domingo, dezembro 21
Para um arquipélago melhor.
Seria importante que víssemos em quem nos governa uma noção verdadeira de serviço público, de entrega à causa dos cidadãos, à construção de um futuro melhor. Seria vital para o bem comum que quem tem um mandato para tomar decisões não visse nesse mandato uma procuração de quatro anos para a manipulação de interesses, o enriquecimento próprio, o favorecimento de determinados sectores. Aquilo a que assistimos no país, mas também e de uma forma assustadora nos Açores, é a total perversão da democracia. Quando assistimos ao desbaratar de dinheiros públicos em obras que não fazem qualquer sentido, que não têm lógica, que não são racionais, que são indefensáveis do ponto de vista económico, do ponto de vista político, mesmo, do ponto de vista humano e social e, ao mesmo tempo, a absoluta e vergonhosa arrogância dos políticos ao apresentarem e defenderem essas obras, não podemos ficar em silêncio. Esta questão está para lá da direita e da esquerda, até porque em ambos os campos há responsáveis. É uma questão que, para citar Antero, está no plano do bom senso e do bom gosto. A forma criminosa como os políticos estão a violar a nossa terra não pode continuar. Querer à força construir vias rápidas, avenidas marginais, mega-emprendimentos habitacionais e turísticos, destruindo assim o âmago das nossas ilhas, não pode ser permitido. Não sou contra acessibilidades, nem reabilitações urbanas. Não sou contra projectos válidos, feitos por arquitectos e engenheiros competentes e reconhecidos, nem contra investimentos que promovam o bem estar e o desenvolvimento social. Sou terminantemente contra a megalomania, a ilusão eleitoralista, o esbanjamento de fundos, a arrogância política e a governação ditatorial do quero, posso e mando. Neste momento em São Miguel estão a avançar dois projectos que destruíram de uma forma irreparável o que é a nossa ilha: As vias rápidas em modelo SCUT, da responsabilidade do Governo Regional, e o prolongamento da Avenida Marginal, da responsabilidade da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Se não fosse por mais nada, só por serem projectos de tamanho mau gosto e tamanha falta de bom senso, só por isso deveriam ser condenados. A arrogância e a febre gastadora dos políticos e dos construtores tem que ser parada. Em 2006 terminam os fundos estruturais. Daqui a vinte anos iremos olhar para trás e os nossos filhos vão questionar onde foi gasto tanto dinheiro, de que forma, para que para eles das ilhas ficasse apenas betão e miséria.
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