sábado, março 31
Esta semana deveria ter escrito...
Sobre como a exposição de Maria José Cavaco me fez regressar à infância e às brincadeiras nas latadas das quintas minhotas de Celorico de Basto (a única boa escolha de Marcelo)
Sobre como a revista "Carne", que será lançada logo à noite na Galeria/Bar Arco 8, apesar dos bons conteúdos ficou aquém das minhas expectativas...
Sobre o nº1 da edição portuguesa da conceituada revista espanhola NEO2, que me pareceu muita parra e pouca uva...
Sobre o facto de, por impulso, ter comprado a revista Visão só para saber "Como funciona a cabeça do David Lynch" ter guardado as seis páginas do assunto em causa e enfiado no caixote do lixo as restantes 164...
Sobre a entrevista de Jean-François Leroy no caderno P2 do Público de ontem e dizer o quanto concordo com muitas das suas ideias...
Sobre a escolha da RDP-A de " Mr Bean em Férias" para filme da semana em detrimento de "A Maldição da Flôr Dourada"...
Sobre o DVD "Extreme Animation" de Phil Mulloy e o quanto me diverti com o humor dos seus filmes sujos, ácidos e críticos...
Sobre a revisitação a "Roma" e as expectativas quanto a "Manhattan"
Sobre as novas da minha cidade e gritar bem alto POOOOOORTO....
Mas faltaram-me o tempo e as palavras.
Talvez volte a algum destes temas um dia destes.
sexta-feira, março 30
Desculpe, importa-se de repetir?!.
Foi há uns meses que lançámos, na União, a Página de Negócios da responsabilidade do Pedro Ferreira. Esse lançamento envolveu algumas preocupações de dentro e previsíveis críticas e avisos de fora. Os receios tinham a ver com a deontologia jornalística que impede, e bem, que as notícias sejam feitas a troco de dinheiro para o jornal ou para o jornalista. A vantagem tem a ver com o facto de grande parte da actividade que interessa às pessoas e é notícia emana das empresas e dos seus negócios. De que nos serve relatar as supostas notícias que nos são enviadas pelos gabinetes governamentais, em constante propaganda política, se vamos perdendo a vida que vai pulsando na iniciativa das empresas, designadamente aquela que tem a ver connosco como clientes, fornecedores, sócios ou empregados? (...)
Tomás Dentinho na edição de 29/03/07 do AO
quinta-feira, março 29
Reporter X *
* em colaboração fotográfica para o Suplemento de Cultura do AO de 27/03/07 coordenado por Mariana Matos
cromos de antigamente
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Após a comoção Nacional com a caricatural eleição (!) de Salazar, - ironicamente a única eleição livre que disputou e venceu, embora a título póstumo -, os guardiães da cartilha historiográfica oficial, aquela que foi adoptada após a Revolução dos Cravos, cedo vieram ao prelo derramar a sua indignação. Tolhidos pela surpresa foram, no geral, incapazes de perceber que o resultado de um reality show pode ter tudo de idiossincrático mas não deixa de ser revelador do nível das audiências. Afinal de contas são as mesmas "audiências" do país real que, ora vocifera inanidades ao microfone do Fórum TSF, ora passa a turbamulta lançando cânticos de estádio ao despautério em dia de bola!
Contudo, no tresvario geral que varreu os opinion makers de piquete, ainda assim houve lugar a algumas lúcidas excepções. Entre essa escassa reserva de argúcia e seriedade destaco a exemplar crónica do Professor Medeiros Ferreira no DN. Acertadamente escreveu que é "de bom tom social e político não dar importância ao fenómeno de agregação à volta da figura histórica de Oliveira Salazar". Sendo certo que "o homem morreu, o seu regime caiu, e a sociedade aberta não toleraria qualquer repetição demasiado parecida", logo, "o melhor é encará-lo como uma relíquia de um passado ultrapassado.". Que é o mesmo que dizer que hoje Salazar tem o valor de um "cromo" de um Portugal cujos sinais apenas permanecem na Arquitectura do Estado Novo e no podium virtual de um concurso televisivo sem prémios! Seja como for, e como bem assinalou o Professor Medeiros Ferreira , este comeback de Salazar expõe o lamentável niilismo da Direita Portuguesa pois explicar "o ressurgimento do fascínio por Salazar" passa por aceitar como motivação próxima do fenómeno a actual "desorientação política da direita portuguesa.". Esta triste realidade é a incubadora na qual, sem darmos por isso, vamos mergulhando num regime de pensamento único cujo torpor poderá um dia minar a Democracia em que vivemos.
Contra isto é fácil objectar-se que a culpa é de Salazar mas essa conclusão é uma laracha que apenas faz sentido ao rebotalho saudosista do PREC. Na verdade, as causas do declínio da Pátria remontam ao infame regicídio de D. Carlos com a consequente implantação de uma I República que, ao arrepio dos postais ilustrados dos manuais escolares, quis impor-se pelo sabre de um regime autocrático e intolerante.
