terça-feira, outubro 2

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Herói Acidental *

Sic Notícias. 4ª feira à noite. Emissão casual. Um convidado no estúdio para comentar as eleições do maior partido da oposição.

O convidado não é um qualquer comentarista avençado. Trata-se de um ex-presidente de câmara, ex-primeiro-ministro, ex-presidente do dito Partido, ex-presidente de um clube de futebol, ex-frívolo e fútil, ocasional. Actualmente, exerce as funções de deputado à Assembleia da República e de alguém que "anda por aí..." Nessa noite, de forma aparentemente casual, tornou-se no mais recente herói português pelo facto de ter sido interrompido no seu raciocínio para dar lugar ao directo de um não-acontecimento: a chegada ao aeroporto de outro herói português (anteriormente "idolatrado" pelo comentarista de serviço). Perante tal interrupção, este recusou-se a retomar a sua análise. E, numa jogada ardilosa, inverteu os papéis, transpondo para si as atenções do momento, através de uma síntese espirituosa "...o País está doido".

O noticiário da noite da SIC Notícias produzia um herói acidental. Da blogosfera nacional surgiram os elogios mais improváveis numa repercussão quase sem precedentes. Os jornais deram ao insólito episódio destaque de 1ª página. E, nos restantes serviços noticiosos, outros comentaristas manifestaram opinião face ao sucedido. A atitude foi elogiada por (quase) todos. A SIC aprendeu a lição, disseram uns. Os jornalistas foram mais uma vez os visados. E Santana foi absolvido por instantes.

Perante estes factos, várias questões podem ser levantadas: estará o público saturado da TV espectáculo (noticiários incluídos)? Quais os limites e a relevância do directo? O directo terá sido transformado num vazio inócuo, pouco criterioso e desprovido de sentido? A preponderância do futebol na vida pública portuguesa atingiu níveis de irracionalidade? Será o futebolista milionário mais importante do que um ex-líder governativo? A procura insana pela maximização das audiências pode justificar todas e quaisquer opções editoriais?

Este acto de recusa recolocou Pedro Santana Lopes na agenda. Nada mais acidental para alguém que pretende manter-se "alheado" da notícia ou de ser a notícia. E daí talvez não, senão vejamos: após o sucedido tem sido repetidamente instado a "palpitar" as mudanças ocorridas no partido que liderou e que agora conhece um novo ciclo, de tal modo que equaciona candidatar-se à liderança da bancada parlamentar (!). Uma atitude escorreita para quem anseia por uma postura discreta e é crítico acérrimo dos "trapezistas da política". Certo?!

O espectáculo recomeça dentro de momentos...e é uma desgraça!


* edição de 02/10/07 do AO
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