quarta-feira, outubro 3

Terminal 2 e outros “luxos”.

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"Foi uma senhora o primeiro passageiro a fazer o check-in no terminal 2. Reservou a sua passagem na SATA, e estreou o balcão de check-in da companhia aérea no novo Terminal 2. À passagem pela porta de embarque foi surpreendia pelo chefe de escala da SATA e pelo próprio Director do Aeroporto de Lisboa, os quais, em nome da Sata Internacional lhe entregaram uma simbólica recordação". Leio este momento de propaganda, - ilustrado com o instantâneo da senhora surpreendida pelo chefe de escala - , bem ao estilo dos apontamentos televisivos do antigo regime, no espaço SATA News, na revista SATA Magazine, entre textos de igual jaez num exercício de auto elogio pela prestação de um serviço público! Mas, o Terminal 2, ao invés do que vai sugerindo a propaganda do regime, não é a oitava maravilha do mundo da aeronáutica. Na realidade, é apenas mais um degrau que se desce no sentido do empobrecimento de um serviço público com tarifas de luxo mas com um serviço low cost.

O Terminal 2 no Aeroporto de Lisboa é, na realidade, uma espécie de estação da Rodoviária Nacional em congruência com o serviço de carreira aérea entre a metrópole e os Açores que, convenhamos, não anda longe da imagem de um autocarro de transporte indiferenciado de passageiros e carga. Ora, sustentando um tarifário de luxo, com previsível indexação à privatização da SATA, porque razão os passageiros em trânsito na ponte aérea Lisboa/Açores não têm também um tratamento de luxo, ou pelo menos, gozam das comodidades proporcionais à exorbitância dos preços praticados pelo cartel SATA/TAP? Com efeito, seria esse o prémio de consolação justamente devido a quem está condenado, por razões de descontinuidade geográfica, a viajar na SATA.

Mas, no cômputo geral, estamos hoje onerados e não consolados por conta de um concurso público que arredou das nossas rotas aéreas outras alternativas. Efectivamente, houve quem oferecesse, em concurso público, idêntica prestação de serviços, mais barata e sem indemnizações compensatórias. Como se sabe, o Estado e a Região, optaram pela alternativa proteccionista, com preços elevados, e com cerca de 87 € per capita de indemnização compensatória a quem faz o frete de nos transportar ! Acresce que, na facturação ainda não vem discriminado o valor das indemnizações que o Estado, por via Judicial, foi condenado a pagar a quem ilícita e ilegalmente foi excluído do concurso público para a concessão da exploração de serviços aéreos regulares entre os Açores e Portugal. Assim, à conta da insularidade que nos traz dependentes, este monopólio perdura e não há tarifas promocionais, com limitação de stock a 10 % dos lugares (!), que nos livre deste jugo.

Contudo, a dar sinal de que é sempre possível outra alternativa, aqui ao lado, na Madeira, uma parceria entre governo Regional, governo da República e investimento privado, promete voos a baixo custo. Da nossa Autonomia espera-se que saiba seguir as mesmas coordenadas, pois a livre circulação de pessoas e bens, a preços justos e em mercado livre, não é um luxo mas um direito que tarda em ser cumprido. Entretanto, esperamos pelo primeiro passageiro desse novo tempo que tarda, mas não falha, e que será certamente secundado por muitos outros. Porventura, quando esse dia chegar talvez o passageiro que opte pela magnificência do tarifário da SATA/TAP terá, por força das regras do mercado, um tratamento personalizado e de luxo sem a vulgata do Terminal 2 e do serviço indigente e de rendimento mínimo com que nos governam.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicas digitais do jornaldiário.com

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