Portugal está a tornar-se num imenso Entroncamento carregado de fenómenos. O mais recente é a febre reguladora. Desde a ASAE e as suas bolas-de-berlim, à Autoridade da Concorrência e os preços, até Direcção Geral de Saúde e os cigarros. Passando, finalmente, pela ERC e o pluralismo político-partidário (curioso palavrão…). Foi anunciado ontem um relatório da Entidade Reguladora para a Comunicação Social que acusa os noticiários da Televisão pública de falta de pluralismo porque sobre-representam o Governo e o partido do Governo e sub-representam as várias oposições. Em Portugal perdemos tempo com isto. Como criancinhas em torno de um pacote de bolachas, andamos a batalhar sobre quem é que tem mais segundos de prime time, se a inauguração de uma rotunda na Lombinha do Rego com a presença de S. Exa. o Presidente do Governo, se a visita do líder da oposição à Lavoura do mestre Ermelindo Charrua que ainda não recebeu o "subside" da "Ouropa", ou ainda a conferência de imprensa do Presidente do Partido dos Moradores da Rua de Baixo dos Fenais que reclama celeridade na conclusão das obras na sua rua. Se não fosse triste era ridículo. A política em Portugal é feita hoje destas birras. É a ditadura mediática no seu esplendor. Era substancialmente mais importante que a ERC, em lugar de nos fustigar com a extraordinária informação de que dos 20% de noticias do Telejornal dedicadas a temas político-partidarios, 60% são sobre a maioria, nos dissesse quanto do Telejornal é desporto, quanto é cultura, quanto é ciência ou quanto não é ambiente. Como cidadão e espectador interessa-me mais a natureza e a qualidade das noticias, do que a esquizofrenia mediática dos directórios partidários. Os noticiários, as televisões em geral, estão pejados de politiquice mesquinha, de tricas partidárias e de políticos ignóbeis, esse é que é o verdadeiro problema. Ainda ontem os noticiários davam tempo de antena ao líder nacional do maior partido da oposição e ao seu líder parlamentar, que nos montados e prados alentejanos se entretinham a lançar atoardas e juízos de carácter a um ministro, num gesto político ao melhor nível da escola Portas/Durão anos 2002/2004. Se é para isso que querem mais pluralismo então estamos conversados. Os intelectuais da ERC deviam gastar o seu tempo a analisar a origem das noticias, a relação dúbia entre editores e jornalistas com políticos e assessores, a subordinação das redacções aos comunicados dos Gacs e outros gabinetes de imprensa similares, a promiscuidade entre comunicação social e empresas de comunicação. Vamos falar de coisas sérias e deixarmo-nos de brincadeiras.
P.S. na sua crónica de hoje no AO o meu amigo Pedro Gomes, na esteira do seu oxigenado lider Carlos Costa Neves, cavalga este tema, mas comete a desonestidade intelectual de transformar três meses de análise num ano todo de programação. Curioso truque de magia.
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