Um ano depois da Cimeira das Lajes não retiro uma vírgula do que escrevi a propósito do número especial da : Ilhas, editado a propósito do referido meeting entre os homens da coligação.
Hoje, especialmente depois do volte de face Espanhol, talvez seria ainda mais cáustico. Aqui fica um registo dissidente do mainstream bem pensante e politicamente correcto da maioria dos leitores do blog e da revista.
« A cimeira das Lajes internacionalizou, em termos mediáticos, a importância geo-estratégica dos Açores e forneceu-nos a ilusão de paridade com as grandes potências. Ao arrepio do isolacionismo do eixo franco germânico, Portugal, por força da liderança do seu Primeiro Ministro, teve a oportunidade de emergir no tabuleiro do xadrez diplomático internacional como se de uma peça essencial se tratasse.
Efectivamente, Portugal e Espanha projectaram internacionalmente a sua imagem e mostraram que a América pode , pelo menos em parte, confiar em alguns dos seus Aliados Europeus. É certo que a estratégia Ibérica não é altruísta. Todavia, se é hoje inequívoco que a América não precisa da Europa o inverso já não parece verosímil. Na verdade, isolar os Estados Unidos é má política quando, nos quintais desta Europa, somos forçados a estender a mão ao apoio do Tio Sam para dirimir as nossas escaramuças regionais. Porém, nesta nova ordem internacional pós 11 de Setembro, a América não voltará a estender a sua mão aos «aliados» que egoísta e desavergonhadamente voltaram as costas a Washington. De agora em diante, a Europa deve estar consciente de que terá que cuidar sozinha da sua defesa estratégica e, sarar os focos de conflitos regionais que encerram em si potencialidades de maior risco. Para os mais esquecidos basta evocar o contágio belicista com origem nos distantes Balcãs e o triste exemplo de Sarajevo.
Nesta perspectiva globalizante em que as únicas duas superpotências são a América e a opinião pública, é certo que quando aquelas se encontram em oposição, não é fácil militar na esfera de influência norte americana. Todavia, foi a opção corajosa tomada pelos executivos de Portugal e Espanha cuja consequência mediática mais louvável foi enrouquecer a esquerda saudosa do flower power e do Maio de 68. Efectivamente, a habitual turba à la gauche desceu às ruas da Europa em manif´s pela paz sem que, contudo, perceba que está cada vez mais burguesa e que a liberdade de que goza deve-a, em parte, ao odioso americano. Ora, é por via desta hostilidade europeia que os Estados Unidos se tornaram isolacionistas. Para os Americanos a Europa é, cada vez mais, uma figura de estilo e em termos políticos não passa de um agregado de potências regionais. Daí que se perceba que para a política norte americana o eixo franco germânico tem a dimensão irrelevante de uma aliança regional. Logo, neste contexto, sendo Portugal um Estado Liliputiano ainda assim conseguiu marcar presença num momento que o futuro poderá vir a demonstrar ter sido preponderante, por exemplo, para a sobrevivência da NATO.
Quanto à Guerra é manifesto que a mesma surge como uma consequência da perda de autoridade e prestígio da ONU, que tem mostrado, com total inépcia, ser incapaz de impor e executar as suas decisões. Aliás, que crédito nos merece uma organização que recentemente teve a Líbia a presidir à Comissão dos Direitos do Homem e o Iraque à Conferência de Desarmamento ? Todavia, após o armistício não é cogitável que o espaço geográfico do que é hoje o Iraque se revele o berço de uma nação Islâmica com sólidos fundamentos democráticos. Importa não esquecer que esta guerra tem motivações essencialmente geo-estratégicas e não é crível que se forje uma democracia à força da bomba. Porém, numa lógica utilitária, acredito que, nem mesmo aos prestimosos pacifistas de serviço à esquerda, Saddam deixe saudades. Por outro lado, acreditar que seja possível ocidentalizar e democratizar o Iraque é pura fantasia. Não nos esqueçamos que esta é também uma guerra de civilizações e cada vez mais a escola do relativismo cultural tem vindo a perder adeptos. »
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