Posto isto o que fazer com este Salazar repescado em pleno Séc. XXI? A pergunta é retórica pois Salazar é hoje tão inane como uma colecção de "cromos" de antigamente que se revisita de quando em vez.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
quarta-feira, março 28
coisas dos jornais
ROMA em Ponta Delgada.
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Com a habitual garantia de qualidade da Muu Produções inicia-se hoje um peculiar ciclo de cinema cruzando esta Arte com a realidade urbana e a arquitectura. Porventura as pontes entre estas criações do génio humano serão tão inconsequentes como uma enigmática gravura de Escher! Questão de somenos importância para quem gosta de cinema.
O cardápio cinéfilo deste ciclo é eclético quanto basta mas, inteligentemente, está emoldurado entre a arqueologia do passado e a ficção científica do futuro. Assim, congruentemente, este ciclo de cinema inicia-se com Roma de Federico Fellini e termina com Blade Runner de Ridley Scott. De permeio há lugar a outras obras-primas como Manhattan de Woody Allen e Metropolis de Fritz Lang, caldeadas, é certo, com algumas fitas francófonas cuja genialidade presumo ficar aquém das obras referenciadas.
"Cinema Cidade e Arquitectura" é pois o ciclo de cinema que hoje se inicia na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Roma em Ponta Delgada, a exibir hoje dia 28 de Março, é a sugestão que se oferece aos cinéfilos pela lente magistral de Fellini. De Roma, filme de 1972, diz-se que é um retrato poético e algo autobiográfico que vai conectando, sem "uma narrativa linear", fotogramas de uma cidade eterna cuja personagem principal é a própria cidade.
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A conferir mais logo, pelas 21 horas e 30 minutos, em sessão única, com entrada livre, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Espera-se que a projecção em DVD honre a qualidade deste evento.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
terça-feira, março 27
microondas
De modo que a contrariar uma temática requentada este vídeo representa aquilo que considero ser verdadeiramente remixed. Por mão desta Causa.
Ebit - O clip !...remixed
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Já aí está, pela mão amiga do Açores SA, a 2ª versão do super hiper mega fixe vídeo clip do Ebit! Quem fez a montagem teve a amabilidade de me endossar o convite para a 3ª edição do encontro de bloggers da Terceira. Agradeço a gentileza mas, como seria de esperar, a resposta só poderá ser: "Não Obrigado" (o que é o mesmo que também dizer "nem obrigado")! Aliás, depois de ver esta remix do vídeo fiquei com a certeza de que as alternativas que me restavam, acaso pisasse tal território, oscilavam entre o desterro no "ilhéu das cabras" ou a lide taurina numa das incontáveis touradas à corda. Apre...qual delas a pior ?
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
Portugal...Quo Vadis ?
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"Compreender como era o nosso país há trinta anos e como se situa nos tempos presentes, dando também perspectivas do seu futuro" é este o script traçado por António Barreto, sociólogo e investigador do Instituto de Ciências Sociais, para a produção da monumental série documental "Portugal, um retrato social" que estreia hoje no Canal 1 da RTP. Este ambicioso fresco televisivo do nosso Portugal terá emissão semanal, sempre às terças-feiras, e sempre após o Telejornal por volta das 21 horas (pelo fuso horário da metrópole), ou seja, pelas 20 horas dos Açores. "Portugal, um retrato social" é obra de um dos mais notáveis intelectuais Portugueses que levou dois anos a concluir esta adaptação televisiva de uma vida de trabalho académico. No primeiro episódio, "Gente Diferente", interrogamo-nos sobre quem somos, quantos somos e onde vivemos. Daí em diante seguem-se mais seis episódios: "Ganhar o Pão"; "Mudar de Vida"; "Nós e os Outros"; "Cidadãos"; "Igualdade e Conflito"; "Um País como os outros".
Depois disto asseveram-nos que não há como duvidar de que o Portugal de hoje tem diferenças abissais em relação ao de há 30 anos. Por exemplo : Depois da revolução dos cravos, uma das maiores revoluções ainda em curso entre nós é a dos "costumes". Sinal dessa realidade é dado por António Barreto quando em entrevista ao Público, depois do trabalho de campo realizado para o documentário, confessou estupefacto : "eu não sabia que em Portugal havia dezenas de discotecas que funcionam até às cinco da manhã para crianças dos 13 aos 16 anos. Não sabia que essa discotecas têm um limite de idade para cima: não se pode entrar com mais de 16 anos. Não sabia que centenas de pais, aflitos com a maneira de tratar com os filhos, vão para a porta das discotecas às cinco da manhã esperar as crianças?". São estes sinais do tempo que importa também perscrutar para reflectirmos, casuisticamente, se a dado momento há evolução ou retrocesso social. No cômputo geral a produção da série, em sintonia com o optimismo militante do politicamente correcto, conclui o óbvio : "A sociedade portuguesa é hoje aberta e plural.". Nesse caminho, como será Portugal daqui para o futuro ?
