A questão do tratamento jornalístico.
Parece-me obvia a perversa manipulação, de cariz político, que está por trás do trabalho “jornalístico” feito pela SIC e pelo EXPRESSO. A SIC-Noticias utilizou um esquema de repetição avassalador da noticia que está para lá de qualquer noção de ética jornalística. Em todos os boletins noticiosos de ontem foi dado um destaque fora do normal a um facto que apenas têm de noticia a prisão de um tal de “Farfalha” e uma investigação por parte da policia judiciária, à parte isto assistimos a uma enxurrada de insinuações, um levantar criminoso de suspeitas e à criação de factos por parte de “jornalistas”, necessariamente, com outros objectivos que não o de transmitir noticias. Ao ponto, inacreditável, de Estevão Gago da Câmara ter utilizado como cenário o Palácio da Conceição, sede da Secretaria Regional da Presidência, para nos “informar” da indisponibilidade do Governo Regional dos Açores em comentar este assunto. Faltou perguntar a posição do Bispo de Angra, da Ordem dos Arquitectos, do Sindicato dos Professores e do Ministério da Educação, da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Advogados, da Associação dos Magistrados e do Sindicato dos Pintores da Construção Civil. Já para não falar, na opinião do Partido Social Democrata.
Se está, de facto, uma investigação a decorrer é de uma irresponsabilidade a todos os níveis condenável que “jornalistas”, depois do que se assistiu com relação ao caso Casa Pia, não saibam exercer um mínimo de contenção ao relatar tais factos. Levantar suspeitas levianamente sem especificar nomes ou dados concretos só pode prejudicar a investigação e a justiça. Descrevesse cenários, encenasse banhos com jovens quase nus, apagasse certos nomes. Com que objectivo? Provavelmente a intenção dos “jornalistas” não é a de que se faça justiça, nem sequer fazer jornalismo mas, antes sim, promover escândalos, fazer baixa política e vender.
Já hoje, Carmo Rodeia no Diário de Noticias vai pelo mesmo caminho, querendo fazer crer ao insuspeito leitor que o mais relevante facto desta noticia é o envolvimento de um destacado governante açoriano. Bom, então e o resto? Os médicos, os advogados, os professores, o padre e todos os outros que alegadamente estão envolvidos? São arraia miúda? Ou serão menos culpados, se se provar que são culpados? Fazer jornalismo é relatar os factos e não travestir os factos de forma a parecerem actos políticos.
Neste aspecto é preciso elogiar a contenção mostrada pelo jornal Público no tratamento deste assunto. Para já apenas se sabe que há uma investigação, não há acusação formada, nem se sabe quem são os suspeitos sob investigação. O resto é especulação e baixa política.
Mas, já agora, deixo aqui uma questão. Até onde, no passado recente das ilhas, irá esta investigação, é que se hoje todos sabemos quem são os implicados no passado também se sabia e estou aqui para ver se esses suspeitos também serão, agora, chamados a responder. Talvez Carmo Rodeia e Estevão Gago da Câmara possam dizer algo sobre isto, uma vez que as noticias que ambos assinaram criam, nitidamente, a noção de ser apenas o actual Governo Regional o principal implicado neste caso.
Por último, a pedófilia, assim como outros tipos de violência sobre menores, são problemas gravíssimos que atravessam transversalmente as nossas sociedades, é urgente tratar estes problemas e como crimes serem tratados dentro da lei. Utilizar estes casos como instrumento mediatico para fins políticos é um comportamento tão baixo como aquele que pretendem acusar.
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