quinta-feira, outubro 25

ser ou não ser...

Pedro Paixão, num dos seus primeiros romances, escreveu uma frase da qual, por razões óbvias, nunca mais me esqueci – "elas perdoam-te se tentares, mas não te perdoam se não tentares". As "elas" eram as mulheres, mas para o assunto deste post o elas são os Partidos políticos. E são os Partidos porque ao ler a entrevista de hoje do Pedro Gomes ao AO lembrei-me imediatamente desta frase. Ontem por breves instantes ainda julguei que numa jogada estratégica inteligente o Pedro Gomes pudesse ser o protagonista de uma verdadeira terceira via e duma mudança de página no PPD/PSD-Açores. Hoje percebeu-se que nem uma coisa nem outra. Numa pose demasiado intelectual, que repete o guião continental, o Pedro Gomes posiciona-se no xadrez não como Rei, mas como Bispo. Na esperança de num futuro qualquer poder chegar a comandar o resto dos peões. Ao revelar o seu desagrado com os actuais candidatos e não avançando ele próprio, o Pedro Gomes ganha o espúrio estatuto de Barão, mas hipoteca quase em absoluto a possibilidade de ser Rei. Como republicano convicto costumo dizer aos meus amigos que só seria monárquico se fosse Rei, ou se o Rei fosse meu amigo e me fizesse Duque. É que numa república os Homens tem que se provar perante os seus pares, fruto da sua inteligência, da sua coragem, da criatividade, da bravura ou até, por vezes, pela beleza. Numa república não há filhos primeiros e filhos segundos, nem sequer uma ordem natural de sucessão aos tronos do poder. Numa república o que conta é a capacidade de ser grande nos momentos difíceis. E é aqui que entra a frase do Pedro Paixão. O maquiavelismo da entrevista do Pedro Gomes coloca-o num pântano ingovernável dentro do partido, porque se avançasse e perdesse seria perdoado, mas ao ameaçar e recuar para o estatuto fácil de consciência intelectual do partido arrisca a nunca ser perdoado, não só pelo Partido, mas, e mais importante, pelo vasto universo de eleitores do Bloco Central, que escolhem, com o seu voto, quem manda em todos nós. Bem sei que a política dá muitas voltas, mas no fundo a única coisa que as pessoas não perdoam aos políticos é o excesso de calculismo. Perdoam-te se tentares mas não te perdoam se não tentares. Recusando participar na eleição, diminuindo os candidatos, escudando-se numa moção ao congresso, o Pedro Gomes coloca nas mãos de outros agentes a sua ambição política e arrisca-se, na melhor das hipóteses, a repetir o destino de Vítor Cruz: vir a ser, um dia, um bom administrador de um qualquer Grupo Bensaúde que exista na altura. Nada me move a favor ou contra qualquer membro do PPD/PSD-Açores, com a possível excepção da Dra. Berta Cabral, mas da mesma maneira que me preocupa a sucessão dentro do PS, também me interessa o destino do PPD/PSD-Açores. É só por isso que escrevo este post.

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