segunda-feira, março 5

Babel

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Será Babel um filme triste com um final feliz ? Esta fórmula, apesar de redutora, resulta da percepção cinéfila de que neste mundo cão apenas o amor filial nos pode salvar. Porém, o filme de Iñarritu é muito mais complexo do que aparenta, não se vergando a uma leitura linear a partir do epílogo. Tributário da Teoria do Caos, segundo a qual pequenos incidentes podem ter consequências explosivas e desproporcionais, a narrativa persegue essa indemonstrável causalidade, já com estatuto de mito moderno, que aceita o nexo causal do acaso que justifica, por exemplo, que uma borboleta bata as asas em Tokyo, et pour cause, provoque uma hecatombe em Nova York! Assim, o filme é uma urdidura de narrativas que se tocam numa cadeia de acontecimentos sem terem a percepção dessa relação de causalidade. Mas Babel é também um mosaico poderoso deste nosso mundo hiper mediatizado onde, paradoxalmente, vigora uma brutal disfunção comunicacional. Iñarritu retém no celulóide essa realidade e devolve-nos a mesma com eficaz violência. Iñarritu é, numa palavra, revolucionário! Efectivamente, nas lapidares palavras de Michel Houellebecq "só os revolucionários são pessoas capazes de assumir a brutalidade do mundo, e de lhe responder com uma brutalidade acrescida". Se Babel é ou não um film noir com o happy end possível é coisa que pouco importa pois, seja como for, é poderoso e brutal como só a grande arte é capaz de o ser. A ver no Cine Solmar ou na principal sala da Castello Lopes no ParqueAtlântico.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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