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Seja como for, à hora em que passam noutros canais novelas filmadas em São Miguel, mas com sotaque do Bairro Alto, estarei a ver este "Portugal, um retrato social" que estreia hoje às 20 horas no Canal 1 da RTP. A não perder.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
tubarãoesquilo
já está visível o novo projecto do Paulo Querido, a rede editorial TubarãoEsquilo, para acompanhar com muita atenção.
Dia Mundial do Teatro
CineClube
weekend postcards
segunda-feira, março 26
O que fazer com Salazar?
domingo, março 25
Grandes Portugueses - A Final
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Portugal está suspenso da grande final da mega sondagem popularucha patrocinada pelo Canal 1 da Televisão Estatal! Aos Portugueses foi lançado o desafio: "Quem é para si o maior português de sempre?" O rol surpreendente dos 10 finalistas é o seguinte:
D.AFONSO HENRIQUES
ÁLVARO CUNHAL
ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR
ARISTIDES DE SOUSA MENDES
FERNANDO PESSOA
INFANTE D.HENRIQUE
D.JOÃO II
CAMÕES
MARQUÊS DE POMBAL
VASCO DA GAMA
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Uma conclusão prévia importa reter: entre os dez finalistas não consta uma única alminha do Portugal hodierno e democrático, sugerindo que para os Portugueses de hoje o melhor de Portugal já era e que o melhor Português será, inevitavelmente, um Português morto! Como diria o inolvidável Jorge Luís Borges os Portugueses, a quem ele se reportava como "essa vaga gente", são "ténues como se nunca houvessem existido" e "fazem parte do tempo, da terra e do que é esquecido." Talvez por ser assim os Portugueses voltam-se inevitavelmente para o Portugal do passado. Logo, a final de hoje do concurso dos "Grandes Portugueses" será feita com fantasmas e quimeras de antanho. Creio até que teremos uma segunda volta com o poltergeist de Cunhal e uma surpreendente aparição de Salazar. Será que os Portugueses querem mesmo ressuscitar estes espectros
cavaquices
sábado, março 24
sexta-feira, março 23
BestOf:ILHAS+Party
+++ Carla Bruni + Devendra Banhart + Lambchop + Regina Spector + Cat Power + The Good, The Bad & The Queen + Final Fantasy + Arcade Fire + I'm From Barcelona + Morrisey + The Shins + Clap Your Hands Say Yeah + Sufjan Stevens + Camera Obscura + Jim Noir + My Morning Jacket + The Raconteurs + Cody Chesnutt + Donavon Frankenreiter + Jack Johnson + Sergio Mendes + Dolomite + Amy Winehouse + Scissor Sisters + Christina Aguilera + Prince + Mundo Secreto + Sleepy Brown + Kanye West + Lupe Fiasco + Pharrell + Snoop Dogg + Nas + Da Weasel + Justin Timberlake + Kudu + Buraka Som Sistema + White Rose Movement + She Wants revenge + Infadels + Cansei De Ser Sexy + The Pipettes + Cold War Kids + Noisettes + Bloc Party + Sonic Youth + Albert Hammond Jr + Oasis + The Kooks + The View + Beck + Koop + Zero 7 + Tracy Thorn + Feist + Corinne Bailey Rae + Junior Boys + Hot Chip + Fujiya Miyagi + Richard Dorfmeister + Madrid de los Austrias + Plant Life + Kylie Minogue + Gnarls Barkley + Trentmoller + Dj Shadow + Money Mark + Jazzanova +++
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atenciosamente JNAS
República das Bananas
«(...) actos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios políticos da região»
É esta a alternativa de rigor e contenção que preconizam para a Madeira!?
quinta-feira, março 22
Para Ler/Ver
2006 Vídeos da Colecção da Fundação PLMJ
Publicações Assírio & Alvim
Edição: Miguel Amado
Um olhar sobre a video-arte em Portugal.
Livro/Catálogo que nos mostra a colecção de Vídeo da Fundação PLMJ que pretende traçar uma panorâmica da produção da criação de video-arte nacional.
A publicação inclui um DVD com seis trabalhos inéditos, encomendados para o efeito a Adriana Molder, João Seguro, José Carlos Teixeira, Margarida Paiva, Pedro Barateiro e Rita Sobral Campos.
DN
quarta-feira, março 21
Dia Mundial da Poesia*
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928
*este post serviu dois intentos: assinalar o Dia Mundial da Poesia, da Árvore e 1º da Primavera, e censurar o post do João Nuno...
orla costeira
Reporter X
Os Açores, para quem nos visita ou pretende visitar, têm a sua imagem ligada a uma aura exótica, pelo facto de existir um lado idílico associado. Daí que, para a realização do Encontro de Bloggers, organizado pela MUU, as Furnas e o Terra Nostra Garden Hotel sejam, à partida, o local privilegiado para mostrar a quem nos visita aquilo que de melhor existe nestas ilhas - a natureza, o conforto e a hospitalidade.
