terça-feira, dezembro 16

O espectro ideológico do nosso sistema politico ou: Açores, que futuro?

Mário Soares terá convidado Sá carneiro a integrar o PS, quando aquele lhe disse que estava determinado a criar um partido social-democrata. Ok... tudo bem. Mas será este episódio verdadeiramente suficiente para determinar a afinidade ideológica entre os dois dinossauros da nossa tenra democracia e entre os partidos que ambos representaram?

Por outro lado, todos nós sabemos que o comunismo (pela sua condição sub-niveladora) está a ser banido da face da terra mas, parece que em contra ciclo, os Açores acabam de eleger dois deputados que representam uma esquerda que vai subsistindo (?) à custa de uma certa (arrisco dizê-lo) demagogia sistematizada que, como disse a Lena D’Água, feita à maneira é como queijo numa ratoeira.

Será necessariamente assim? Sempre que as dificuldades apertam, uma boa parte do eleitorado (os de fé) vira-se para Deus e seus Santos e outra (os de boa-fé), considerável também e cansada de pedir, sem que ninguém lhe ajude, vira-se para uma esquerda – mais ou menos aguerrida ou mais ou menos ilustrada. Se eu vos dissesse, confessadamente, em quem votei nas últimas Eleições Legislativas Regionais, muitos haviam de se rir, outros haviam de me querer atirar aos leões e eu, que não sou sportinguista, talvez não gostasse disso.

Ainda assim, maçada é o facto de, em nossas mentes, não conseguirmos desfazer a dúvida, seja ela mais ou menos cartesiana, e perguntamos que esperança podemos nós desenvolver, relativamente ao desejável equilíbrio no espectro político dos Açores, se partidos há que trilham perigosamente o caminho de outros.

Alguém disse um dia: “Sá Carneiro fundou um partido social-democrata, não o partido liberal de direita em que o PSD se tornou ao longo dos anos (uma congregação de interesses desprovida de ideologia que de social-democrata só conserva a designação)”. Eu pergunto: Não será possível dizer-se ainda pior do PS? (!)

Ao concordar, torna-se imperativa a pergunta: Estaremos apenas perante o fruto de um determinado exercício político, condicionado pelas mutações socio-económicas, das quais temos todos sido alvo? Ou será este um momento histórico para um partido «indie» que se deseja reinventado?

Com certeza que todos conhecem a resposta. E todos também sabem que aos social-democratas não basta encontrarem um líder, não lhes basta encontrarem um adversário também. Aos social-democratas não lhes é permitido manterem-se neste rumo, tal não será suficiente (sabemo-lo bem).

Contudo, talvez poucos compreenderão (eu incluso) que a tão desejada renovação possa vir a acontecer a um nível diferente da amiúde defendida renovação de caras e que os políticos devem focar-se, sem anacronismos, nas reais necessidades das suas populações, procurando criar soluções práticas mas, que permitam ir, simultaneamente, ao fundo das questões.

Um novo líder, por si só, não será certamente uma condição «sine qua non» mas, ajudará (e muito). E os social-democratas terão que lutar muito para serem alternativa, sem serem vistos como promotores da simples alternância.

P.S. Meu caro JNAS, espero que possas relevar o relativo atropelo. O dia justifica!

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