terça-feira, outubro 9

ÍCONES DO SÉC. XX - # 10

"Fiz um juramento perante a imagem do velho camarada Estaline, que não descansaria enquanto não fossem aniquilados esses polvos capitalistas."
Ernesto CHE Guevara

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Ernesto Che Guevara, ou simplesmente, o homem que era a Revolução. Idolatrado por milhões, imortalizado pela iconografia da Revolução Cubana, o Che incorporou, refinou e difundiu por manual compendiado pelo próprio, o pior da tradição comunista da violência política da América Latina. Ademais, cogitou transformar a sua Revolução em produto de exportação. Felizmente a internacionalização da Revolução falhou.

Mas, o legado de Che Guevara perdura transversalmente. Desde logo, no domínio da Economia, o caricatural Presidente do Banco Nacional de Cuba pós Revolução, em conjugação de esforços com a pandilha capitaneada por Castro, foi depauperando um País que, à data da Revolução, era a terceira maior economia da América Latina. Hoje é, como se sabe, um desastre económico. Não será cometida qualquer injustiça se afirmarmos que os líderes populistas de esquerda, entre eles o beatífico Che, são os principais culpados pelo subdesenvolvimento dos seus Países. Cuba é a epítome dessa depauperização por via da Revolução. Morto Che e moribundo Fidel Castro é com honestidade que se pergunta: Afinal qual foi a Libertação do povo Cubano? Efectivamente o País que Che "libertou" só é ultrapassado pelo Haiti no ranking da miséria Sul-americana ! Apesar de tal realidade ser factual e de nela ser co-responsável Che Guevara a sua cartilha ainda inspira oligofrénicos como Hugo Chávez. Mas esse é o magnetismo inevitável dos mitos. Entre a mitologia que ciranda em torno de Che Guevara quase podemos descortinar uma auréola messiânica e humanista. Como se sabe a história não lhe deu razão e a profecia do Che não se cumpriu. Mas, ainda não chegou o tempo de arrumar Che na mesma prateleira onde estanciam beneméritos "humanistas
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como, por exemplo, Lenin do qual o próprio Guevara era fervoroso devoto. No resto, não o revela o mito, mas não desmente a história, Che Guevara foi um torcionário de muitos Cubanos que não marchavam pela sua partitura. O estágio dessa faceta de carrasco começa com os dissidentes e traidores da campanha de Sierra Maestra. Mas, após o triunfo da Revolução de Castro, é adequadamente Che Guevara quem cuidará de zelosamente cumprir com a pena de morte aplicada aos contra revolucionários. Com efeito, a Constituição Cubana proibia a pena capital mas, logo após a tomada de poder pelos Castristas, a pena de morte é reintroduzida. Cuba transforma-se rapidamente numa ilha-prisão com purgas, presos políticos, repressão, campos de concentração, e claro fuzilamentos. Do vasto rol de inumanidades a Revolução ficou marcada pelo número de execuções sumárias no funesto paredón. Este muro era a última linha para os "traidores" da Revolução executados sumariamente na fortaleza de La Cabãna e sob autoridade directa do magnânimo Che. Em congruência com o espírito da Revolução as execuções, em número incerto, eram perpetradas sem a precedência de um due process of law que isso de Tribunais com Juízes de carreira e Advogados a sério era coisa burguesa, capitalista e importada do grande Satã Imperialista. O certo é que, apesar das críticas das magistraturas superiores Cubanas, Castro ressuscitou a pena de morte e criou Tribunais Marciais e Especiais em Havana com a superintendência do camarada Che para os pelotões de fuzilamento no paredón. Tais factos não são mitomanias e estão amplamente documentados. O próprio Che fazia gala na sua exibição afirmando que "a justiça revolucionária é uma verdadeira justiça; não é rancor ou raiva doentios. Quando aplicamos a pena de morte, fazemo-lo correctamente". Contudo, com a habitual bonomia Ocidental para com os sonhadores do messianismo dos "amanhãs que cantam", Che Guevara tem lugar garantido no altar dos beatos do comunismo Internacional. Veja-se a propósito na excelente biografia, - de tom hagiográfico é certo -, "Che Ernesto Guevara – Uma Lenda do Século" de Pierre Kalfon (Ed. Terramar) a metodologia de branqueamento desses crimes : Perante a evidência de execuções aos magotes Kalfon regista "Foi feita Justiça. Não foi exactamente como Nuremberga, e a depuração foi "razoável".(...) Julgamentos apressados, sem todas as garantias necessárias, isso é ponto assente.".

Razoável é que quem com ferro mate pelo ferro morra. Foi esse o destino de Che Guevara depois de um longo tour pelo Mundo levando o evangelho da Revolução. Numa dessas peregrinações foi encurralado na Bolívia e, à semelhança do que fizera no passado, executado sem apelo nem agravo. Reza a lenda que Che confrontou o seu atemorizado verdugo proferindo as suas famosas últimas palavras: "Dispara, cobarde, sólo vas a matar a un hombre.". Che foi assassinado a 9 de Outubro de 1967 e o seu carrasco não matou apenas um homem. Assassinou soezmente um ícone do Século XX que, manda a justiça reconhecer, morreu na Luta pela fé no evangelho que professava. O seu assassinato foi um duplo erro histórico: por um lado, rebaixou os seus captores (orquestrados pelos Americanos da CIA) ao calibre da "justiça revolucionária" ao arrepio do padrão civilizacional e, por outro lado, fez de Che Guevara um mártir ao invés de o deixar vagarosamente envelhecer numa galeria de decrépitos sacerdotes do Comunismo.

A história deveria ter confrontado Che Guevara com o colapso da Revolução, com as injustiças de uma redistribuição da riqueza que nada cria, com a omnipresença de um Estado que, à conta de uma suposta justiça social no controlo dos meios de produção, extrai dividendos de miséria, e com um sistema de partido único sem lugar para a pessoa humana que é a fonte e a razão da Liberdade. Em suma: a história deveria tê-lo confrontado com a utopia negra da qual foi icónico pregador e responsável de topo pelo cárcere tropical em que Cuba se tornou. Quis o seu fado que fosse imolado como uma lenda martirizada, e obscenamente comparado a um sacrifício Cristão, transformado no local da sua morte em Santo Ernesto de La Higuera ! Descoberta a relíquia dos seus ossos foram os mesmos trasladados para Cuba em 1998 onde Che goza, por enquanto, de culto oficial. Seja como for tem assegurada a sua parcela de eternidade acomodado entre ícones do séc. XX.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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