Este encontro de carácter informal pretende afirmar-se com um formato anual e aproximar os que cá estão e quem lá escreve - na blogosfera e no continente português. Outra intenção inerente a esta realização prende-se com o tornar visível a denominada blogosfera regional, tornando-a conhecida em termos nacionais, para além de meramente linkada.
Mais do que saber da importância que possa ser atribuída aos blogs nas ilhas, convém para já esclarecer alguns equívocos presentes em quem não participa na visita diária destas páginas: estes não são lugares mal frequentados, nem predomina a maledicência - tudo preconceitos próprios de quem desconhece ou lida mal com a liberdade conferida aos blogues. É nessa perspectiva que os blogues podem ser uma mais valia; pelo seu carácter imediatista e genuíno, pela forma simplificada como se acede à informação, pela rápida difusão da mesma e como plataforma alargada da prática da cidadania participativa e participada.
A participação local (e regional) ainda não atingiu os níveis que se pretendem alcançar, mas a intenção é a de a pouco e pouco tornar comum o debate e a troca de experiências de quem bloga nas ilhas. Na minha perspectiva, os níveis de participação actual nos blogs são perfeitamente razoáveis e satisfatórios, tendo em conta o nível de participação cívica desta região. Aliás, quem participa são sempre os mesmos - dirão uns. Questiono: porque será que é sempre assim?!
* publicado na edição de 20/03/07 do AO
** Email Reporter X
*** Foto X Filipe Franco
terça-feira, março 20
Cães de Fila
«coacção física, violência verbal e agressão física»Nunca pensei estar em sintonia com a MJNP. Redireccionado daqui
Ebit - O clip !
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Em contraponto ao post elegíaco do Pedro Arruda ao EBIT não resisto a postar o vídeo-clip do encontro. Esta delícia kitsch aparentemente parece ter sido retirada do baú dos "tesourinhos deprimentes" da trupe do Gato Fedorento. Contudo, trata-se de um footage actual da vanguarda e elite de bloggers da Ilha Terceira já publicitada worldwide no YouTube. O clip, apesar de possidónio, tem a virtude de servir de comic relief embrulhado na voz inimitável desse grande "Serafim Saudade" da Ilha Terceira que gira sob o nome artístico de Carocho ! Este nome sonante do cançonetismo local empresta a sua maviosa voz ao hino dos bloguistas, cujo comovente refrão é ainda, por certo, trauteado pelos notáveis participantes no EBIT. Imagino-os no encontro, irmanados ao estilo da Internacional, a cantarem a uma só voz : "Somos bloguistas/ de par em par/ pontos de vista/ a navegar !".
Blogoarquipélago
segunda-feira, março 19
Alta Fidelidade
1º disco a solo de Tracey Thorn (a vocalista dos EbTG) já adicionado aos favoritos do :ILHAS. Som e imagem para tornar happy o ambiente de trabalho desta 2ªF.
CineClube
domingo, março 18
sábado, março 17
Reporter X
sexta-feira, março 16
13 de Setembro de 1923 - 16 de Março de 1993
«as telenovelas de produção nacional, pese a sua melhor ou pior qualidade, são a ocupação fútil do espaço televisivo pelo anedótico deste presente tão desmaiado e incaracterístico da vida portuguesa. Conta-se o que não há para contar, recheando o vazio com historietas tecidas pela vulgaridade»
Natália Correia em resposta a inquérito do Diário de Notícias, 4 de Setembro de 1983
quinta-feira, março 15
Droga a olho nu
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A mais recente Edição do Expresso das Nove dá notícia da réplica existente em Ponta Delgada da celebérrima DAM platz de Amesterdão. Como se sabe esta conhecida ágora, da cosmopolita e liberal cidade Holandesa, é uma das principais praças daquela cidade povoada por alegres hippies, sebentos rastas, e okupas meliantes, que ali se dedicam aos deleites da Cannabis Sativa L.
Nós por cá, temos o largo Mártires da Pátria sem, contudo, termos a presença dos ditos filhos do flower power e demais pandilha indigente. Inversamente, temos a triste cáfila de rosto patibular, profusamente decorada com piercings e porventura adornada com tattoos de duvidosa qualidade, que ali se dedica ao consumo e tráfico de estupefacientes. Infelizmente, creio que o mercado não se queda pela bagatelar dose de haxixe e antes se abeira também da heroína. Indícios dessa prática são por vezes perceptíveis, chegando o Correio dos Açores a noticiar que há "seringas com fartura às portas do Liceu".
