Tempo de Antena *
Os dados lançados pelo relatório da Entidade Reguladora para a Comunicação Social constituem um importante instrumento de trabalho para a direcção da RTP-A, no que concerne à contínua melhoria na prestação do serviço público.
O denominado ênfase noticioso atribuído ao governo regional reflecte o enorme significado social que o Estado detém na sociedade portuguesa e aqui, em particular, na sociedade açoriana. Não obstante, na informação veiculada pela ERCS, causa estranheza não existir uma destrinça entre o tempo de antena atribuído ao Governo e o consignado ao partido que compõe o governo, o PS. Colocá-los no mesmo saco é um equívoco e poderá conduzir a uma leitura enviesada. Aliás, o mesmo acontece no expectro nacional. Não compreendo esta opção. Mesmo que perpasse a ideia de que ambos se “confundem”, uma iniciativa governamental não é uma iniciativa do partido da maioria ou que constitui o designado governo. É uma evidência.
As reacções que se seguiram à difusão destes resultados não se fizeram esperar. A que me causou relativa perplexidade, espectável, é certo, foi a do PSD que aferiu, desta análise, que quanto maior for o tempo de antena no canal regional esta exposição será capaz de induzir o sentido de voto dos açorianos. Um exercício de manipulação, pouco credível e quiçá um insulto à população dos Açores. Exigir maior equidade e rigor na cobertura noticiosa da RTP-A – estamos de acordo. Extrapolar estes resultados para um cenário eleitoral é um dislate e revelador do desnorte da ala social democrata. Os pequenos partidos pela sua dimensão e representação parlamentar ficam arrendados deste confronto e, esses sim, têm razões de queixa. A difusão da pluralidade partidária é fundamental para a maturidade democrática nos Açores. E, nem governo (PS, incluído!), nem o maior partido da oposição, estão em posição de reivindicar “imparcialidade”.
Relativamente a “equívocos”, Mário Mesquita afirma: «Podemos dizer que, em certos momentos, sob certas condições, os media dispõem de certas formas de poder. Importa ainda ressalvar que o poder do jornalismo e dos jornalistas constitui apenas uma parcela do poder mediático. E, de certa forma, a própria “percepção” – real ou ilusória – desse poder mediático já o institui enquanto tal, constituindo, uma espécie de “profecia auto-realizadora”. Ou seja, age-se de tal forma em função dos media que essa subordinação, por si própria, representa uma manifestação de poder» (O Quarto Equívoco – O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea, ed. Minerva/2003).
O tão propalado Oxigénio, de que supostamente a sociedade açoriana necessita, não se reduz, nem pode ficar circunscrito a uma simples coluna de opinião semanal mas, sim, através de uma participação cívica activa por cada um de nós. Tudo o resto é tempo de antena. O seu direito está consagrado na lei.
* edição de 15/04/08 do AO
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