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Tomás de Torquemada ficou tristemente célebre pela fervorosa devoção à causa do seu patronato, os Reis Católicos de Espanha, e pela fanática e zelosa lealdade para com a causa do pensamento único. Nos idos do sec. XV a imposição de uma matriz única de consciência, individual e colectiva, fazia-se pela força da Inquisição. Quinhentos anos depois, no tempo que é também o nosso, não falta quem lhe siga literalmente o exemplo. Felizmente, a bem da nossa pele, no nosso habitat político, os novos Torquemadas apenas copiam os tiques e os maneirismos autocráticos do fundador dessa escola de torcionários. Mas, tal como o Torquemada original, descendente directo de cristãos-novos (regra geral judeus ou muçulmanos que renegaram o seu credo), os Torquemadazitos de hoje não raras vezes são convertidos de ocasião a uma causa que antes abjuraram! Hoje, seriam efectivamente capazes de queimar em auto de fé os panfletos outrora distribuídos, os cartazes colados noutros tempos e os manifestos propalados que, num passado recente, idolatravam como se incorporassem a verdade suprema. Hoje, eles aí estão, para servirem os novos senhores e pela via da ameaça darem luta sem quartel aos hereges que ousam dissentir, divergir, criticar, ou expressar opinião diversa daquela que o cânone do Poder determina. Uns dão a cara ; outros fazem-no sob o vil e cobardolas anonimato. Mas, mesmo sem uniforme ou batina, distintivo ou cor padrão visível, o facto é que eles existem e estão entre nós sempre prontos a servir a causa que lhes pagar melhor. Basta que alguém se atreva a blasfemar contra a vontade revelada pelo Poder e os Torquemadazitos de serviço, lestos e diligentes, contra atacam com o prenúncio de mil pragas, desde o descrédito pessoal ao estigma da qualidade de arguido, por via da providencial queixa-crime instrumental de um processozinho de intenções mais vasto. Nunca o fazem em nome próprio mas sempre em reverente defesa da honra alheia ! Habituemo-nos pois a conviver com esta resiliente espécie que sempre existiu nos velhos e nos novos regimes. Entre nós foi assim na autonomia fundadora de Mota Amaral, mas também na autonomia cooperativa de Carlos César. Mudam-se os "mordomos" de serviço mas o império de serviçais, que apenas "viram a casaca", é sempre o mesmo. A camada de verniz é que vai mudando de coloração.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com
Tomás de Torquemada ficou tristemente célebre pela fervorosa devoção à causa do seu patronato, os Reis Católicos de Espanha, e pela fanática e zelosa lealdade para com a causa do pensamento único. Nos idos do sec. XV a imposição de uma matriz única de consciência, individual e colectiva, fazia-se pela força da Inquisição. Quinhentos anos depois, no tempo que é também o nosso, não falta quem lhe siga literalmente o exemplo. Felizmente, a bem da nossa pele, no nosso habitat político, os novos Torquemadas apenas copiam os tiques e os maneirismos autocráticos do fundador dessa escola de torcionários. Mas, tal como o Torquemada original, descendente directo de cristãos-novos (regra geral judeus ou muçulmanos que renegaram o seu credo), os Torquemadazitos de hoje não raras vezes são convertidos de ocasião a uma causa que antes abjuraram! Hoje, seriam efectivamente capazes de queimar em auto de fé os panfletos outrora distribuídos, os cartazes colados noutros tempos e os manifestos propalados que, num passado recente, idolatravam como se incorporassem a verdade suprema. Hoje, eles aí estão, para servirem os novos senhores e pela via da ameaça darem luta sem quartel aos hereges que ousam dissentir, divergir, criticar, ou expressar opinião diversa daquela que o cânone do Poder determina. Uns dão a cara ; outros fazem-no sob o vil e cobardolas anonimato. Mas, mesmo sem uniforme ou batina, distintivo ou cor padrão visível, o facto é que eles existem e estão entre nós sempre prontos a servir a causa que lhes pagar melhor. Basta que alguém se atreva a blasfemar contra a vontade revelada pelo Poder e os Torquemadazitos de serviço, lestos e diligentes, contra atacam com o prenúncio de mil pragas, desde o descrédito pessoal ao estigma da qualidade de arguido, por via da providencial queixa-crime instrumental de um processozinho de intenções mais vasto. Nunca o fazem em nome próprio mas sempre em reverente defesa da honra alheia ! Habituemo-nos pois a conviver com esta resiliente espécie que sempre existiu nos velhos e nos novos regimes. Entre nós foi assim na autonomia fundadora de Mota Amaral, mas também na autonomia cooperativa de Carlos César. Mudam-se os "mordomos" de serviço mas o império de serviçais, que apenas "viram a casaca", é sempre o mesmo. A camada de verniz é que vai mudando de coloração.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com
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