Por razões de ordem pessoal, familiar e parental, também por ali passo diariamente e presencio com tristeza os ritos de caça que a fauna de traficantes de baixo calibre exerce quotidianamente com persistente zelo predatório. Exemplar e recorrentemente, por lá vegeta uma dessas alimárias, cujo fácies é facilmente identificável e a indumentária é sempre a mesma. Dúvidas não subsistem que o dito hominídeo compõe o seu rendimento com a venda de estupefacientes. Ainda assim, tira de quando em vez umas férias intermitentes mas, fatalmente, regressa ao local de trabalho. Contudo, presumo que os órgãos de investigação criminal, pelo excesso de suspeitos, tenham dificuldade em identificar a criatura.
A verdade é que naquele quintal da Escola Secundária Antero de Quental o caldinho de criminalidade permanece, o consumo é descarado, o tráfico para o interior da Escola uma realidade e até recentemente as cercanias do lado Sul do Liceu serviram de ringue improvisado a uma deplorável cena de espancamento de um jovem. Perante um escândalo destas proporções estranha-se a falta de eficácia das polícias na prevenção e repressão? Obviamente que sim! Até porque caso é que basta ter agentes da autoridade motivados e diligentes como o Comissário Rodrigues para limpar o lixo humano que por ali estaciona. Com efeito, das vezes em que este exemplar graduado da PSP foi chamado a intervir a sua acção foi local e cirurgicamente eficaz. Porém, não se pode esperar ter um Comissário Rodrigues em cada "crime scene" pois o homem não tem o dom da ubiquidade. Tem, contudo, o dom de honrar a comunidade que serve. Pena é que outros não lhe sigam o exemplo. Na verdade, se todos nós identificamos os focos de tráfico e consumo de estupefacientes, e se disso dão notícia os Jornais, porque razão não são os agentes da autoridade capazes de o fazer, reprimindo e detendo quem a tão sórdido negócio se dedica ? Afinal de contas, se a droga é ali transaccionada e até consumida a "olho nu", a detenção seria sempre caucionada com a garantia do "flagrante delito".
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
jazz.pt
quarta-feira, março 14
terça-feira, março 13
Agradecimentos
Ao Terra Nostra Garden Hotel, na pessoa do seu Director, Carlos Rodrigues, pelo apoio inestimável e por desde o inicio ter acreditado neste evento, a todo o staff, pela simpatia.
À Direcção Regional do Turismo, na pessoa da Dra. Isabel Barata, pelo imprescindível apoio, colaboração e incentivo.
À Assembleia Municipal da Povoação, na pessoa do seu Presidente Dr. José Manuel Bolieiro, pelo patrocínio e simpatia.
À SATA, pela colaboração.
À Globaleda, pelas máquinas e pela net.
Aos OCS e à Divulgação.
Ao Nuno "foguetabraze" Barata, "co-organizador" e elemento fundamental para a realização do evento.
Um agradecimento muito especial a todos os convidados e participantes que com a sua presença transformaram este Encontro de Bloggers 2.0 numa interessantíssima troca de experiências e num agradabilíssimo fim-de-semana de convívio: :ILHAS, Açores SA, Bicho Carpinteiro, Bomba Inteligente, Cowboy Cantor, Filipe Franco, Miss Pearls, O Boato, Pobre e Mal Agradecido, Rititi, Tapornumporco, Um Blogue Tipo Assim.
E também um agradecimento muito especial a todos os conjugês, apendices, consortes, namorados e namoradas, noivos, amigos, filhos e filhas, a todos por terem contribuido para uns fantásticos três dias.
Em nome da MUU-Produções e do blogue :ILHAS aqui ficam os nossos agradecimentos a todos os que contribuíram para que o Encontro de Bloggers 2.0 tivesse sido um sucesso. Para o ano há mais.
segunda-feira, março 12
Fervedouro
"As Furnas são o teatro das mais recentes revoluções, afirmava em 1857, um visitante estrangeiro (1); "A Sintra pitoresca de S. Miguel, com menos arte e mais natureza"! (2) Desde o momento em que foi descoberto, o vale das Furnas constitui-se no cenário privilegiado para a suscitação de visões estético-culturais. Ao "paraíso terreal" descrito por Gaspar Frutuoso, no século XVI, os frades eremitas opunham o seu "deserto" místico, e o século XVIII sobrepunha uma outra visão divergente: aos olhos dos viajantes naturalistas, este era o lugar mais pitoresco da ilha, enquanto que para o liberalismo classicizante dos autores portugueses era ainda "a Arcádia dos Açores" (3). Ao século XIX, no entanto, caberá a exploração mais fecunda da via do pitoresco, concretizado e categorizado em obras de paisagem.
