quinta-feira, setembro 23

ANIMA-nos

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A nossa terra sempre foi campo fértil para falsos moralistas que nela lavram inflamadas odes aos bons costumes. Regra geral, no seu ofício e na sua vida privada, não seguem o evangelho que publicamente pregam com tanto fervor. Mas esse, também, é um pecado original de uma certa elite que se arroga como a derradeira reserva moral dos Açores. Sazonalmente passou a estar na moda, tão trendy e chique como um adorno de lapela, desdenhar com altivez as Noites de Verão que a Câmara Municipal e o Anima têm reeditado todos os anos com indiscutível participação popular. Por também marcarem a agenda do Verão Micaelense não escaparam a mais uma diatribe na rentrée do Presidente do Governo Regional que, entre outras, opinou que "não é com tascas que sujam o Campo de S. Francisco que se faz a promoção externa da Região".Certamente que há quem prefira, respeitavelmente aliás, os percebes e a "cava" borbulhante do galego das Portas do Mar ao prato de tremoço com imperial à regional do Campo de São Francisco. Também há quem prefira evitar o convívio popular optando pela coutada reservada da festa à porta fechada das 7 Maravilhas, à qual o Povo só teve a graça de aceder pela televisão que garantiu assim os 15 minutos de fama da "nomenklatura" da rosa. Sobre este apartheid social da nova autonomia que dizem as nossas penas moralistas? Naturalmente, nada ! Será que uma comenda, uma sinecura, uma prebenda ou um simples convite com livre-trânsito para a corte do regime, é quanto basta para lhes comprar o silêncio ou, pior ainda, para lhes corromper a consciência ? Tudo isto claro está é uma questão de gosto que não se discute. Respeita-se e lamenta-se. Não nos parece é ser honesto lançar o vitupério do "populismo" sobre as Noites de Verão quando o que se sabe é que "os populares" vão ao campo de São Francisco com redobrado gosto. Nem nos parecem genuínas as dores beatas de quem naquele campo vê apenas um santuário de devoção espiritual e retiro metafísico somente compatível com um rally-paper Anteriano. Será que o campo apenas é "santo", ou merece lauda literária, quando está devoluto o resto do ano? Dito isto manda a mesma honestidade intelectual aceitar que é necessário fazer mais e melhor pois só defende o contrário quem vive no país das maravilhas e no delírio do superávit. Quanto ao estafado argumento da dita "concorrência desleal" manda o rigor dos factos que se diga que se trata de conceito jurídico cujo uso ligeiro se repudia. A verdade é que os quiosques instalados no campo de São Francisco foram objecto de concurso público cujos concorrentes até se apresentaram em parceria com outros empresários da restauração, inclusivamente, com estabelecimento montado nas Portas do Mar. Todos os equipamentos foram vistoriados por entidades públicas e os responsáveis pela sua exploração foram registados e sindicados pela fazenda e segurança social com quem, aliás, tinham as suas contas em dia. Foram estabelecidas parcerias com sponsors -(Coca-Cola e Sagres)- que permitiram viabilizar um investimento sustentável. Finalmente, mas não menos relevante, privilegiou-se as actuações musicais de grupos locais e regionais. Estes num total de 59 superaram em muito as 9 actuações de bandas de outros quadrantes. Num dos poucos espaços públicos inter-geracionais foi possível o convívio entre todos, sem registo de problemas de segurança que, no domínio pessoal, até foi reforçada com turnos da Polícia Municipal. Anima-nos a certeza de que há sempre a possibilidade de no próximo ano se fazer melhor do que se fez neste. Com esse ânimo, sem a presunção da obra acabada, estamos certos de que a próxima edição das Noites de Verão será ainda mais popular.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

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