Depois de um pulo á Terceira preenche-me uma profunda nostalgia de arquipélago. Ainda dentro do ATP da SATA, rumo á Terceira, avisto pela janela o cimo da montanha do Pico erguendo-se imponente acima das nuvens. Ao longe, uma silhueta escura, entre o enorme manto branco de nuvens e o quase já não azul do céu que se perde na atmosfera. É e, será sempre, uma visão surpreendente. Esse volume, sombra, da ilha, tão próximo do volume de um seio fazendo-se observar por entre o lençol de nuvens diz tudo sobre a vontade das ilhas quererem ser arquipélago.
Aterrado na Terceira vejo do Alto das Covas São Jorge e depois de São Jorge o Pico e sou triste por de São Miguel não ver mais do que Santa Maria em dias que anunciam mau tempo. Na tristeza desejo barcos que nos levem de ilha em ilha em navegação, aviões que de pulo nos transportem pelo ar de praia em praia, desejo outras ilhas que não apenas esta em que me encontro agora. Desejo todo o arquipélago.
Parece-me que não há tarefa mais importante para qualquer governo que venha no imediato a existir nos Açores do que dar aos açorianos a dádiva de se saberem parte de um arquipélago. Encurtar as distâncias, tanto em custos como em formas de as cobrir, educar as ilhas sobre a existência de outras ilhas, criar nos corações de todos nós uma ideia de conjunto que ultrapasse a bandeira, o hino, os milhafres e os políticos, as frases vazias, os slogans publicitários pobres e, muitas vezes falsos, que ultrapasse as ideias feitas, as pequenas mentiras, os orgulhos.
Antes de nos mostrar-mos ao mundo temos que nos consciencializar que somos mais do que ilhas, somos todo um arquipélago. E isso faz toda a diferença.
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