A "Cintra de S. Miguel" - onde "aos Domingos os empregados públicos e comerciantes vão passar um agradável dia, e estrangeiro algum deixa de visitar" (4) -, não possuía estações arqueológicas, palácios reais, igrejas medievais ou quintas renascentistas. A sensibilidade apaixonada por este vale consome-se exclusivamente na "profusão imensa das variadas paisagens" que o tornam "pitoresco e romântico" (5)
É desta aliança entre o "aprazível" e o "assombroso", de contraste e variabilidade de "scenas amenas e grandiosas" (6), que nasce o sentimento do pitoresco, aqui sem evocações românticas do passado, sem idealizações arquitectónicas de gosto revivalista e sem a promoção de restauro de monumentos. As operações que tornam o vale das Furnas no "teatro das mais recentes revoluções", são a resultante colectiva de um olhar embevecido sobre a natureza. Neste sentido, muito mais do que a Sintra, são aos lagos e montanhas da Suíça que se vão buscar imagens homólogas. "O Vale, à primeira vista, parece estranhamente familiar pela sua parecença com muitos vales Suíços", comentava o professor Wyville Thomson, manifestando uma opinião muito difundida. Um certo "ar de família" com as paisagens alpestres, a que se alia "a riqueza da flora tropical", servirá de referência e suporte ao programa construtivo implementado no vale.
Foi em atenção às possibilidades pitorescas do vale, que Thomas Hickling havia construído, em finais de Setembro, o seu Tanque. Foi por causa dessse pitoresco, que alguns altos dignatários da corte se dirigiram ao vale para aí estanciarem na "estação calmosa", e que outros os imitaram, fazendo das Furnas a principal estância de veraneio dos Açores. "Vive-se um clima de progresso!", afirmava com entusiasmo Thomas Hickling Jr., em 1848, acrescentando com optimismo que "as Furnas fervilham de veraneantes e estão destinadas a serem uma estância importante para estrangeiros"(7)"
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Isabel Soares de Albergaria
"Quintas, Jardins e Parques da Ilha de São Miguel"
Quetzal Editores - 2000
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Notas :
1Artur Morelet, Iles Açores. 1860, p. 29
2Emídio da Silva, depois de tecer elogios ao vale das Furnas, compara-o a Sintra dizendo que "se Cintra lhe sobreleva muito em arte, fica-lhe aquém em belezas naturais".
3Cf. Sena Freitas.
4Guilherme Read Cabral.
5Assim lhe chama Sena Freitas.
6Sena Freitas
7Carta de Thomas Hickling Jr., "Insulana", Vol XX, n.º 2 (1995), pp 193-194
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
domingo, março 11
Madrid me mata
....porque íbamos todos en ese tren.
LUSITANIA EXPRESSO
A primeira vez que saí sozinho
de Portugal
senti em Atocha um chão seguro sob os pés.
O andén número 2
onde encostava o comboio proveniente de Santa Apolónia
tinha a dignidade par
das chegadas internacionais.
Madrid, ainda mal desperta da noite franquista
recebia-nos envolta no fumo matinal dos churros fritos
dos Ducados
acesos
a seguir ao mata bicho
com um carajillo de conhaque
Osborne.
A velha estação de Atocha
e o seu perfume a classe operária
anunciava aos forasteiros
que havia outras Espanhas para além dos filmes da Marisol.
Tudo isto se passou há algum tempo
mas já então o homem fardado
de "ABC" aberto
sobre o balcão das bagagens
recusou-se a receber a minha mochila
para eu desfrutar
com outra leveza
Francisco Goya y Lucientes
nas galerias do Prado.
ETA, no
disse ele
por palavras e gestos
que não me atrevi a contestar.
Anteontem ao acordar
os "Desastres" de Goya apareceram-me de novo
em directo no Euronews:
corpos desmembrados por força da miséria humana
e o sangue vermelho da Espanha de Arrabal
espalhado sobre os carris
reluzindo ao sol frio das primeiras horas da manhã.
Lembrei-me das cores da movida
e de como a alegria se tornou um serviço público
decretado pelo Alcaide Tierno Galván.
Madrid me mata
mote dessa cidade em festa
ecoa hoje de forma macabra na memória de quem por lá andou.
Recordei o calor ruidoso dos tascos da glorieta
aquele perpétuo movimento
das chegadas e partidas
as rubias de voz rouca
e rabos de cavalo
com perfume a Heno de Pravia.
Não há bomba que dê cabo do salero
eu sei
mas é uma porra
que a fronteira dessa antiga guerra
tenha rebentado outra vez pelas costuras
logo no centro geométrico da Península.
E eu para aqui tão longe
no meio do mar
sem comboio que me leve
de volta ao princípio.
De volta à cama
desfeita
e ao teu corpo morno
por momentos
em Atocha.
