quinta-feira, abril 3

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Exercícios de estilo *

Numa semana apressada a favor do tempo e contra os prazos, recupero um tema com algumas semanas, mas sobre cuja modalidade tenho de alvitrar.

Após visita à Graciosa, Aníbal Pires, líder do PCP/Açores, reclamou mais apoios ao desporto e, na existência destes apoios, rapidez na sua atribuição e nas transferências do governo. Em concreto, disse o seguinte: “muitos clubes estão endividados devido à política desportiva do Governo Regional”, pois “muitos dos apoios chegam atrasados às contas dos clubes que, para garantirem a deslocação das suas equipas ao continente português, para evitarem ser penalizados desportivamente, recorrem ao crédito bancário”.

O cenário do desporto regional, e por desporto leia-se futebol, está completamente distorcido nos seus propósitos. Senão, vejamos: na maioria das equipas que militam nos campeonatos nacionais, para já não falar nos regionais, parte substancial dos jogadores são externos à(s) ilha(s), isto sem qualquer preconceito quanto à origem - é apenas um facto. O que me causa alguma perplexidade é que no cerne dos objectivos da política e da prática desportiva local está a formação e a difusão da prática desportiva nos jovens. Então porque que é que a maioria dos activos são externos? Uma resposta provável (já registada pelos media locais): os miúdos vão estudar para fora. A minha resposta: ainda bem.

Outra questão que me causa estranheza: os orçamentos destes clubes ou são completamente irrealistas, ou estão desajustados da realidade intrínseca onde nos inserimos ou, pura e simplesmente, não “existem”. Avance-se, pois “alguém” há-de pagar. E esse “alguém” é o governo. E, em ano eleitoral, todos fazem por apelar à “caridade” governamental. É um desporto pernicioso.

Acredito que o Desporto nos Açores, e não apenas o futebol, deve ser apoiado, mantido e dinamizado por critérios rigorosos, que não sejam só os da necessária “subida de divisão” a qualquer preço, com consequências mais ou menos previsíveis e danosas. Aos governantes e políticos em exercício não basta apenas exercitar, perante o partido e as colectividades, o habitual “exercício de estilo”. É necessário fazê-lo com sentido de responsabilidade. Daí que a exigência não tenha apenas o governo como parceiro, mas que seja fundamental exigir também aos líderes desportivos rigor e transparência. E convenhamos, isso, nos tempos recentes, é coisa que não existe no país desportivo.


* edição de 31/03/08 do AO
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