sexta-feira, dezembro 5
Desenvolvimento sustentado.
O meu amigo Ezequiel assina hoje um artigo de opinião no Açoriano Oriental (quem for assinante pode ir lá ver) que, julgo, merece que paremos para o pensar. Começo por dizer que concordo na totalidade com os pontos de vista expressos pelo Ezequiel, ele sabe-o pois já discutimos várias e variadas vezes estes assuntos. O que me leva, aqui, a postar sobre o artigo é o facto de achar que é urgente fazer esta reflexão nos Açores. Não sei mesmo se já não terá passado o tempo das reflexões e se não deveríamos há muito ter enveredado pelo caminho que ele nos apresenta. Estamos desde 1985 a receber milhões de euros da União Europeia que acabam em 2006. A aposta na qualidade dos produtos açorianos, a diversificação, o marketing correcto da marca “made in Azores”, a aposta em mercados esclarecidos, a competição com base na excelência dos nossos produtos e não no preço, a aposta em formas criativas de transformação das matérias primas por forma a criar novas oportunidades de mercado, a aposta em mercados ricos, disponíveis para pagar o preço justo por um produto exclusivo, de nicho. Todos estes factores deviam ser já a base da maneira de pensar de todos os sectores da sociedade açoriana. Os açorianos deviam estar imbuídos de uma noção valorizadora do seu espaço e das suas potencialidades, noção esta assente não em falsos orgulhos criados por anos de isolamento e de decalage em relação ao resto do mundo mas, antes, numa correcta, racional e realista avaliação dos aspectos positivos que de facto dispomos. Porém antes de chegarmos ai há um longo caminho a percorrer, um caminho que começa na educação. O que falta hoje nos Açores é precisamente educação e o resto tudo que a ela está associado – largueza de horizontes, respeito pelo..., respeito. Protecção do meio ambiente, combate feroz às desigualdades sociais, apego à pequenez das nossas nove ilhas, interesse pela cultura, conhecimento. Só a educação pode suster o ímpeto pelo enriquecimento fácil e rápido, só a educação permite pensar o futuro para lá do imediato, só a educação gera sustentabilidade. Infelizmente hoje nos Açores consideram-se prioritárias as incompreensíveis scuts, a massificação hoteleira que descaracteriza profundamente o meio físico e social das nossas ilhas, o turismo budget de classes baixas que apenas beneficia os intermediários e não as populações locais, as grandes obras de construção civil promovidas por autarcas reféns de interesses privados em vez da preservação e correcta exploração dos nossos bens efectivos. Só para dar um exemplo e para terminar, que ainda não tenha sido gasto um cêntimo na salvação da Lagoa das Sete Cidades é o mais cabal exemplo de como os Açores são desgovernados. Eu não quero scuts, não quero uma marginal relva-são roque, não quero mais Baia Palace enfiados nas praias destas ilhas. Quero as orlas marítimas limpas, quero que se apoiem os açorianos e a sua capacidade produtiva e empreendedora, quero as Sete Cidades com as cores da minha infância. Meu caro Ezequiel espero um dia poder tomar esse teu pequeno almoço contigo em Londres, ou em Nova Iorque, sem ter que ser eu a levar na mala as compotas, as frutas e o chá. Até lá um abraço.
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