domingo, fevereiro 12

Sentado à mesa #5



Pastéis de nata made in Azores


Estava outro dia a ler uma carta escrita do Faial por John Bass Dabney, datada de 20 de Fevereiro de 1805, e veio-me à ideia recuperar o seriado gastronómico do coma letárgico em que se encontrava mergulhado há largos meses. É que o estimável Mr. Dabney confidenciava ao seu correspondente em Boston, Jesse Putman, que acontece muitas vezes que tudo o que está em cima da mesa seja avinagrado, com excepção dos pickles. Põem vinagre ou limão nos guisados, e até nas sopas. Fim de citação.

Aqui para nós que ninguém nos ouve, o americano tinha razão. Usa-se e abusa-se do vinagre à mesa açoriana mas, enfim, estava disposto a defender a dama da gastronomia insular (não que ela seja muito formosa) contra atacando com um post de doçaria conventual, quando leio nas páginas do Expresso uma entrevista ao Ernâni Lopes, pessoa que sempre me fez arrebitar as orelhas, na qual o senhor explica, a respeito do sucesso dos pastéis de nata portugueses na Ásia (não é metáfora, juro), que a dimensão deixou de ser decisiva para a competitividade das empresas e que um dos elementos decisivos passou a ser, pasme-se, o conceito.

Assim de repente, lembrei-me logo de dois ou três putativos pastéis de nata açorianos, mas não vou ter a imodéstia de os referir. Cada um que faça o tempero a seu gosto. Escusado será dizer que não proponho a venda do cozido das Furnas no mercado asiático, ou coisa do género, mas que a economia açoriana está desidratada de conceitos, lá isso está.

Vitória, vitória, acabou-se a história.

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