Encontro de Bloggers 2.0
9, 10 ,11 de Março 2007
O anonimato - Caixas de comentários: porquê? - Os Blogues unem ou separam as pessoas? - O que sofre o apêndice do blogue - Tem que haver regras? - Critério? Critérios? Anarquia? - A quem interessam os blogues actualmente. Quem os visita? - Os blogues são só lidos por bloggers? - Template or not to template? - Que blogues lemos? - O que é que lhe deu para criar um blogue - Ser estrela blogger - Blogues de referência - Causas blogoesféricas - Blogues portugueses: a relação com a imprensa; criação de uma arena; luta pela atenção e relevância; linhas de fractura ideológica - relação entre institucionalização e liberdade - O ritmo de criação dos blogues, atingir o auge - Os blogues têm sexo? Se sim, isso interessa? - De quem são os blogues, dos autores ou dos frequentadores? - Que papel tem a vaidade nos blogues? - O que é que define um blogue de "referência"? O número de visitas? O estatuto social do autor? - É legitimo encher um blogue de tudo menos de texto? - A realidade traduz-se de forma pessoal - O que são os blogues agora - A longevidade na blogoesfera - As blogoesferas; Blogoarquipélago, Portugal, outros paises, outras línguas - Novos blogues - As plataformas dos jornais; os blogues do SOL - Mudar de blogue - Acabar o blogue - Blogues profissionais - Ganhar dinheiro - O Blogger no Google - A política nos blogues - O sexo nos blogues - As putas nos blogues...
sexta-feira, março 9
Personal hit list (*)
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Salvador Dali - Muchacha en la ventana (la hermana del artista), 1925.
via O Século Prodigioso.
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Bomba-Inteligente ; a empatia com este Blog de Carla Quevedo é imediata
A favor: um blog feminino com pergaminhos e qualidade capaz de rivalizar com qualquer membro do "Clube do Bolinha" ; uma colecção fabulosa de fotos de Divas com particular recidiva na Suprema Madonna ; a aficcion por séries culto, como por ex. Six Feet Under, com direito a resumo dos episódios ou destaque para os melhores momentos.
Contra: quase nada, excepto o espaço ocupado pelos clips do YouTube.
Chá Verde(Puro) ; entre nós desde Setembro de 2004 este Chá Verde do Guilherme Marinho é sempre vivificante.
A favor: a seriedade e a lisura do autor que, não despindo a camisola do seu clube, é capaz de participar com fair-play na lide blogoesférica ; as sugestões melómanas e literárias ; a defesa ponderada mas intransigente da causa autonómica.
Contra: pouca coisa, excepto os posts recorrentes sob temas de Direito comparado relativos a experiências autonómicas na vizinha Espanha profusamente enriquecidos com prosa em Castelhano!
Combustões: sob a divisa "Livre, sem lóbi, seita, loja, templo e partido", Miguel Castelo Branco alimenta aquele que é um dos melhores blogs individuais de Portugal.
A favor: tudo! Uma erudição que exorbita da mediania e uma escrita que honra o melhor que há na nossa tradição Camiliana e Queiroziana ; uma crítica implacável e impenitente da actual República ; um blog assumidamente de Direita ;
Contra: a inexistência de uma caixa de comentários para a habitual refrega do confronto ideológico; a postagem de imperceptíveis vídeos do YouTube com obscuras aves canoras de natureza germanófila;
E Deus criou a mulher; Promete Miguel Marujo "Horas de contemplação Até que a vista nos doa", o que não passa de publicidade enganosa, pois o portfolio enche o olho mas é incapaz de causar qualquer dano na retina.
A favor: um blog integralmente dedicado ao eterno feminino embrulhado num formato de irrepreensível bom gosto a consumir sem moderação
Contra: a quase absoluta inexistência de "produto nacional" e uma obsessão Scarlett Johansson
Fôguetabraze : é um must da blogoesfera regional e uma visita diária obrigatória. O seu autor Nuno Barata Almeida Sousa, um auto intitulado "Especialista em generalidades", é um decano da blogoesfera Açoriana.
A favor: regularidade das actualizações; qualidade das fotografias da autoria do blogger; antecipação de alguns furos jornalísticos; particularmente incisivo em matérias de natureza económica.
Contra: repentismo do autor ; assumido desprezo pela correcção ortográfica e rigor de sintaxe; desmedidos excessos de linguagem descontextualizados ou desnecessários.
Misantropo Enjaulado: entretanto em estado comatoso foi, durante a sua existência, um blog de visita diária obrigatória pela lucidez da intervenção política, pelo elevado coturno da prosa, e pelos postais de pin ups escolhidas a dedo.
A favor: a erudição de Paulo Cunha Porto rivalizou com a de Miguel Castelo Branco do Combustões; o facto de pela turba da "esquerdalha" ser considerado um antro "reaccionário", a urbanidade do autor e a sua interactividade na caixa de comments;
Contra: o decalque do seriado "early morning blogs" do Abrupto e a recorrente escolha de pintura naíf para ilustração postal.
O Século Prodigioso; é um dos melhores acervos blogoesféricos das artes plásticas no Sec. XX.
A favor: a qualidade das reproduções que são publicadas e a variedade de artistas que integram este museu virtual
Contra: a secção de arte naif só superada em mau gosto por alguns exemplares de arte africana e brasileira dita contemporânea
Sine Die : em nota de manifesto editorial os fundadores justificam a criação do sine die com a certeza de que o "espaço público português está cada vez mais reduzido, mais condicionado, logo, mais pobre e menos democrático." A presença do sine die nos debates pela cidadania tem enriquecido quem os lê.
