quarta-feira, dezembro 10

“Montra” Subterrânea *

Foi ontem inaugurado, em pleno Dia das Montras, o novo parque de estacionamento da Avenida Marginal de Ponta Delgada, tendo sido descrito, aquando do arranque das obras, como “complementar” ao das Portas do Mar.

A política de revitalização do centro histórico desenvolvida pela edilidade, quer através do programa Reviva, quer do Plano de Mobilidade, é, a múltiplos níveis, questionável. Senão vejamos: o programa Reviva propõe uma redução dos custos de construção, reconstrução, alteração, ampliação, demolição e conservação de edifícios (entre outros) que visam a recuperação e reconversão urbanística de edificações no centro histórico, delimitado entre a Rua Eng.º José Cordeiro, a nascente, a Rua Teófilo de Braga, a poente, e a Rua da Arquinha, no seu perímetro máximo, a norte, abrangendo, assim, uma área indubitavelmente extensa. Sendo que, paralelamente, licencia(ou) um número desmesurado de empreendimentos urbanos na cintura periférica da cidade, dando lugar a uma deslocalização das populações, a uma construção suburbana massificada, assistindo-se, por essa via, ao continuado esvaziamento do referido centro histórico. Esta situação é na sua génese antagónica. A Câmara não assume que o centro histórico está moribundo e que isso ainda não é um problema mas, simultaneamente, promove a sua revitalização (!).

O denominado Plano de Mobilidade previa parques na periferia da cidade que nunca aconteceram e o transporte dos seus utentes, até ao “centro”, por minibus. A rede de minibus nunca cumpriu esse propósito, sendo que é a única rede efectiva de transporte urbano em Ponta Delgada, mas não totalmente eficaz. Pelo facto de não ser um serviço contínuo, com horários alargados pela noite, fins-de-semana e feriados, pelo insuficiente número de autocarros e de não existirem faixas dedicadas ou corredores para os transportes públicos. Não obstante, é uma medida popular e de sucesso comprovado, mas que tem de ser aperfeiçoada. Os parques existentes resolvem, em parte, o problema, mas não retiram o excesso de tráfego automóvel do centro histórico, sufocando-o e conferindo-lhe uma existência pouco qualificada. A construção do novo parque na avenida marginal devia ter coexistido com o das Portas do Mar, mas a razão de existir não pode ser vendida como o vector principal para a revitalização do centro e do comércio histórico que o habita.

A glória noticiosa é fugaz, a obra fica.


* edição de 09/12/08 do AO
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