que vou quebrar o desjejum por mais algum tempo. Afinal, estou cada vez mais dissidente...entretanto vou tentar que ainda aceitem o meu texto para o próximo número da : Ilhas.
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