Apesar de tudo, não podemos esquecer que a realidade pode ser, também, aquilo que aparenta ser.
foto daqui
Não quero com isto iniciar uma discussão filosófica mas, para o comum dos mortais, tal como eu, a realidade salta à vista, entra-nos pelos ouvidos e é graciosamente trespassada, depois de caridosamente complementada pela nossa infindável capacidade de conjecturar.
No turismo, como em tantas outras áreas, temos que ser criativos e atender fortemente ao que as pessoas de nós esperam, considerando a capacidade de carga do nosso “habitat natural”, a sustentabilidade das mais variadas operações, a criação de riqueza e a consolidação e especialização da nossa mão-de-obra (tudo coisas muito mais compatíveis do que se possa julgar) mas, sobretudo, temos que ser capazes de superar as expectativas de quem procura os Açores.
Por tudo isto, importa perguntar se não haveria lugar para uma outra maravilha açoriana e, tentado a responder que essa outra maravilha é um vale (encantado), questiono-me porque razão não terá sido ela (maravilha) sequer seleccionada.
Entendo que seja difícil para nós açorianos impor, seja que critério for, neste tabuleiro global mas, se isso puder vir a fazer a diferença, no que ao respectivo retorno diz respeito, então, devemos sempre fazer um esforço maior por vermos melhor defendidos os nossos interesses.
Numa época relativamente conturbada, acredito que seja mais fácil – como numa tentativa frívola de evitar o desconforto do risco – agarrarmo-nos a algo já bastante visto (talvez o maior ícone da “vertente contemplativa” do nosso produto turístico), mesmo que daí resulte a desconcertante exibição da nossa incapacidade de cumprir, entretanto, com os 7 mandamentos deste maravilhoso processo (basta comparar fotos), ignorando por completo, ainda, o exemplo acabado do majestoso, bem enquadrado e relativamente luxuoso mas, inoperacional “Monte Palace”.
Quero acreditar que o objectivo foi despertar consciências e, eventualmente, investidores. As primeiras, para o resultado das práticas desastrosas ligadas à forte exploração pecuária, que urge corrigir. Os segundos, para o potencial de um lugar que, ao nível das infraestruturas, pouco ou nada tem e necessita de encontrar uma forma de criar e reter riqueza.
Por outro lado, o nosso vale, quiçá, agora, desencantado, enquanto outros deram o Douro ao bandido, perdeu uma oportunidade de ver reconhecida a sua beleza e a sua considerável multiplicidade de valências, que lhe atribuem, talvez, um dos papéis mais importantes na afirmação dos Açores como um “Santuário do meio do Atlântico”.
A indiferença com a qual este idílico vale – onde até a chuva tem outro encanto – foi tratado, privou os Açores de se mostrarem a mais pessoas, como um destino belo mas dinâmico. Foi ignorada a sua tradição termal centenária. Ficaram esquecidos ainda os seus também centenários jardins (dos quais, um entre os 12 mais bonitos jardins do mundo). Foi-lhe subtraído the best golf course in Spain & Portugal. Foi limpo do palato um dos mais emblemáticos exemplos da gastronomia açoriana e, para encurtar razões, parece que foram caladas todas as suas gentes e tapadas todas as suas fumarolas.
Contando que os Açores não expludam por causa do parágrafo anterior, ficamos “entre a espada e a parede”, sem que, eventualmente, nos tenhamos dado conta, pois, são tantas e tão fáceis as vezes com que falamos de sustentabilidade e de capacidade de carga e, agora, entregamos de bandeja o frágil e debilitado espécimen. Espero sinceramente que tal sirva para permitir conjugar esforços para conseguirmos receber mais turistas e, ao mesmo tempo, possamos ampliar a dimensão do seu envolvimento com a nossa natureza.
É público que a região investiu (e bem, digo eu) 1,5 milhões de euros no 11 de Setembro açoriano (por sinal, bem melhor do que o americano) e daí se espera, portanto, o desejado retorno. É coisa para dizer também que, se tivéssemos investido 4 milhões, por exemplo, o resultado que se podia esperar era, com toda a certeza (teria que ser!), muito melhor.
Porém, à espera dos resultados positivos, não nos podemos deixar adormecer, porque, já sabem: se o “payback” deste investimento demorar, a culpa será nossa, sempre e só nossa.
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