quinta-feira, março 29

cromos de antigamente

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Após a comoção Nacional com a caricatural eleição (!) de Salazar, - ironicamente a única eleição livre que disputou e venceu, embora a título póstumo -, os guardiães da cartilha historiográfica oficial, aquela que foi adoptada após a Revolução dos Cravos, cedo vieram ao prelo derramar a sua indignação. Tolhidos pela surpresa foram, no geral, incapazes de perceber que o resultado de um reality show pode ter tudo de idiossincrático mas não deixa de ser revelador do nível das audiências. Afinal de contas são as mesmas "audiências" do país real que, ora vocifera inanidades ao microfone do Fórum TSF, ora passa a turbamulta lançando cânticos de estádio ao despautério em dia de bola!

Contudo, no tresvario geral que varreu os opinion makers de piquete, ainda assim houve lugar a algumas lúcidas excepções. Entre essa escassa reserva de argúcia e seriedade destaco a exemplar crónica do Professor Medeiros Ferreira no DN. Acertadamente escreveu que é "de bom tom social e político não dar importância ao fenómeno de agregação à volta da figura histórica de Oliveira Salazar". Sendo certo que "o homem morreu, o seu regime caiu, e a sociedade aberta não toleraria qualquer repetição demasiado parecida", logo, "o melhor é encará-lo como uma relíquia de um passado ultrapassado.". Que é o mesmo que dizer que hoje Salazar tem o valor de um "cromo" de um Portugal cujos sinais apenas permanecem na Arquitectura do Estado Novo e no podium virtual de um concurso televisivo sem prémios! Seja como for, e como bem assinalou o Professor Medeiros Ferreira , este comeback de Salazar expõe o lamentável niilismo da Direita Portuguesa pois explicar "o ressurgimento do fascínio por Salazar" passa por aceitar como motivação próxima do fenómeno a actual "desorientação política da direita portuguesa.". Esta triste realidade é a incubadora na qual, sem darmos por isso, vamos mergulhando num regime de pensamento único cujo torpor poderá um dia minar a Democracia em que vivemos.

Contra isto é fácil objectar-se que a culpa é de Salazar mas essa conclusão é uma laracha que apenas faz sentido ao rebotalho saudosista do PREC. Na verdade, as causas do declínio da Pátria remontam ao infame regicídio de D. Carlos com a consequente implantação de uma I República que, ao arrepio dos postais ilustrados dos manuais escolares, quis impor-se pelo sabre de um regime autocrático e intolerante.

Posto isto o que fazer com este Salazar repescado em pleno Séc. XXI? A pergunta é retórica pois Salazar é hoje tão inane como uma colecção de "cromos" de antigamente que se revisita de quando em vez.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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