A favor: um blog colectivo que por deformação profissional dos seus autores tem por timbre postar uma opinião sólida e bem fundamentada
Contra: grafismo pobre.
Um blog tipo assim : é herdeiro dos malogrados não m´acredito e da sala de fumo. O blog está à conta de André Bradford que não omite o seu assumido alinhamento pelo PS/Açores e pelo Sport Lisboa e Benfica.
A favor: uma primorosa jukebox regularmente actualizada ; grafismo do blog ; quando motivado, politica ou pessoalmente, é mordaz q.b.
Contra: sectarismo político partidário que por vezes resvala para uma espécie de boletim de propaganda das virtudes do PS ao estilo da Acção Socialista ; o SLB.
Tapornumporco : porventura o melhor blog colectivo do panorama Nacional...(continental)
A favor: uma linha assumidamente iconoclasta mas erudita; grande variedade de temáticas; uma escrita rigorosa cujo consumo é um regalo;
Contra: o anonimato dos escribas de serviço que se desdobram em várias identidades secretas; uma mini série intragável sobre a Crise Académica na Academia de Coimbra.
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(*) por ordem alfabética
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
:agenda
quinta-feira, março 8
"Perfeito Ectomorfo" !
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À conta de uma bursite olecraniana tenho andado arredado da dedicação que exige o meu "Fight Club". Evitando desde já uma leitura transviada devo esclarecer que a dita bursite nada tem de eslavo e, infelizmente, tem tudo de lesão desportiva. Em complemento, quase fisioterapeutico, dei por mim nessa penitencial ocupação que os modernos designam por "ginásio". Apesar de aguentar com estoicismo a bateria de exercícios do supliciante "ginásio", devo confessar que quando o treinador de serviço asseverou que eu era um "perfeito ectomorfo" (sic !) fiquei severamente apreensivo! Para ser sincero tal imputação pareceu-me até depreciativa. Lembrei-me que o rótulo em causa tinha algo de lombrosiano e lá cheguei à triste conclusão que o "mister" se reportava a um somatotipo responsável pelo nosso look ! Ou seja, um ectomorfo será sempre um espécimen magro e estreito, com baixa massa corporal, membros longílineos e estatura acima da média. Considerando que roço os 2 metros de altura o diagnóstico parecia-me grave pois, seria por certo, um grande ectomorfo ! Contudo, tenho vindo a contrariar esta pena da natureza ganhando alguma massa, o que é até inevitável à medida que nos abeiramos dos quarenta. Seja como for, depois de nados e criados, nada podemos fazer para interromper voluntariamente a nossa natureza.
Mas, ainda assim, acaso fosse crente dos dogmas da psicologia valer-me-ia a tipologia de Kretschmer que faz corresponder ao tipo ectomórfico a misantropia combinada com uma queda para sentimentos profundos e duráveis ! Como não alinho nessas obscuras patranhas dos discípulos de Freud e Jung, nem no fatalismo morfológico de Kretschmer, vou continuar a ir ao "ginásio" apesar de isso não me transformar num perfeito mesomorfo !
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
quarta-feira, março 7
Top of the Pops
Honra aos vencidos, meu caro Vitor. Procurei, debalde, a perturbante Isabela Rosselini, mas saiu-me na rifa o Bobby Vinton que, vendo bem as coisas, até fica muito ton sur ton com o cinquentanário da provecta Rádio Televisão Portuguesa. E por falar em tons, se bem me lembro, nos meus tempos de menino e moço, o Chelsea F.C. equipava de vermelho e a única coisa parecida com uma estrela no seu plantel chamava-se Peter Osgood. Mas, se calhar, sou daltónico sem o saber, ou então apanhei-os a jogar com o equipamento alternativo. Isto das cores tem muito que se lhe diga, sobretudo o azul, cuja geometria variável pode ser testemunhada pelos adeptos do Belenenses, isto para não falar do Chelsea de Londongard. Concluindo: o azul tem destes blues.
P.S. Keep the sporting spirit.
UMA VISÃO DO PASSADO (do site da RTP)
1957, Março, dia 7, uma quinta-feira, 21 horas e 30 minutos. O genérico e logótipo da RTP entram "no ar" acompanhados de uma marcha que, apesar de não ter sido composta originalmente para a RTP, acabaria por ficar. Maria Helena Varela Santos dava então o seu "Boa noite, senhores espectadores", e a partir daí a vida da RTP e da televisão em Portugal começavam a ser contadas.
UMA VISÃO DO PRESENTE (do site SOUND&VISION - texto de João Lopes)
http://sound--vision.blogspot.com/2007/02/uma-cultura-de-restos.html
E O FUTURO ? (do site irrealTV - texto de Rui Cádima)
http://irrealtv.blogspot.com/2007/03/20570307.html